Karan se tranca 279 dias em casa. E a culpa não é do coronavírus

Estrelada por Ali Fazal, comédia indiana se inspirou nos hikikomoris, jovens japoneses que decidem se isolar do mundo

Guilherme Augusto 22/06/2020 08:00
Netflix/divulgação
Karan (Ali Fazal) dedica boa parte de seu tempo, pra lá de ocioso, à faxina (foto: Netflix/divulgação )
No final dos anos 1990, o psicólogo japonês Tamaki Saito cunhou o termo hikikomori para descrever jovens adultos que se retiraram da sociedade e se autoconfinaram em casa, transformando-se em eremitas modernos, por assim dizer.

Um estudo de 2018 do governo do Japão descobriu que quase metade dos hikikomoris pesquisados vive em reclusão há pelo menos sete anos – um terço deles isolado na casa dos pais por razões financeiras.

Se você está se perguntando o que isso tem a ver com Preso em casa – filme indiano da Netflix estrelado por Ali Fazal e Shriya Pilgaonkar –, há um motivo: a premissa da produção está justamente no conceito de hikikomori, pelo menos até certo ponto. Na verdade, o tema é apenas uma desculpa para essa comédia romântica bastante normal.

ORIGAMI 

O filme começa com um panorama na rotina diária do protagonista Karan (Fazal), que envolve atividades como faxina, culinária e origami. Entre conversas com seu melhor amigo, JD (Jim Sarbh), e a entrevista com a jornalista Saira (Pilgaonkar), o rapaz revela que há 279 dias está trancado em casa.

Mas para alguém que afirma ter pouco interesse em conversar com as pessoas ou permitir que elas entrem em sua casa, é curioso como Karan está constantemente colado ao telefone e pouco se esforça para se livrar da presença daqueles que cruzam sua porta.

Entre os invasores está a irritante Pinky (Barkha Singh), filha de um todo-poderoso de Dubai, que, com ajuda do guarda-costas, consegue entocar uma grande mala rosa no apartamento de Karan. Dentro dela está um homem (Badrul Islam). Essa trama, muito embora dê um tom de suspense ao filme, não contribui muito para o cenário geral.

Se um filme insiste em ser baseado no enredo e não nos personagens, como é o caso de Preso em casa, o mínimo que ele pode fazer é garantir momentos interessantes e significativos.

Mas o longa da Netflix, assim como uma série de produtos originais que chegam à plataforma, é meramente cheio de acontecimentos para preencher seu longo (e desnecessário) tempo de exibição.

Tudo, de alguma forma, acontece no mesmo dia, o que seria suficiente para deixar qualquer um louco, ainda mais um hikikomori. Esse período de tempo comprimido não apenas torna irreal a história de amor de Karan e Saira, como torna o final do longa igualmente pouco convincente.

Lançado em novembro, Preso em casa chegou ao streaming quando o mundo ainda vivia sem as preocupações provocadas pela pandemia. Considerando o novo cenário distópico criado pela COVID-19, a narrativa serve para mostrar as maravilhas de estar sozinho, já que a proposta do filme se dá em torno de pessoas que se retiraram da sociedade.

Ainda assim, seria muito mais interessante uma história apenas com Karan, imaginando como teriam sido os outros 278 dias em que ele esteve confinado. Mas talvez seja pedir demais para um produto original Netflix.

PRESO EM CASA
. Filme dirigido por Samit Basu e Shashanka Ghosh
. 104 minutos
. Netflix

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