Galeria Distribuidora aposta no cinema, apesar da pandemia

Empresa descarta estrear seus dois filmes sobre o Caso Richthofen em streaming, na contramão da tendência mundial

Mariana Peixoto 25/06/2020 07:36
Stella Carvalho/Divulgação
A menina que matou os pais não estreou em abril, como previsto, e aguarda a abertura das salas de cinema (foto: Stella Carvalho/Divulgação)

Em 12 de março, um dia depois de a Organização Mundial da Saúde declarar a pandemia do novo coronavírus, a Galeria Distribuidora cancelou o lançamento de seu projeto mais ambicioso: os longas-metragens A menina que matou os pais e O menino que matou meus pais, que acompanham, sob dois pontos de vista, o Caso Richthofen.

Ambos estreariam em 2 de abril. As duas semanas anteriores a essa data seriam dedicadas a pré-estreias diárias. “Naquele momento, os filmes ainda não estavam sendo adiados. Senti que ou a gente ia ou parava. E se não parasse, o prejuízo seria muito grande”, afirma Gabriel Gurman, presidente da Galeria Distribuidora.

STREAMING

Três meses depois do adiamento, não há nova data de exibição. Independentemente de quando, o formato não vai mudar. Os dois longas dirigidos por Maurício Eça, que acompanham Suzane Richthofen e Daniel Cravinhos, a mandante e o assassino do casal Manfred e Marísia von Richthofen, em outubro de 2002, serão lançados nos cinemas – não há nenhuma possibilidade, por ora, de eles chegarem antes ao streaming, como tem ocorrido com outros longas.

“Eles foram desenvolvidos para o cinema, pensando naquela experiência de você assistir a um filme e depois ao outro. Cinema é o lugar da conversa. Agora, a preocupação é muito grande não só sobre quando as salas vão voltar, mas de que forma isso vai ocorrer”, afirma Gurman.

A menina que matou os pais e O menino que matou meus pais são um caso à parte na produção nacional: dois longas, rodados e com lançamentos simultâneos, sobre a mesma história. Ambos foram produzidos com dinheiro privado, prática que a Galeria adotou para produções lançadas a partir de 2020.

Diferentemente de distribuidoras voltadas para o mercado nacional, a Galeria atua como coprodutora de seus lançamentos. “Como financiamos os filmes, deixamos de ser dependentes de recursos públicos. Quando esse cenário está parado (como agora), conseguimos produzir à margem do contexto político”, explica Gurman. Os longas do Caso Richthofen custaram R$ 7,5 milhões.

Nascida em 2018 como braço da Vitrine Filmes, voltada para produções comerciais, a Galeria, seis meses mais tarde, se desvinculou dela e se associou ao grupo argentino Telefilms. O foco está na produção para jovens e em longas que fogem ao padrão de comédia da Globo Filmes.

A Galeria lançou Ana e Vitória (protagonizado pelas cantoras do Tocantins), Cinderela pop (com Maisa Silva, sua maior bilheteria, 500 mil espectadores), O melhor verão de nossas vidas (com influenciadores digitais) e Os exterminadores do além contra a loira do banheiro (com Danilo Gentili e youtubers).

Galeria Distribuidora/divulgação
Gabriel Gurman quer vencer o preconceito do público jovem em relação ao cinema nacional (foto: Galeria Distribuidora/divulgação)

PRECONCEITO

“Nossa preocupação é também explorar gêneros pouco comuns no cinema brasileiro. Quando começamos a fazer O menino... e A menina..., não havia uma referência anterior (de longas baseados em crimes), a não ser O bandido da luz vermelha (1968). O público jovem é o que mais consome cinema, mas tem dificuldade em ser atendido em termos de conteúdo nacional. Sentimos que há um pouco de preconceito desse público com a produção brasileira, até porque ela não dialoga com ele. Tentamos preencher essa lacuna”, acrescenta Gurman. 
     
 Atualmente, a Galeria trabalha em dois projetos. A adaptação do best-seller O papai é pop, de Marcos Piangers, que mostra a visão de um pai fora do modelo tradicional, e Meninas não choram, na linha do drama romântico americano A culpa é das estrelas.

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