'1917', de Sam Mendes, leva Globo de Ouro de melhor filme e diretor

'Era uma vez em... Hollywood', Brad Pitt e Joaquin Phoenix são os outros grandes vencedores do cinema. 'Fleabag' e 'Succession' se destacam entre as séries

Estado de Minas 05/01/2020 22:34

Universal/Divulgação
Cena de '1917', de Sam Mendes (foto: Universal/Divulgação)

O britânico Sam Mendes levou o Globo de Ouro de melhor diretor por "1917" e também o prêmio prinical (melhor filme) no Globo de Ouro 2020. Ambientado na Primeira Guerra Mundial, com a história de dois soldados que precisam atravessar o campo inimigo e entregar uma mensagem capaz de poupar a vida de 1.600 homens, o longa foi filmado em plano-sequência (sem desligar a câmera).

 

Saudado pela crítica como não apenas um feito tecnológico, mas uma realização artística maiúscula, o longa estreia no Brasil em 23 de janeiro. 

 

Ao subir ao palco para agradecer seu prêmio de diretor, Mendes disse: "Não há nenhum diretor neste auditório, nenhum diretor no mundo que não se apoie sobre os ombros de Martin Scorsese. Eu só queria dizer isso".

 

Scorsese estava indicado por "O irlandês". Mendes também agradeceu à sua equipe, ao elenco e citou o discurso de Tom Hanks antes de homenagear a própria mulher. Ele contou ainda que o filme foi inspirado na história de seu avô.

 

No discurso de agradecimento ao prêmio de melhor filme, ele foi sucinto, mas direto o suficiente para expressar uma crítica ao crescente papel que a Netflix vem adquirindo no território do cinema. "É difícil fazer filmes sem grandes estrelas no elenco para que as pessoas vejam no cinema. Espero que as pessoas vejam na tela grande, porque essa foi nossa intenção."

 

 

O sul-coreano Bong Joon Ho com seu Globo de Ouro por 'Parasita'
(foto: O sul-coreano Bong Joon Ho com seu Globo de Ouro por 'Parasita')

O sul-coreano Bong Joon Ho confirmou o favoritismo de "Parasita" e levou o troféu de melhor filme internacional no Globo de Ouro 2020. Com a ajuda de uma tradutora para o inglês, o diretor afirmou: "Quando a gente superar a barreira das legendas, vocês vão conhecer muitos outros filmes incríveis", arrancando intensos aplausos.

 

"Ser indicado junto com outros cineastas internacionais foi uma grande honra. Falamos uma única língua, que é o cinema. Obrigado." "Parasita é considerado favorito também ao Oscar.

 

Frederic J. Brown/AFP
O diretor Quentin Tarantino (foto: Frederic J. Brown/AFP)
 

Quentin Tarantino, por sua vez, surpreendeu e venceu a categoria melhor roteiro por "Era uma vez em... Hollywood". Com seu proverbial amor pelo cinema e pelos profissionais da sétima arte, Tarantino citou os roteiristas que mais o influenciaram e fez uma tocante homenagem a seus atores, relatando como eles contribuíram para o roteiro. 

 

Pouco depois, Leonardo Di Caprio e Brad Pitt foram juntos ao palco para "Era uma vez em... Hollywood", que eles protagonizam, vivendo um ator (Di Caprio) e seu dublê (Pitt), cuja amizade supera altos e baixos de ambas as carreiras, como candidato a melhor filme. O longa de Tarantino teve, no total, cinco indicações.

 

Já com a noite se encaminhando para o fim, Brad Pitt voltou sozinho, para receber o prêmio de melhor ator coadjuvante, uma das disputas mais acirradas da noite. "Quando eu estava começando, esses nomes que foram ditos agora – Pacino, Pecci, Hanks eram deuses para mim. Tenho todo o respeito por vocês", disse.

 

Mas a noite ainda ficaria melhor para "Era uma vez em... Hollywood", que levou o troféu de melhor filme na categoria musical ou comédia.

 

Frederic J. Brown
Brad Pitt com seu prêmio (foto: Frederic J. Brown)
 

"Preciso começar agradecendo ao cara, Quentin Tarantino. Também quero agradecer ao meu parceiro LDC (referindo-se a Leonardo Di Caprio). Antes, eu via os colegas aceitando prêmios e agradecendo a ele. Eu não entendia. Agora sei por quê."

 

O melhor ator em comédia ou musical foi Taron Egerton, que protagoniza a cinebiografia de Elton John "Rocketman". 

 

A atriz Rachel Weisz, premiada com o Oscar de melhor coadjuvante por "O jardineiro fiel" (2006), do brasileiro Fernando Meirelles, foi escalada para apresentar "Dois papas", produção da Netflix dirigida por Meirelles, como candidato a melhor filme. 

 

Indicado em quatro categorias – filme, roteiro, ator e ator coadjuvante –, "Dois papas" saiu sem prêmios.

 

A Netflix, que teve 34 indicações, sendo 17 nas categorias de cinema, levou seu primeiro prêmio importante da noite com a vitória de Laura Dern como melhor atriz coadjuvante por "História de um casamento"

 

Foi outra atriz, Patricia Arquette, premiada como melhor coadjuvante por "The act" (categoria série limitada ou filme para a TV), que fez o discurso abertamente político da noite, mencionando pela primeira vez o Irã e o envio de mais de 3 mil soldados norte-americanos ao Oriente Médio, determinado após o ataque que matou Qasem Soleimani, para prevenir a anunciada revanche iraniana.

 

Arquette mencionou também os incêndios que destroem o continente australiano, citou o amor por seus filhos e fez a convocação: "Imploro a todos para darmos um mundo melhor para todos nós. Temos que votar por isso em 2020".

 

Charlize Theron foi a escolhida para apresentar o prêmio Cecil B.DeMille, em homenagem ao conjunto da carreira, para Tom Hanks. Num discurso sincero e tocante, Charlize mencionou sua admiração pelo astro desde a infância passada numa fazenda na África do Sul, contou do gesto de gentileza que ele teve com ela quando percebeu seu nervosismo num teste de elenco e concluiu: "Ele tem todas as qualidades que a gente quer – na tela e fora da tela".


Na sequência, um clipe com alguns dos mais marcantes momentos de Hanks no cinema preparou sua entrada no palco, para receber o prêmio das mãos de Charlize.


 

 A 77ª edição do Globo de Ouro começou na noite deste domingo (5), pouco depois de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ter embarcado de volta para Washington.  Antes de deixar Palm Beach no Air Force One, Trump falou com repórteres sobre o  ataque letal que ele decretou contra o general iraniano Qasem Soleimani no Iraque, ação que elevou exponencialmente a tensão entre Estados Unidos e Irã e ameaça desestabilizar todo o Oriente Médio e a economia global.


Se o contexto mais amplo já não era para festa, a presença do comediante britânico Rick Gervais como mestre de cerimônias da cerimônia de premiação da indústria do audiovisual promovida pela Associação de Correspondentes Estrangeiros em Hollywood apenas acentuou o clima de desconforto.


Com seus comentários ácidos e impiedosos, Gervais abordou o domínio da Netflix; citou a entrada da Apple no mercado de streaming, sem poupar a empresa; mencionou o hábito de Leonardo Di Caprio namorar mulheres muito mais jovens; citou o controverso comentário de Martin Scorsese de que os filmes da Marvel não são cinema, caçoou da estatura do diretor de "O irlandês" e fez mais uma série de comentários recebidos por um auditório na maior parte das vezes silencioso e com sorrisos amarelos.

 

Mas foi outro comediante britânico, Sacha Baron Cohen, o responsável pela mais ferina e mais contundente piada da noite. Sacha foi ao palco apresentar o concorrente "Jojo Rabbit", de Taika Waititi, comédia sobre um garoto que tem em Adolf Hitler seu amigo imaginário. O diretor interpreta Hitler, e Scarlett Johansson vive a mãe do menino. 

 

"O herói desse próximo filme é um garoto ingênuo e equivocado que espalha propaganda nazista e só tem amigos imaginários. O nome dele é Mark Zuckerberg", afirmou Sacha. "Oh, não. Espera. Esse é velho e está em 'A rede social'." 

 

Frederic J. Brown/AFP
A atriz Michelle Williams (foto: Frederic J. Brown/AFP)
A atriz Michelle Williams, premiada por seu papel como a coreográfa Gwen Verdon na minissérie "Fosse/Verdon", fez um incisivo discurso. Com a barriga de grávida aparente, Michelle disse que se orgulha de suas escolhas profissionais e pessoais, como a de ter tido filhos com quem quis, quando quis. 

 

Ela fez uma veemente defesa do direito de escolha das mulheres, num momento em que se intensificam nos Estados Unidos as tentativas de tornar o aborto ilegal. Michelle exortou as mulheres a votar em 2020, quando haverá eleição presidencial, pensando em seus interesses e na defesa de seus direitos, que "é o que os homens fazem há muito tempo". Ela obsservou que as mulheres formam o maior colégio eleitoral do país. 

 

Joaquin Phoenix, premiado como melhor ator em filme dramático por sua visceral interpretação do Coringa, discursou em seu estilo desafiador e algo confuso. Claramente, ele homenageou os concorrentes e depreciou a ideia de disputa. 

 

"Todos nós sabemos que não tem como concorrer aqui. Não é uma competição. Tudo isso é para vender propaganda. Eu me inspiro com vocês. Sou aluno de vocês. Sei que as pessoas falam isso, mas de fato sinto que é uma honra estar ao lado de vocês", afirmou.


Ao diretor Todd Phillips, disse: "Você foi um amigo e me convenceu a fazer esse filme. Foi você que me incentivou a dar o meu máximo. Sei que sou difícil. Não sei como você me aguentou. Tenho uma dívida muito grande com você".

 

Phoenix ainda soltou uma alfinetada para os que discursaram antes dele. "É ótimo que as pessoas tenham expressado desejos bons. Mas temos que fazer mais do que isso. Nem sempre fui uma pessoa virtuosa. Vocês me ajudaram muitas vezes. Juntos podemos nos reunir para realmente trazer uma grande mudança. Espero que possamos fazer isso sem jatos particulares para Palm Springs."
 

Getty Images
(foto: Getty Images)

O anúncio dos primeiros vencedores não dissipou a atmosfera pesada. Logo depois de Ramy Youssef ser anunciado o melhor ator de séries de TV (musical ou comédia) pela série que leva seu nome; Russell Crowe foi anunciado vencedor da disputa de melhor ator em série limitada ou filme para a TV, por "The Loudest Voice".


Jennifer Aniston, que apresentou essa categoria, anunciou que Crowe havia permanecido na "Austrália, para proteger sua família" e enviado um discurso de agradecimento.
A Austrália enfrenta uma onda de incêndios que os bombeiros e as forças militares lutam para controlar. Já houve mortos e um número de milhares de desabrigados, além da destruição de uma boa porção das florestas do país.


"Não se enganem. A tragédia que está acontecendo na Austrália deve-se à mudança climática. Precisamos respeitar o planeta como um lugar único, para que possamos ter um futuro", foram as palavras de Crowe, lidas por Aniston.


Depois desse início denso, a plateia de nomões de Hollywood parecia ansiar por um alívio, e ele veio quando Elton John subiu ao palco para apresentar "Rocketman", candidato a melhor filme musical ou comédia. O astro britânico teve a primeira ovação de pé da noite. 

 

Veja os vencedores já anunciados:

 

Cinema

Melhor filme internacional - Parasita (Coreia do Sul)

 

Melhor filme de animação - Link perdido

 

Melhor Roteiro - Quentin Tarantino  (Era uma vez em... Hollywood)

 

Melhor atriz coadjuvante - Laura Dern (História de um casamento)

 

Melhor canção original - I'm gonna love me again, de Elton John (Rocketman)

 

Melhor diretor - Sam Mendes (1917)

 

Melhor Trilha Sonora Original - Coringa

 

Melhor Ator Coadjuvante - Brad Pitt (Era uma vez em... Hollywood)

 

Melhor Ator em Filme Musical ou Comédia - Taron Egerton (Rocketman)

 

Melhor Atriz em Filme Musical ou Comédia - Awkwafina (The Farewell)


Melhor Filme de Musical ou Comédia - Era Uma Vez em... Hollywood

 

Melhor ator em filme de drama - Joaquin Phoenix (Coringa)

 

Melhor Atriz em Filme de Drama - Renée Zellweger (Judy)

 

Melhor filme de drama - 1917

 

TV

Melhor Série Drama - Succession

Melhor Ator em Minissérie ou Filme para TV - Russell Crowe - The loudest voice

Melhor Atriz em Série de Comédia ou Musical - Phoebe Waller-Bridge - Fleabag

 

Melhor Ator em Série de Comédia ou Musical - Ramy Youssef - Ramy

 

Melhor Atriz em Série de Drama - Olivia Colman - The crown
 
Melhor Ator Coadjuvante em Minissérie ou Filme para TV - Stellan Skarsgård - Chernobyl

 

Melhor Ator em Série de Drama - Brian Cox - Succession 

 

Melhor Série de Comédia ou Musical - Fleabag

 

Melhor Atriz em Série de Drama - Olivia Colman - The crown

 

Melhor Atriz em Minissérie ou Filme para TV - Michelle Williams (Fosse/Verdon)

 

Melhor Minissérie ou Filme para TV - Chernobyl

 

 

MAIS SOBRE CINEMA