Trinta anos depois de inaugurar um nicho de inquietação na literatura brasileira, Marcelo Rubens Paiva reflete sobre estagnação e as quebras da normalidade em relacionamentos com seu recém-lançado As verdades que ela não diz. A estreia do autor aconteceu há três decadas com o romance Feliz ano velho, que destrinchava com crueza os pormenores da adaptação de Paiva — então com 23 anos — à condição de tetraplégico. Agora, são justamente as dificuldades da manutenção de situações mais tranquilas como namoros e casamentos que entram na berlinda sarcástica do escritor.
Carreira
A dureza de palavras e fuga de apelos sentimentalóides na construção de Feliz ano velho garantiu aclamação da crítica e abriu espaço para escritores com ambições semelhantes em seus textos: a revelação de pretensões e ambiguidades ideológicas relacionadas à geração "sem objetivos" no Brasil. Desde então Marcelo explorou outras tantas expressões em texto, com incursões em ficções como a científica Blecaute e a dramática Malu de bicicleta, ou mergulhos no teatro com E aí, comeu?, 525 linhas e No retrovisor, entre outras peças.
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Contos e crônicas como os que formam As verdades... são apenas o recurso mais recorrente nos anos recentes da carreira do autor. As inconstâncias que surgem dos encontros entre homens e mulheres, ou até mesmo as traições que pontuam o transcorrer de amizades sem envolvimento sexual, ganham pitadas de erotismo e sarcasmo característicos de Paiva em todas as suas formas.
As verdades que ela não diz
Editora Foz | 192 págs. | R$ 35