Em Fora de mim, Martha Medeiros trata da complexidade das relações afetivas

por Gabriela de Almeida 27/10/2010 14:40

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Editora Objetiva/ Divulgação
(foto: Editora Objetiva/ Divulgação)
Poucos têm a sorte de um amor tranquilo, que chegue ao fim sem dores, rancores e questões mal resolvidas. É difícil dizer adeus à pessoa amada sem despertar amargura, raiva e mágoa. O que muda é a intensidade e a forma como cada um lida com a nova condição: solteiro. Em Fora de mim, novo livro da escritora gaúcha Martha Medeiros, a personagem principal não tem nome e nem rosto. Tem uma história, que como um diário, narra os pensamentos diante de cada fase de uma difícil separação. O texto é como uma carta para o amado, para que ele possa entender como ela se sentiu diante de cada palavra, cada gesto, cada briga e como aquilo a sufocava de uma forma que não dava mais para suportar. Como uma novela, Fora de mim conta o desfecho da relação em três partes. A primeira detalha o rompimento, o retrato da dor da perda e a tentativa de buscar uma lógica para entender tudo o que aconteceu. A segunda parte explica como eles se conheceram e como foi todo o processo de construção do relacionamento. O homem sofre de um distúrbio psicológico que o impede de ser completamente feliz durante a relação. A instabilidade afeta a cabeça da personagem principal de forma que ela passa a questionar as próprias atitudes como se pudesse estar errada. Martha é gentil com as palavras ao citar a bipolaridade do parceiro. “Quis falar com a maior delicadeza do mundo. Hoje em dia são muitos os casos de pessoas que sofrem de transtornos e não há muita literatura sobre quem convive com essas pessoas, como as esposas, os maridos, os filhos e etc.”, explica a autora. A terceira e última parte mostra como está o ex-casal quatro anos após a separação. Cada um seguiu a própria vida de diferentes maneiras e nenhuma dor é tão grande que um dia não chegue ao fim. A complexidade humana dos relacionamentos é o tema favorito de Martha Medeiros, escritora que sabe como colocar em palavras questões íntimas e pensamentos indecifráveis. “Sou fascinada pelo nosso lado b e pela complexidade do relacionamento humano. Nada é tão simples. Sempre são dois universos interagindo e tentando encontrar um ponto de equilíbrio. Nesse caso, eu quis buscar a incompatibilidade, quando só amar não basta”, conta. A viagem pelos sentimentos levou Martha a locais desconhecidos. O público leitor sente por ela uma afinidade tamanha que muitas vezes a abordam com declarações sobre assuntos íntimos, convites para jantar e perguntam quanto custa uma consulta. “Muita gente acha que eu sou psicóloga. A mente humana me interessa muito, mas sou publicitária de formação. Gosto dessa briga eterna entre emoção e razão e não faço literatura hermética, difícil. Sempre coloco um pouquinho de humor, mesmo nas questões mais pesadas. Sempre há espaço para a leveza”, conta. Com 49 anos, este é o 19º livro de Martha Medeiros. A escritora nascida em Porto Alegre, é colunista dos jornais Zero Hora e O Globo e trilhou uma carreira de sucesso com livros de crônica e poesia. Na ficção, a modesta autora ainda se diz iniciante. TRECHO: “Uma sorte eu ser dessa época, o século dos individualistas, ninguém mais se atém ao rosto dos outros, quem saberia dizer a cor dos olhos do seu melhor amigo? Um exército numeroso de invisíveis, e eu me valho dessa invisibilidade para sair de casa como se eu fosse uma mulher em total domínio dos meus atos e sentimentos, uma criatura confiável que não vai estacionar na vaga para os paraplégicos nem esquecer de trancara porta do carro e que vai até sorrir de volta para a conhecida que lhe deu um cumprimento quando se cruzaram no corredor dos enlatados”.

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