Catibrum inova na técnica do teatro de bonecos

Janaína Cunha Melo 19/03/2010 07:00
Adriana Focas /Divulgação
A saga de dom João VI ganha leitura irônica, que mescla fontes históricas e bom humor (foto: Adriana Focas /Divulgação )
Os bonecos gigantes da Catibrum e a ousada montagem Dom João e a invenção do Brasil são a demonstração de que a linguagem dos títeres há muito deixou de contemplar apenas histórias inocentes e modestas. O espetáculo, criado por Lelo Silva a partir do livro D João Carioca, do cartunista João Spacca e da antropóloga Lilia Moritz Schwarcz, e de outras fontes de pesquisa, estreia domingo, no Chevrolet Hall, abrindo a programação do festival Diversão em cena, que oferece até o fim do ano espetáculos semanais aos público infanto-juvenil. Com trilha sonora que remete ao século 19, executada pela musicista Luciana Gomes – a DJ Black Josie –, o espetáculo reconta parte da história do país em tom bem humorado, com irreverência e sofisticação dramatúrgica e estética. E, embora o tema possa parecer ácido, a peça tem o mérito de tornar acessível a saga da família real, rumo ao Brasil colônia, que eles poucos conheciam. https://www.divirta-se.uai.com.br/html/galeria_foto/2010/03/17/galeria_mostrar/id_galeria=2044/galeria_mostrar.shtml', '_blank', 'width=720, height=598,toolbar=no, menubar=no, personalbar=no, scrollbars=no, resizable=no, dependent=yes, z-lock=yes, modal=yes, left=152, top=85')"> Veja fotos de Dom João e a invenção do Brasil Sem o tom grotesco que ronda a maioria das referências a dom João no cinema e no teatro, a Catibrum criou protagonista inocente e atrapalhado. Em alguns momentos, ele é até mesmo cativante, na sua tolerante relação com a geniosa Carlota Joaquina – mulher exigente que luta contra as adversidades e reluta em reconhecer que as condições políticas eram mais dadas à fuga que à resistência. Pelo menos em solo português. Dona Maria, a louca, mãe de dom João e sogra de Carlota, não podia deixar de constar na trama. Aliás, é com ela que o grupo rompe limites entre ator e manipulador. A funesta cerimônia de enterro de dona Maria, com boneco na horizontal e engrenagens à mostra, faz o público se lembrar da dualidade entre criador e criatura, e só então as pessoas se dão conta de como todo o tempo a trupe funde conceitos, desafiando o óbvio: não têm vida própria os seres que caminham entre a plateia e percorrem cenário com tanta personalidade. A criação dos mecanismos dos títeres, assinada por Eduardo Santos, Tim Santos e Admar Fernandes, é outro aspecto curioso da montagem. Para suportar o peso dos bonecos, com mais de um metro de altura, e garantir articulações convincentes, os artistas idealizaram colete funcional, que corrige falhas de manipulação de personagens de grande porte. Depois de pronta, a estrutura parece evidente, mas essa mecânica ainda não havia sido experimentada pelos grupos que lidam com o gênero. E resulta em praticidade no deslocamento de atores e bonecos, além de favorecer a relação dos títeres e os bonequeiros. Melhor para a plateia, que se beneficia com espetáculo bem cuidado e versátil. No elenco, Admar Fernandes, Amaury Borges, Eduardo Santos, Patrícia Lanari,Tim Santos e Daniela Perucci se alternam na interpretação de mais de um personagem, e convencem também na atuação, uma vez que o espetáculo mistura as duas linguagens – trabalho de ator e manipulação. Direção competente e leitura irônica de Lelo Silva a respeito do tema arrematam a construção de importante pesquisa que faz avançar o teatro de bonecos em Minas Gerais, com repercussão sem fronteiras. Dom João e a invenção do Brasil tem muito mais a dizer, além da própria história. LEIA MAIS Espetáculos infanto-juvenis na mostra Diversão em cena
DOM JOÃO E A INVENÇÃO DO BRASIL Chevrolet Hall, Av. Nossa Senhora do Carmo, 230, Savassi, (31) 3209-8989.Domingo, 19h. Projeto Diversão em cena. Entrada franca.

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