Humberto Werneck lança livro sobre Jayme Ovalle, figura emblemática do modernismo

26/07/2008 12:47

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Nino Andrés/Divulgação
Desde adolescente, Humberto Werneck buscou pistas sobre Jayme Ovalle (foto: Nino Andrés/Divulgação)
“O suicídio é um ato de publicidade: a publicidade do desespero.” Ao ler essa frase, Humberto Werneck não sossegou até descobrir quem era um tal de Jayme Ovalle, dono de palavras tão certeiras. Aos 17 anos, o adolescente vasculhou bibliotecas e livrarias da Belo Horizonte dos anos 1960, perguntou a Deus e todo mundo, até encontrar entrevista do misterioso personagem concedida a Vinicius de Moraes na revista Flã, nos anos 1950. Ele reconheceu ecos de Ovalle num poema de Manuel Bandeira, em escritos de Mário de Andrade.

Bem mais tarde, durante pesquisas para seu livro O desatino da rapaziada – sobre a diáspora de intelectuais mineiros para a imprensa carioca e paulista –, Werneck trombou novamente com Ovalle, amigo de Fernando Sabino. Otto Lara Resende contaria ao jornalista histórias do paraense, transformado no personagem Germano do romance Encontro marcado.

Figura emblemática do modernismo, Ovalle era fonte de inspiração para Manuel Bandeira, Di Cavalcanti, Carlos Drummond de Andrade, Augusto Frederico Schmidt, Murilo Mendes e Vinicius de Moraes, entre muitos outros. Deixou pequena obra musical, com destaque para Azulão, sua canção mais conhecida, com letra de Bandeira. Escreveu poucos poemas, em inglês.

O fascínio de Ovalle, no entanto, não está nos “produtos culturais” que criou. Poeta sem versos, como o definiu Drummond, fez de seu dia-a-dia – com o perdão do clichê – uma obra de arte. Graças a Humberto Werneck, o Brasil redescobre esse artista ímpar em O santo sujo – A vida de Jayme Ovalle (Cosacnaify), biografia que será lançada sábado, às 10h, na Quixote Livraria e Café, na Savassi.

Ao longo de 17 anos, o jornalista recolheu pistas sobre o paraense. Werneck teve de montar uma espécie de caleidoscópio, juntar caquinhos, informações pulverizadas. Consultou a correspondência entre Manuel Bandeira e Mário de Andrade, escritos de Drummond, anotações de Vinicius de Moraes, comentários de Augusto Frederico Schmidt.

Missão quase impossível, pois Ovalle era considerado personagem “periférico” entre tantas estrelas modernistas. Morrera havia anos, assim como os amigos e boa parte dos familiares. Craque no ramo, Humberto Werneck recolheu montanhas de material, lotou os arquivos do computador de informações, pôs à prova sua obsessão pela apuração total. Hoje, compara o trabalho à restauração de milenares vasos etruscos. Se um caco faltou, o quebra-cabeças está lá.

PIXINGUINHA,SINHÔ E NOEL

Jayme Ovalle nasceu em 1894, em Belém do Pará, mudou-se rapazinho para o Rio de Janeiro, morreu em 1955. Violonista, era elogiado por Sinhô e Pixinguinha. Conviveu com Noel Rosa, Chiquinha Gonzaga e João da Baiana. Suas 33 canções podem ser reunidas em apenas um disco. Funcionário da Alfândega, freqüentou a boêmia e mitológica Lapa carioca ao lado da fina flor da intelectualidade dos anos 1920 e 1930. Católico, apreciava a macumba e via anjos.

O santo sujo seduz não por traçar um amplo painel da vida do biografado, repleta de casos divertidos, mas por ensinar que cultura não se reduz ao mainstream. Os amigos do compositor são ícones do século 20. Mas a riqueza da vida intelectual daqueles anos não se esgota neles. “A verdade é que, a seu modo, Ovalle penetrava no mundo das essências e dele recolhia imagens sábias e loucas, que viriam infundir nos companheiros uma emoção de conhecimento fantástico e intuitivo”, afirmou Drummond. “Ele era um gerador de poesia”, conclui Werneck.

LANÇAMENTO
O santo sujo – A vida de Jayme Ovalle.
De Humberto Werneck Cosacnaify, 400 págs, R$ 55
Sábado, às 10h, na Quixote Livraria e Café, Rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi, (31) 3227-3077.

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