Mostra Curta Circuito começa hoje com edição formatada para o meio digital

Evento completa 20 anos e traz sete longas brasileiros que serão exibidos até sexta-feira, 16. Na seleção, há títulos produzidos entre os anos 1970 e 1980

Mariana Peixoto 10/10/2020 04:00
Embaúba Filmes/Divulgação
Documentário Fé e fúria (2019), de Marcos Pimentel, foi lançado no Festival Internacional de Documentário de Amsterdã (IDFA) (foto: Embaúba Filmes/Divulgação)

Chegou março e com ele a pandemia do novo coronavírus. Pois naquele momento a programação da Mostra Curta Circuito, que começaria em 30 daquele mês sua 20ª edição, já estava com tudo pronto. Filmes definidos, passagens e hotéis para os cineastas de fora reservados. Em 10 dias teve-se que cancelar a programação.

Somente a partir de hoje (10) o evento, que ocorre há 20 anos no Cine Humberto Mauro, vai realizar sua edição comemorativa. Com os mesmos filmes e convidados, mas, evidentemente, formatado para o meio digital. Até sexta-feira (16), serão exibidos sete longas brasileiros que dialogam com o tema Fé, magia e mistério.

Na seleção, há seis títulos produzidos entre os anos 1970 e 1980 e um filme recente e inédito no circuito comercial. Espelho da carne (1984), de Antonio Carlos da Fontoura, abre a programação. Um espelho, que pertenceu a um bordel no passado, muda a vida de um casal e daqueles que o cercam, conduzindo-os a jogos eróticos. “O espelho e suas consequências são um problema que só poderia ser solucionado através de um domínio místico, que escapa à vida burguesa da classe média alta da Barra da Tijuca”, destacam os curadores, Andrea e Carlos Ormond.

O longa, com Dennis Carvalho, Maria Zilda e Daniel Filho, ganhou uma cópia digitalizada do evento. Outras produções do programa são Ele, o boto (1987), de Walter Lima Júnior, e Filme demência (1986), de Carlos Reichenbach.

Idealizadora da mostra, Daniela Fernandes não queria que em momento algum a transposição para o ambiente digital fizesse do evento apenas uma mera exibição. “O espectador vai poder ter a experiência completa, com trailer, informações, críticas (inclusive em audiobook), além de um webinar e um podcast com o realizador (ou convidados, no caso dos que já morreram). Isto é importante, pois todos os produtos vão para um grande banco de dados no site do Curta Circuito”, diz.

Barreto/Divulgação
Cassia Kiss no filme Ele, o boto (1987), de Walter Lima Jr. (foto: Barreto/Divulgação)

DOCUMENTÁRIO

O evento nasceu em 2001, inaugurando as noites de segunda-feira no Cine Humberto Mauro (que até então só tinha sessões a partir de terça), exibindo curtas-metragens nacionais. “Naquela época, a difusão de curtas, como temos hoje, era restrita. Então, ele nasceu por causa deste gargalo”, diz Daniela. Em um segundo momento passou a exibir médias, que tinham pouco espaço em festivais de cinema.

E há uma década dirigiu seu escopo para a preservação, apresentando filmes históricos que têm pouca difusão no mundo atual. Nas sessões presenciais, há sempre um debate posterior com o diretor ou algum integrante da equipe do longa.

Neste cenário, a exibição do documentário Fé e fúria, mais recente longa do mineiro Marcos Pimentel, é um caso à parte. Lançado em novembro de 2019 no Festival Internacional de Documentário de Amsterdã (IDFA), o maior do mundo, o filme entrou na seleção por dialogar com o tema. O longa saiu do evento holandês com 12 convites para festivais internacionais. Com a pandemia, somente agora ele começou a ser exibido no circuito. A exibição no Curta Circuito será a primeira on-line do filme no país.

Entre 2016 e 2018, Pimentel e sua equipe percorreram a periferia de Belo Horizonte e do Rio de Janeiro. “Ele começa com casos de intolerância religiosa. Os evangélicos de um lado e as religiões de matriz africana do outro. Minha ideia era ver como esses conflitos interferem na vida de moradores de favelas e aglomerados”, diz Pimentel.

De acordo com ele, as religiões de matriz africana, que tradicionalmente tinham respaldo dos “donos do morro”, a partir de um período passaram a sofrer proibições. “Na maior parte dos casos, são pastores de igrejas neopentecostais”, diz o realizador, que dão início à perseguição. A partir desse cenário, onde visitou dezenas de favelas e vilas, Pimentel buscou apresentar um panorama maior. “O filme se liga a um monte de temas em voga na sociedade brasileira, como intolerância, racismo, massacre de minorias, poder armado das milícias, bíblia acima de qualquer coisa. É um filme sobre religião e poder”, conclui.

Embrafilme/Divulgação
Filme demência (1986), de Carlos Reichenbach (foto: Embrafilme/Divulgação)

Programação

»  Sábado (10)
Espelho da carne (1984), de Antonio Carlos da Fontoura
»  Domingo (11)
Prova de fogo (1980), de Marco Altberg
»  Segunda-feira (12)
Fé e fúria (2019), de Marcos Pimentel
»  Terça-feira (13)
As quatro chaves mágicas (1971), de Alberto Salvá
»  Quarta (14)
Ele, o boto (1987), de Walter Lima Jr.
»  Quinta (15)
Filme demência (1986), de Carlos Reichenbach
»  Sexta (16)
O princípio do prazer (1979), de Luiz Carlos Lacerda

* As exibições terão início às 19h. Cada filme ficará disponível por 24 horas

20ª MOSTRA DE CINEMA CURTA CIRCUITO
De hoje (10) a sexta-feira (16) no www.curtacircuito.com.br

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