A marca do Pantera: Chadwick Boseman levou às telas personagens de relevo na luta contra o racismo

Além do rei T'Challa, veja exemplos de filmes do ator disponíveis no Brasil

Pedro Galvão 02/09/2020 08:21
Robyn Beck/AFP
Chadwick Boseman, que morreu de câncer, na última sexta, deixou um filme inédito com trama situada nos anos 1920. Ma Rainey's black bottom tem Viola Davis no papel principal e produção da Netflix (foto: Robyn Beck/AFP)
Na extensa lista de atores que permanecem para sempre marcados por um personagem em especial, Chadwick Boseman certamente ficará na história como o Pantera Negra. Porém, o ator cuja morte precoce, na última sexta-feira, aos 43 anos, vítima de um câncer de cólon, comoveu o mundo, interpretou vários outros papéis relevantes, além do emblemático herói africano da Marvel.

Ícone da representatividade por ser um dos poucos protagonistas negros em um filão cinematográfico ainda dominado proporcionalmente por super-heróis e heroínas brancos, ele dedicou sua carreira a levar para a tela a trajetória e os feitos singulares de personalidades que marcaram a luta contra o racismo nos Estados Unidos.

O filme mais recente de Boseman, já mundialmente conhecido como o Pantera Negra, foi Destacamento Blood, de Spike Lee. Lançado em junho deste ano, o longa foi um dos trabalhos que o ator realizou enquanto se tratava do câncer, diagnosticado em 2016.

Elogiado pela crítica, Destacamento blood conta a história de um grupo de veteranos afro-americanos da Guerra do Vietnã que retornam ao país asiático em busca dos restos mortais de seu comandante e também de um tesouro que enterraram por lá. Disponível na Netflix, o filme relaciona o passado e o presente dos EUA em relação à questão racial.

Netflix/Divulgação
Destacamento blood, de Spike Lee, usa a história de veteranos da Guerra do Vietnã para abordar a desigualdade racial nos EUA de hoje. O filme foi lançado em junho pela Netflix (foto: Netflix/Divulgação)
 

Em Marshall: igualdade e justiça (2017), Boseman interpreta Thurgood Marshall, o primeiro juiz afro-americano da Suprema Corte dos Estados Unidos. A trama dirigida por Reginald Hudlin, que nos anos 2000 escreveu vários quadrinhos do Pantera Negra, é centrada num caso de quando Marshall ainda era advogado e decidiu defender Josepho Spell (Sterling K. Brown), negro acusado de atacar uma socialite branca em seu quarto, mas que jurava não ser o culpado do crime. O longa está no catálogo do Telecine Play. 

POLICIAL

Outro filme recente com Boseman é Crime sem saída, indicado para quem gosta de tramas policiais e de ação. Lançado no fim do ano passado, com o título original de 21 bridges, ou seja, 21 pontes, referência aos 21 acessos terrestres para a ilha de Manhattan, em Nova York, que são fechados em uma madrugada, depois que dois assaltantes matam oito oficiais da polícia local ao fugir da cena do crime. 

Quem determina a estratégia de fechar os acessos é precisamente o personagem de Boseman, o detetive Andre Davis, intensamente dedicado a combater o crime na megalópole, mas com um histórico comprometedor de já ter matado pessoas nessa função. 

O papel pode parecer polêmico para quem se destacou como um personagem icônico na construção de uma sociedade menos preconceituosa, violenta e desigual. Porém, a trama não foge de debates importantes sobre a violência policial, que tem a população negra como maior vítima nos EUA. Crime sem saída está no catálogo da Amazon Prime Video.

Galeria Distribuidora/Divulgação
Em Crime sem saída, Boseman interpreta o policial que traça uma estratégia para capturar criminosos fugitivos em Nova York (foto: Galeria Distribuidora/Divulgação)
 

Já em King: Uma história de vingança, lançado em 2017 pela Netflix, onde segue disponível, Boseman é Jacob King, um sul-africano que viaja para Los Angeles para vingar a morte de sua irmã. Por lá, acaba caindo em um rede perigosa envolvendo o crime organizado da cidade, em outra opção indicada para fãs de ação e thrillers policiais. 

Dirigido por Fabrice Du Welz , o longa tem também no elenco Luke Evans, Teresa Palmer e Alfred Molina. 

Em Get on up - A História de James Brown, lançado em 2014, Boseman interpreta o astro do funk e do soul norte-americano na cinebiografia do cantor dirigida por Tate Taylor. O longa também tem ainda atuação das atrizes Viola Davis e Octavia Spencer e está no Telecine Play.

Antes do ícone da música, encarnou um ídolo do esporte, em 42 -  A história de uma lenda, de 2013. Ele assume o papel principal na cinebiografia de Jackie Robinson, primeiro jogador de beisebol negro a disputar a Major League Baseball (principal campeonato da modalidade nos EUA) na era moderna, no tardio ano de 1946. 

PRECONCEITO

O filme mostra a rotina de preconceitos que o atleta sofreu nesse processo e conta com Harrison Ford interpretando Branch Rickey, grande incentivador da carreira de Robinson. Fora dos serviços de streaming mais populares, ele pode ser alugado no Looke, YouTube Filmes e serviços sob demanda de operadoras

Como Pantera Negra, seu papel mais famoso, Chadwick Boseman está presente em quatro dos 23 filmes do vasto Universo Cinematográfico da Marvel. O longa inteiramente dedicado ao personagem foi lançado em 2018. A primeira aparição de Boseman como o Pantera Negra se deu dois anos antes, em Capitão América: Guerra civil, quando o herói negro é introduzido da narrativa, ainda como príncipe de Wakanda, acompanhado por seu pai, o então rei T'Chaka (John Kani). 

Já "consolidado" como Pantera Negra, ele retorna em Vingadores: Guerra infinita e Vingadores: Ultimato, de 2018 e 2019, respectivamente. Todos esses filmes deverão estar disponíveis no serviço de streaming Disney TV+, que chegará ao Brasil em novembro, com toda a filmografia da Marvel disponível. 

Por enquanto, alguns deles podem ser vistos em outras plataformas. Capitão América: Guerra civil está no Telecine Play, enquanto Vingadores: Ultimato é disponibilizado no Amazon Prime Video. 
 Em 2018, o elenco de Pantera Negra venceu o SAG Awards de Melhor Elenco. No discurso de premiação, Boseman disse: “Esse filme mudou a indústria para sempre? Mudou realmente a maneira como esta indústria funciona, como nos vê? Minha resposta é ser jovem, talentoso e negro. Porque todos nós aqui em cima sabemos como é dito que não há lugar para você ser protagonista, mesmo sendo jovem, talentoso e negro. Sabemos como é ser informado de que não há uma tela para você aparecer, um palco para você brilhar. Nós sabemos o que é estar embaixo, nunca em cima. E é com isso que trabalhamos todos os dias porque sabíamos - não que participaríamos de toda a temporada de premiações ou que o filme renderia US$ 1 bilhão, mas sabíamos que tínhamos algo especial que queríamos dar ao mundo. Que poderíamos ser seres humanos completos nos papéis que estávamos desempenhando, que poderíamos criar um mundo que exemplificasse O mundo que queríamos ver".

Em homenagem ao ator, a rede de cinemas norte-americana AMC anunciou que relançará 42 -  A história de uma lenda, em parceria com a Warner e a Legendary. O ingressos terão descontos de US$ 5, e o filme fará parte da programação de reabertura das salas da rede nas próximas semanas, fechadas em decorrência da pandemia do novo coronavírus

INÉDITO

O último trabalho de Boseman foi o longa Ma Rainey's black bottom, original da Netflix. Trata-se de uma adaptação da peça de mesmo nome de August Wilson, um drama biográfico sobre a cantora de blues Ma Rainey, interpretada por Viola Davis, que, junto com seu trompetista, vivido por Chadwick, enfrenta produtores e empresários brancos, nos anos 1920.  

O filme teria um evento de pré-lançamento anteontem, mas a Netflix decidiu cancelá-lo, após a notícia da morte de Boseman. A previsão de lançamento era para este ano. A plataforma não informou se haverá mudança na data.

MAIS SOBRE CINEMA