Livro sobre caso Aracelli abre reedições da obra de José Louzeiro

'Aracelli, meu amor' é primeiro de cinco relançamentos do jornalista investigativo autor de volumes sobre crimes que chocaram o país, como os de Pixote e Lúcio Flávio

por Agência Estado 14/02/2013 12:20

Bruna Castelo Branco/Divulgação
Aos 81 anos e com 51 livros publicados, Louzeiro ainda está na ativa (foto: Bruna Castelo Branco/Divulgação)
Há quase 40 anos uma menina de 9 anos foi encontrada morta nos fundos do Hospital Infantil de Vitória, Espírito Santo. Tinha marcas de abuso sexual e um ácido corrosivo havia sido jogado sobre seu corpo para dificultar sua identificação. O caso de Aracelli Cabrera Sanches Crespo, assassinada em 18 de maio de 1973, comoveu o jornalista maranhense José Louzeiro, repórter de polícia por mais de duas décadas e autor do livro que denunciou duas das famílias mais poderosas do Espírito Santo por envolvimento no crime. Ele conta a história no livro 'Aracelli, meu amor', primeiro dos títulos de Louzeiro que a Editora Prumo coloca no mercado, anunciando a republicação de parte de sua obra.

Aos 81 anos, o escritor comemora também o lançamento de seu mais recente livro, 'Lições de amor' (Universo dos Livros/UFMA), homenagem à professora Maria Freitas, que o incentivou a ler na infância. Sem a mestra de Geografia do Colégio São Luiz, talvez Louzeiro não viesse a escrever histórias de denúncia como as de Pixote e Lúcio Flávio, ambas filmadas pelo cineasta Hector Babenco - em 1977 e 1981, respectivamente.

 

Louzeiro estreou como escritor aos 26 anos com um livro de contos, 'Depois da luta'. Alguns dos crimes mais escabrosos cometidos no Brasil seriam investigados pelo repórter e igualmente transformados em livro. Ainda este ano a Prumo lança 'Os amores da pantera', inspirado no assassinato da socialite mineira Ângela Diniz por seu amante Doca Street, em 1975.

EM.com/Reprodução
Aracelli foi morta aos 9 anos (foto: EM.com/Reprodução)
No próximo ano, a editora publica mais três polêmicos livros de Louzeiro, que chegou a ser ameaçado de morte várias vezes por defender marginalizados e acusar poderosos. Maior nome brasileiro do romance-reportagem, gênero criado em 1966 pelo norte-americano Truman Capote ('A sangue frio') e reinventado por Louzeiro, o autor revê (em 'Anjo da fidelidade') a história de Gregório Fortunato (1900-1962), o guarda-costas de Getúlio Vargas acusado de encomendar o atentado contra Carlos Lacerda na Rua Tonelero, em 1954, livrando-o da pecha de corrupto e assassino.

 

Outro livro a ser lançado (em 2014) é 'Em carne viva', sobre Stuart Angel (1944-1971), integrante da luta armada e filho da estilista Zuzu Angel, desaparecido durante a ditadura. O terceiro título do próximo ano é 'O estrangulador da Lapa', sobre um maníaco sexual obcecado por mulheres bonitas.

Autor de 51 livros e 10 roteiros para o cinema, José Louzeiro sempre esteve na linha de frente da reportagem policial, em confronto direto com o poder constituído por suas denúncias de corrupção e abusos contra presos - das quais a mais vigorosa é 'Lúcio Flávio, o passageiro da agonia'.

 

Editora Prumo/Divulgação
(foto: Editora Prumo/Divulgação)
O livro conta a história do assaltante de bancos Lúcio Flávio Vilar Lyrio (1944-1975) que durante o regime militar, época da criação do grupo de extermínio Esquadrão da Morte, é preso, torturado e depois morto a facadas por um companheiro de cela, em 1975.

 

Entre os filmes baseados em livros seus, é o preferido de Louzeiro. Ele o reescreveu depois da adaptação, reincorporando três capítulos suprimidos a fim de passar pela censura militar nos anos 1970. “Lúcio Flávio era muito pobre, veio ao mundo para indignar”, diz o escritor, definindo o filho do ex-cabo eleitoral de Juscelino Kubitschek como “um grande desenhista, uma pessoa séria e digna”.

 

'Aracelli, meu amor'

De José Louzeiro. Editora Prumo, 232 p. Preço médio: R$ 29.

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