'Bate coração', com Ilvio Amaral e Maurício Canguçu, chega aos cinemas

Com temática espírita e transcendental, comédia dirigida por Glauber Filho toca em pontos importantes como homofobia e doação de órgãos

Ana Clara Brant 07/11/2019 06:00
Anualmente, a produtora Estação Luz Filmes realiza em Fortaleza a Mostra de Teatro Transcendental, que reúne montagens voltadas para a temática da espiritualidade, na qual são abordadas lições de fé, amor e altruísmo.
 
Foi durante esse evento que o diretor cearense Glauber Filho – que tem no currículo filmes com esse eixo, como Bezerra de Menezes e As mães de Chico Xavier – conheceu duas peças escritas pelo dramaturgo Ronaldo Ciambrino, que também seguiam essa linha transcendental: Acredite, um espírito baixou em mim, estrelado pelos atores mineiros Ílvio Amaral e Mauricio Canguçu, e Coração safado, com direção de Ilvio.

Enquanto a primeira fala sobre um homossexual que, inconformado com a própria morte, foge do céu para viver novas experiências e acaba criando uma grande confusão após incorporar num machista radical, a segunda traz a história de Safira, que, após sofrer infarto, recebe a doação do coração de Danilo, um conquistador barato que morreu ao praticar sexo com a amante.
 
Downtown Filmes/Divulgação
Ilvio Amaral e Maurício Canguçu vivem as vilãs travestis Dolores e Cassandra Mercury (foto: Downtown Filmes/Divulgação)

“Além de ter gostado muito do trabalho dos dois (Maurício e Ilvio), achei que daria para pegar o que cada uma dessas produções tinha de melhor e criar algo novo”, explica o cineasta.

Ao lado do próprio Ronaldo e do ator Daniel Dias, Gláuber criou o roteiro de Bate coração, filme que chega hoje (7) aos cinemas de BH e Contagem. A trama gira em torno de Sandro (André Bankoff) e Isadora (o ótimo e irreconhecível Aramis Trindade). O primeiro é um publicitário solteirão e conquistador, que é comprometido com o trabalho, mas tem opiniões homofóbicas.
 
Já Isadora é uma travesti e dona de um salão de beleza que passou por vários obstáculos durante a vida para vencer o preconceito. A história deles se cruza quando na noite de ano-novo Sandro sofre ataque cardíaco e acaba precisando de um coração novo, que pertencia à travesti que faleceu momentos antes, vítima de um atropelamento. Após o transplante, ela – já um espírito – passa a seguir os passos do publicitário, enquanto ele começa a ter mudanças significativas de comportamento.

Além de sócios percentualizados da produção, Maurício e Ilvio atuam no longa como a dupla de vilãs Dolores e Cassandra Mercury, duas travestis que são desafetos da protagonista. Ilvio Amaral ressalta o papel de entretenimento do filme, mas também sua missão social.
 
“Ele tem vários motes interessantes, como a doação de órgãos, contando, inclusive, com depoimentos reais, traz a questão da homofobia, que, infelizmente, está super em voga. Tenho percebido nas pré-estreias que as pessoas estão se divertindo, mas também se emocionando. Acredito que o filme vai causar todo tipo de reação”, frisa o ator e diretor, que celebra seu personagem. “Não sei como conseguiram deixar eu e Maurício ainda mais feios (risos). Mas Cassandra foi um presente. Ela é divertidíssima. Achei que seria uma participação, mas ela tem uma função essencial na trama”, pontua.

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Aramis Trindade está irreconhecível e arrasa como Isadora: comédia retrata temas atuais, como homofobia e doação de órgãos (foto: Downtown Filmes/Divulgação)
EMPATIA

Para Gláuber Filho, Bate coração – que, segundo ele, é a primeira comédia espírita ou transcendental das telas no Brasil – tem a urgência de resgatar um pouco da humanidade que as pessoas andam perdendo e traz à tona a importância de olhar para o outro. “É preciso ter empatia e reconhecer o outro na sua existência, na sua diferença. A sociedade só é sadia enquanto diversa. O coração é a metáfora para olhar as coisas através do sentimento, da emoção. Espero que o espectador consiga se sentir tocado nesse sentido também”, comenta.

O filme traz ainda Heloísa Jorge, Paulo Verling, Mariana Armellini, Brenno Leone, Germana Guilherme, Denis Lacerda e Patricia Dawson. “Até o nosso elenco reflete a diversidade da sociedade. Temos atores trans, cisgêneros, drags. E isso é bem bacana”, salienta.

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