OUSADIA O trabalho de divulgação do legado de Lygia Clark é urgente devido à importância dessa produção na história da arte. Entre outras ações, ela foi uma das fundadoras do Grupo Frente, em 1954, dedicando-se ao estudo do espaço e da materialidade do ritmo. A pesquisa deu origem a outras batizadas de 'Superfícies moduladas' (1955–57) e 'Planos em superfície modulada' (1957–58).
Nas séries, a artista desloca a pintura para longe do espaço claustrofóbico da moldura. A intenção foi revelar como cada figura geométrica se projeta para além dos limites do suporte, ampliando a extensão das suas áreas. A partir daí ela consolidou a pesquisa plástica, que teve, entre outros fatos relevantes, a participação, em 1959, na 1ª Exposição de Arte Neoconcreta, quando assinou o Manifesto Neoconcreto.
Com o tempo, as obras de Lygia Clark parecem querer ganhar o espaço na construção de outros suportes para os objetivos e na produção, por exemplo, da série 'Casulos'. São obras em metal, que já sinalizam a possibilidade de modificação com recursos das dobras. Pouco depois, começou a deixar de lado a matéria dura para trabalhar com materiais flexíveis, dando origem ao que chamou de 'Obra mole' (1964).
A trajetória de Lygia Clark tomou novos rumos quando, em 1972, ela foi convidada a ministrar um curso sobre comunicação gestual na Sorbonne, na França. As aulas se transformaram em experiências coletivas inspiradas na manipulação do sentidos. A partir de 1981, ela reduziu pouco a pouco suas atividades.
O site que a UFMG planeja lançar deverá ser um importante aliado para o resgate da produção visual da artista. Thaís Pimentel considera a missão instigante pelas reflexões que sugere. “Ela não tinha muito a pretensão de ser uma artista consagrada”, diz. “Para ela, a obra valeria o quanto vale. Ela lidava com uma proposição de fazer arte num ambiente que não era aquele que soleniza a arte. Era muito ousada em suas proposições. Tenho enorme respeito pela sua produção. Nosso compromisso tem de ser o de cuidar desse acervo.”