Gramado premia 'King Kong en Asunción' e ator morto em 2019

Andrade Júnior, que morreu do coração em Brasília, ganhou o Kikito de melhor intérprete. Ele protagonizou o drama dirigido por Camilo Cavalcante, que também levou o troféu de melhor longa nacional

Redação EM Cultura 27/09/2020 19:11

Cleiton Thiele/Pressphoto/divulgação
No telão, o diretor pernambucano Camilo Cavalcante agradece os Kikitos conquistados por seu filme (foto: Cleiton Thiele/Pressphoto/divulgação)
 

Rodado no Brasil, na Bolívia e no Paraguai, King Kong en Asunción, dirigido pelo pernambucano Camilo Cavalcante, ganhou o troféu Kikito de melhor longa-metragem no 48º Festival de Cinema de Gramado, encerrado no sábado (26).


O prêmio de melhor ator foi para Andrade Júnior, protagonista de King Kong..., que morreu aos 74 anos, de parada cardíaca, em 2019. Cavalcante dedicou seu Kikito a Andrade, figura de destaque na cena brasiliense. “Ele é o sol desse trabalho”, afirmou o diretor.


Pela primeira vez, o evento cancelou sua tradicional festa no Palácio dos Festivais, na cidade turística gaúcha. Devido à pandemia do novo coronavírus, a cerimônia não contou com a presença do público e de artistas. Os vencedores, em casa, surgiram no imenso telão para agradecer ao júri. A premiação foi transmitida por canais de televisão e pela internet.


A família de Andrade Júnior agradeceu o Kikito destinado ao ator. King Kong en Asunción levou também o prêmio de melhor filme/júri popular. O longa conta a história de um velho matador que se esconde no interior da Bolívia depois de cometer o último assassinato. Enfrentando profunda crise existencial, ele sai à procura da filha que não conheceu.

CÂNONE

O cineasta Ruy Guerra conquistou três Kikitos com o longa Aos pedaços, premiado nas modalidades melhor direção, melhor fotografia e melhor desenho de som. O diretor dedicou os prêmios a quem faz cinema no Brasil. “Precisamos uns dos outros”, afirmou. O veterano também agradeceu aos jurados por reconhecer sua nova obra, que, de acordo com ele, “foge aos canônes”.


Aos pedaços acompanha um homem atormentado às voltas com a desconfiança de que será assassinado por uma de suas duas mulheres. Diretor de filmes que abordam questões caras ao Brasil, como é o caso de Kuarup (1989), adaptação do romance de Antônio Callado, Ruy Guerra criticou o “governo racista”, apontando o descaso com indígenas e quilombolas.


O cineasta, de 89 anos, ressaltou a importância do Ministério da Cultura, extinto pela administração Jair Bolsonaro, e do Fundo Setorial do Audiovisual. No telão, a seu lado, estava a produtora Janaína Diniz Guerra, filha dele com a atriz Leila Diniz (1945-1972). Ruy criticou “a tentativa de destruição das artes e ciências”, por parte do governo, e avisou: “Nada nos fará parar, porque artistas são animais que representam fonte de vida”.


O Kikito de melhor atriz de longa foi para Isabel Zuaa protagonista de Um animal amarelo, dirigido por Felipe Bragança. Premiada pela crítica, a produção também levou troféus de direção de arte e roteiro. Dirigido por Caetano Gotardo e Marco Dutra, Todos os mortos ficou com os Kikitos de atriz e ator coadjuvantes, conquistados por Alaíde Costa e Thomás Aquino.


Na categoria longa estrangeiro, o prêmio de melhor filme foi para a produção colombiana La frontera, de David David, também contemplada com Kikitos de melhor roteiro e melhor atriz, esse último compartilhado por Daylin Vega Moreno e Sheila Monterola.


O documentário uruguaio El gran viaje al país pequeño, de Mariana Viñoles, conquistou os Kikitos de melhor direção e melhor filme estrangeiro/júri popular, além do Prêmio Especial do Júri. O longa conta a história de sírios refugiados no Uruguai.

AMAZÔNIA

Na categoria curta-metragem, o prêmio de melhor filme brasileiro foi para O barco e o rio, de Bernando Ale Abinader, sobre mulheres que moram numa embarcação na Amazônia.
Abordando o preconceito enfrentado pela população trans, Inabitável ganhou os Kikitos de melhor atriz (Luciana Souza) e melhor roteiro (Matheus Farias e Enock Carvalho). Daniel Veiga ficou com o Kikito de melhor ator por seu trabalho em Você tem olhos tristes. Na categoria longa gaúcho, Portuñol, de Thais Fernandes, foi o eleito o melhor filme.

 

PREMIADOS



LONGA BRASILEIRO

  • Filme: King Kong en Asunción
  • Direção: Ruy Guerra (Aos pedaços)
  • Ator: Andrade Júnior (King Kong en Asunción)
  • Atriz: Isabel Zuaa (Um animal amarelo)
  • Roteiro: Felipe Bragança (Um animal amarelo)
  • Ator coadjuvante: Thomás Aquino (Todos os mortos)
  • Atriz coadjuvante: Alaíde Costa (Todos os mortos)




LONGA ESTRANGEIRO

  • Filme: La frontera
  • Direção: Mariana Viñoles (El gran viaje al país pequeño)
  • Ator: Anibal Ortiz (Matar a un muerto)
  • Atriz: Daylin Vega Moreno e Sheila Monterola (La frontera)



CURTA BRASILEIRO

  • Filme: O barco e o rio
  • Direção: Bernardo Ale Abinader (O barco e o rio)
  • Ator: Daniel Veiga (Você tem olhos tristes)
  • Atriz: Luciana Souza (Inabitável)
  • Roteiro: Matheus Farias e Enock Carvalho (Inabitável)

MAIS SOBRE CINEMA