Batizado com o nome da região de sua família, Caravaggio não teve vida fácil

Pintor andava malvestido e era briguento

por Sérgio Rodrigo Reis 19/05/2012 11:34

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Coleção privada/Divulgação
Medusa Murtola (1597), de Caravaggio, uma das obras de autenticidade recém-reconhecida que serão mostradas pela primeira vez ao público (foto: Coleção privada/Divulgação)

 

Michelangelo Merisi, tempos depois conhecido como Caravaggio por causa do nome da região de origem da família, nasceu em Milão, possivelmente em 29 de setembro de 1571. Era o primeiro dos quatro filhos de Lucia Aratori e do mestre de obras Fermo, e foi encorajado pela família a pintar. Tanto que, depois da morte do pai, em 1577, causada pela peste, a mãe vendeu as posses para custear os estudos dele de pintura. Daí em diante, a vida reservaria tempos difíceis para o futuro artista.

Em 1584, Caravaggio foi entregue ao artista Bergamasco Simone Peterzano (1540–1596), para que lhe ensinasse a arte da pintura em seu estúdio de Milão. Permaneceu na cidade durante quatro anos e completou a formação na Lombardia e no Vêneto, estudando ainda com outros grandes mestres quinhentistas. Há um relato de 1597 de um barbeiro da época descrevendo-o como “um jovem adulto de 20 ou 25 anos, com pouca barba negra, gordinho, sobrancelhas grossas e olhos negros. Vestia-se não muito bem, de modo que usava um par de calças pretas um tanto rasgadas e os cabelos compridos penteados para frente”.

Caravaggio acabou entrando para a história também como um sujeito briguento, intolerante a regras e obscuro. Em 1606, acusado de matar um jovem, acabou fugindo para Roma, situação que o tornou mais atormentado. Os anos seguintes foram tumultuados, até que, em 18 de julho de 1610, aos 39 anos, morreu em Porto Ercole, na Itália. A morte do artista é outro episódio misterioso em sua vida. Há relatos de que teria sido vitimado por uma doença, morto por envenenamento (com as tintas) e ainda de assassinato.

Os seis Caravaggios
• Obras de autoria comprovada

San Girolamo che scrive – Óleo sobre tela São Jerônimo que escreve, do século 17 (1605 –1606), tela de 112cm x 157cm.

Ritratto di cardinale (Benedetto Giustiniani?) – Óleo sobre tela de 60cm x 48cm, Retrato do cardeal foi pintado no século 16 (1599–1600). Com dificuldades financeiras, recém-chegado a Roma, ele produzia muito para sobreviver: até dois quadros por dia. Como ilustra um grande domínio da técnica pictórica, acredita-se que a obra seja do período.

San Francesco in meditazione –A exposição exibirá dois quadros retratando São Francisco em meditação. A tela do século 16 (1606), de 128,2cm x 97,4cm, tem autoria confirmada. Poderá ser vista ao lado do outro, sobre o qual ainda pairam dúvidas sobre a autenticidade.

• Recém-comprovada

Medusa Murtola – Óleo sobre tela de linho aplicado sobre um escudo de madeira de álamo, com 44,68cm (diâmetro); arco de circunferência (secção) de 48/49cm, raio igual a "um palmo romano", de 22,34cm, data de 1597. Retrata escudo com cabeça de Medusa. A obra traz as características que tornaram Caravaggio conhecido. Ao ser analisada com radiografias e técnicas como o infravermelho, constataram-se os rascunhos do artista. Há, por exemplo, olhos e boca que mudaram de lugar no quadro final; traços perdidos, escondidos por camadas de tinta e que, pouco a pouco, foram descobertos e analisados pelos pesquisadores. Será a primeira vez, depois da comprovação de autoria, que a pintura será exibida.

• Obras sem autoria confirmada

San Francesco in meditazione –São Francisco em meditação, do século 17 (1606–1618), óleo sobre tela medindo 134 cm x 100cm, vem de coleção particular e figura no grupo de quadros que ainda levantam discussões calorosas sobre a autenticidade. Tem traços bem parecidos com o quadro semelhante e estava em local distante. Por isso, acredita-se ter sido feita pelo mesmo artista.

San Gennaro decollato o Sant’Agapito – São Januário degolado ou Santo Agapito é óleo sobre tela do século 17 (c.1610), com 16,5 x 98cm, encontrado em Palestrina, província de Roma, um dos locais onde Caravaggio refugiou-se depois de ser considerado culpado pelo assassinato de Ranuccio Tomasso, em 1606. Atormentado pela condenação à decapitação, ele teria começado a retratar situações como a de San Gennaro decollato: figuras mórbidas, entre a vida e a morte.

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