Ator Andrade Júnior, que morreu em 2019, vai 'reviver' em Gramado

Protagonista do longa King Kong en Asunción 'renascerá nas salas de cinema', afirma o diretor Camilo Cavalcante. Festival será realizado de 18 a 24 de setembro, desta vez no Canal Brasil

Ricardo Daehn - Correio Braziliense 02/09/2020 08:08
Aurora Filmes/divulgação
O ator Andrade Júnior, que morreu em 2019, no papel de um pistoleiro em crise no filme King Kong en Asunción, de Camilo Cavalcante (foto: Aurora Filmes/divulgação)
Um dos 14 longas-metragens selecionados pelo Festival de Cinema de Gramado, King Kong em Asunción traz, entre as diversas pronúncias latinas presentes nesse road movie (rodado com equipe de cinco países), o sotaque candango eternizado pelo ator Andrade Júnior, que morreu em 2019.

“Tem significado especial o Andrade brilhar nas telas com toda a força de uma interpretação magistral. Ele irradiava, esbanjava afeto. Sem Andrade, perde-se coragem, perde-se uma voz que bradava forte em torno da arte”, afirma Camilo Cavalcante, diretor de King Kong em Asunción.

O ator, na ótica do cineasta pernambucano, apresenta o que está em artistas de países integrados à produção, como Bolívia, Paraguai, Colômbia e Argentina. “Ele carrega um papel profundo, dramático, como talvez nunca tenha feito com tanta intensidade no cinema. Em certa medida, Andrade amplifica a resistência da cultura e do cinema neste momento em que a arte está sendo jogada às traças no Brasil”, desabafa Cavalcante.

King Kong en Asunción é dramático, com metáforas sobre as relações humanas e políticas. O filme conta a história de um matador envelhecido, escondido no interior da Bolívia, que vive profunda crise existencial. Sem ver lógica no cotidiano violento, ele sai à caça do paradeiro da filha desco- nhecida. Há metamorfose nesse ca- minho. “Ele quer deixar a casca de maldade, quer se tornar um homem bom”, diz Camilo Cavalcante.

Narrado pela morte, em guarani, o longa aposta na carga literária e traz momentos mais leves, mas com humor ácido, duro. “Foi feito para pensar e sentir”, afirma o diretor. “O Andrade fala em portunhol, mas muito mais com o corpo, com o olhar e com a performance.”

MORTE

Camilo Cavalcante diz que Andrade Júnior é “a energia, o sol” do filme, com “seu DNA do Ceará e do Nordeste”. O ator morreu aos 74 anos, em Brasília, em maio de 2019, depois de sofrer parada cardíaca.

Filmado em 2017, King Kong en Asunción ganhou significado especial. “No Festival de Gramado, Andrade Junior reviverá nas telas em todo o Brasil, em sessão única e inaugural. Depois, quero vê-lo renascer nas salas de cinema, quando elas voltarem a funcionar”, conclui Camilo Cavalcante.

FESTIVAL NA TV

De 18 a 24 de setembro, o Festival de Gramado reunirá 28 produções – sete longas brasileiros, sete estrangeiros e 14 curtas. A pandemia da COVID-19 impôs novo formato ao evento, inviabilizando a festa, que se tornou tradição na cidade turística gaúcha. Desta vez, os filmes em competição serão exibidos pelo Canal Brasil. Diariamente, a partir das 19h, o público assistirá a um curta brasileiro, a um longa estrangeiro, a um curta brasileiro e a um longa nacional. Por 24 horas, esses conteúdos ficarão disponíveis no Canal Brasil Play. No dia 26, a cerimônia de entrega do Troféu Kikito, no Palácio dos Festivais, será presencial e seguirá o protocolo estabelecido pelas autoridades de saúde.

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