Longe do brilho fácil, carreira de ator exige dedicação aos estudos

Em Belo Horizonte, há escolas profissionalizantes e curso superior na UFMG, além de oficinas oferecidas por grupos

por Carolina Braga 17/04/2012 10:33

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Paulo Lacerda/Divulgação
Alunos do Cefar, do Palácio das Artes, durante aula do curso profissionalizante de artes cênicas (foto: Paulo Lacerda/Divulgação)
 
Pode ser um caminho em linha reta ou nem tanto. Aliás, não existem fórmulas. Quem escolhe para si o ofício de ser ator leva junto no pacote – e de antemão – a opção por uma carreira sem padrões. É claro que tem suas compensações, mas diferentemente de profissões tradicionais, nem mesmo o ponto de partida é comum à maioria dos artistas. E mais: sucesso e glamour não são características intrínsecas à opção pela vida nos palcos.
“Teatro é a arte da entrega, é uma brincadeira séria, que exige dedicação e estudo constante, disciplina, seriedade e acima de tudo pés no chão”, avisa a atriz e professora de teatro Cynthia Paulino. Ela costuma dar o recado logo no primeiro dia de aula, para já deixar claro que o brilho do ofício é pura ilusão. “Não somos estrelas, somos operários”, completa.
Para Cynthia Paulino, a primeira dica importante para os iniciantes é observar a própria vontade. “Se o desejo for sincero, então comece com aulas de iniciação teatral. Procure cursos reconhecidos por sua equipe de professores. Cursos cheios de promessa de sucesso são furada na certa”, alerta a atriz. 
Há quem prefira começar a carreira nas cidades que concentram grande parte da produção de artes cênicas do país, como Rio de Janeiro e São Paulo, mas Belo Horizonte não fica atrás. Independentemente do lugar escolhido, a recomendação do diretor Eid Ribeiro é se dedicar à leitura teatral. “Na escola você vai ficar três anos, tempo para a maturação da leitura, tempo de calma, de paciência, para refletir se tem jeito para o teatro”, diz.
Em Belo Horizonte, além de cursos livres promovidos por escolas particulares, como é o caso da PUC Minas, e mesmo companhias de teatro consolidadas da cidade (ver quadro), como a Luna Lunera, Cia Clara e Grupo Galpão, há opções de escolas técnicas, como o Teatro Universitário (TU), mantido pela UFMG, e o Centro de Formação Artística da Fundação Clóvis Salgado (Cefar). Sobra, ainda, a alternativa do curso superior em artes cênicas oferecido pela UFMG.
Cada curso tem uma dinâmica diferente para atender objetivos que também são diversos. Tanto é assim que atualmente em Belo Horizonte – como detecta o professor do Cefar Danilo Curtis – há quem frequente simultaneamente um curso técnico e o superior. “O da UFMG, como se trata de uma graduação, trabalha o lado da pesquisa, tanto prática como intelectual, com a teoria bem embasada. Já cursos como o do TU e do Cefar, por ser técnicos, dão mais importância à parte prática, sem negligenciar os fundamentos teóricos do teatro”, compara Danilo.
OFICINAS É preciso acrescentar que a escola é um caminho fundamental, mas tradicional. Sendo assim, nem sempre é a única opção para iniciar uma trajetória nos palcos. Natural de Almenara, no Vale do Jequitinhonha, o ator Saulo Salomão tem conquistado espaço como ator mesmo sem ter optado inicialmente pelo caminho da escola profissionalizante. No caso dele, a aproximação com o teatro se deu por meio de oficinas oferecidas durante o FestiVale, realizado em sua região.
“Tinha 8 anos quando fiz minha primeira oficina e depois todo ano fazia mais uma”, lembra. Na adolescência, se transferiu para a capital com a família e manteve o hábito dos cursos livres, até se inscrever no Teatro Universitário. “A escola é uma possibilidade, mas sempre há a opção de você inventar a própria formação. Tentar dar um furo, buscar outras vivências”, diz o ator.
No caso de Saulo Salomão, além da rotina de criação no grupo do qual faz parte, a Cia 5 Cabeças, participa do agrupamento de pesquisa Obscênica e mantém rotina de treinamento com o preparador de elenco Sérgio Penna. “Há seis anos estudo com ele a formação do ator para o audiovisual. É meio autodidata, uma tentativa de inventar uma formação para o ator de cinema”, conta.
Integrante da Cia Luna Lunera, formada dentro do curso profissionalizante do Cefar, Zé Walter Albinati também defende uma livre aproximação com o teatro antes da opção pela carreira artística. “As oficinas foram muito reveladoras para mim. Como são realizadas em um tempo mais curto, dá para se ter noção daquilo que será esperado do exercício de atuação”, comenta. Para quem está pensando em entrar para o ramo, a dica de Zé Walter é ficar ligado na oferta de cursos comuns nos festivais de inverno.
Desde 2003, a Luna Lunera oferece oficinas em sua própria sede. Zé Walter, que é o coordenador pedagógico dos cursos, se refere às aulas como uma experiência de compartilhamento. “É um perfil muito bacana, uma pedagogia nova, que vai de acordo com o que o conjunto de alunos deseja”, explica.
COMUNICAÇÃO O desejo de desinibição é bastante frequente nos alunos que procuram cursos livres de teatro. Há mais 30 anos no mercado de Belo Horizonte, o Net mantém suas portas abertas não apenas para quem quer se profissionalizar como ator. “Quando se fala em teatro, estamos falando em comunicação. Temos entre nossos alunos profissionais liberais, professores, pedagogos e médicos. É um teatro que trabalha a questão do relacionamento”, diferencia o fundador da escola, José Márcio Corrêa. 
O fato é que, independentemente do caminho escolhido para começar, quem decide ser ator opta por uma vida repleta de emoções que são permanentemente renovadas. Entrar para uma escola ou encarar o palco de uma vez é apenas o primeiro passo de um processo que vai durar a vida toda.
“Não há como estar pronto: nunca. A profissão é um aprendizado pela vida toda, cada novo trabalho um recomeçar do zero. Só carinha bonita, talento e entusiasmo não vão levar você a lugar nenhum. É preciso informação, pesquisa, experimentação, esforço e mente aberta. Até porque, não é só querer fazer teatro, você tem que ser merecedor para estar em cena ou os deuses do teatro puxam seu tapete”, conclui Cynthia Paulino.
 
UFMG – Curso superior em artes cênicas com acesso mediante vestibular.
Cefar – Oferece cursos básicos e profissionalizante. O número de vagas oferecidas e os detalhes das provas de seleção são divulgados por edital, que está à disposição no site www.fcs.mg.gov.br na primeira quinzena de setembro de cada ano.
Teatro Universitário – Curso técnico de ator com duração de três anos, com aulas de segunda a sexta-feira, à noite, e aos sábados pela manhã ou à tarde. Processo seletivo anual, com edital divulgado no segundo semestre. Informações: (31) 3409-4220
Escola de Teatro PUC Minas – Oferece curso para adultos, crianças e adolescentes nas modalidades cursos profissionalizantes e cursos de curta duração. Inscrições a cada semestre. Informações: (31) 3269-3260
Estação Lunar – Curso livre promovido pelos atores da Cia Luna Lunera. Inscrições abertas para turma de terça-feira, das 9h às 12h. Informações: (31) 3444-7983
Galpão Cine Horto – Cursos livres com o objetivo de iniciar o aluno no exercício teatral. Inscrições semestrais. Informações: (31) 3481-5580
Net – Oferece cursos regulares com turmas durante a semana ou aos sábados. Informações: (31) 3222-1010 


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