A Turma da Mônica ganha versão em carne e osso no cinema

Longa 'Laços' estreia nesta quinta (27) em mais de 700 salas do país. Trama é baseada em HQ dos irmaõs mineiros Lu e Vitor Cafaggi sobre o sumiço do cão Floquinho

por Ana Clara Brant 27/06/2019 08:00
 Serendipity Inc./Divulgação
O quarteto de atores foi selecionado entre 7,5 mil candidatos e teve que ter aprovação de Mauricio de Sousa (foto: Serendipity Inc./Divulgação)

Giulia Benite, uma garotinha de 10 anos, de São Paulo, agora atende pelo nome de Mônica. Laura Rauseo, de 11, nascida em Bragança Paulista (SP), é Magali. O carioca Gabriel Moreira, de 11, passou a ser Cascão. E Kevin Vechiatto, de 12, natural de Guarulhos (SP), se tornou Cebolinha. Num universo de 7,5 mil candidatos, eles foram os escolhidos para interpretar os personagens mais queridos da história dos quadrinhos infantis no Brasil. "Sempre quis fazer um filme com atores, mas tinha o receio de não encontrar as crianças certas, com a mesma sinergia dos personagens. Mas, quando conheci essa garotada, já vi que eles se transformaram na Turma da Mônica. E isso se reflete não só na tela, mas entre eles, já que se tornaram amigos de verdade", afirma Mauricio de Sousa, o criador dos personagens.

De fato, o desempenho do elenco principal é um dos trunfos de Turma da Mônica – Laços, longa-metragem de Daniel Rezende (Bingo: o rei das manhãs) que estreia nesta quinta-feira (27) em 700 salas do país. A história gira em torno das aventuras do quarteto para encontrar o cão Floquinho. O quadrinista diz que ter Rezende na direção "foi mais um motivo” que o ajudou “a ter mais confiança no projeto”. Quando conversou com a reportagem, na última segunda-feira (24), dia da pré-estreia do filme em Belo Horizonte, Mauricio de Sousa já havia visto o longa cinco vezes. E se emocionou em todas.
 

 
O criador da turminha faz uma ponta em Laços, como o dono de uma banca de jornal. "Quando eu era mais jovem, cheguei a fazer radionovelas, mas era uma brincadeira. Agora me sugeriram aparecer no filme assim,  como Alfred Hitchcock fazia nos filmes dele, e o Stan Lee (criador da Marvel) também. Nunca pensei em ser ator. Mas, se me chamarem, vou lá e imito alguém", diverte-se. Mauricio de Sousa, que completa 84 anos em outubro, afirma que não consegue eleger aquilo de que mais gostou no filme e conta que, a cada vez que assiste, consegue reparar em mais algum detalhe.

Para Daniel Rezende, foi ao mesmo tempo um desafio e uma grande responsabilidade encarar essa experiência, considerando o fato de que a Turma da Mônica povoa o imaginário de milhões de pessoas, de várias gerações. "A gente está falando do maior ícone pop da cultura brasileira. Sempre declarei que não estava atrás de uma criança com as características físicas do personagem, mas uma que a gente pudesse olhar e enxergar a Mônica ou o Cebolinha ou a Magali. Nosso termômetro foi o Mauricio. Se o olho dele estivesse brilhando, a gente estava no caminho certo. E isso aconteceu quando definimos os protagonistas, as locações, a direção de arte."

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Poços de Caldas foi uma das locações do filme, cuja história gira em torno do sumiço do cão Floquinho (foto: Serendipity Inc./Divulgação)


MINEIROS O longa-metragem tem origem na graphic novel Laços, dos quadrinistas mineiros Lu e Vitor Cafaggi, lançada em 2013 e que se tornou, de acordo com a dupla, a mais vendida do país nesse formato. Mauricio de Sousa conta que, ao ler o trabalho dos mineiros – um dos diversos autorizados por sua produtora a criar histórias independentes com os personagens da Turma da Mônica –, enxergou ali um filme.

Vitor Cafaggi, que é professor na Casa dos Quadrinhos, em Belo Horizonte, diz que está realizando um sonho e que o filme superou todas as suas expectativas. "Não imaginava que pudesse fazer parte de algo que marcou tanto a minha infância. Quando assisti, foi uma sensação muito especial, diferente de qualquer filme que eu já tinha visto. Estou apaixonado e agradecido pelo carinho que tiveram com a nossa história. O longa é bem fiel à HQ, mas, ao mesmo tempo, traz os elementos clássicos do universo do Mauricio", comenta.
 
MAURICIO DE SOUSA É RECEBIDO PELA FILHA MAGALI NO CINEMA
 
 
Laços faz parte de uma trilogia, que deve ter seus dois outros capítulos levados também ao cinema. "Quando o Sidney Gusman (editor da Mauricio de Sousa Produções) nos pediu para fazer mais uma, que foi a Lições, a gente ficou surpreso e meio sem saber o que fazer. Colocamos tanta coisa na primeira que não tinha história para a segunda. Mas deu certo e acabamos fazendo uma terceira, que é Lembranças", conta o quadrinista, que não teve participação no roteiro do filme – assinado por Thiago Dottori –, mas chegou a lê-lo e aprová-lo, junto com a irmã e parceira no trabalho, Lu Cafaggi.

Daniel Rezende conta que já está envolvido com a continuação do longa. "Pelo que estamos sentindo nas pré-estreias, conseguimos nosso objetivo, porque as pessoas estão saindo muito emocionadas. É fundamental o filme fazer uma boa bilheteria, sobretudo nas primeiras semanas, até para estimular as continuações", afirma. Mauricio de Sousa também está na torcida pela viabilização da trilogia. "Espero que as pessoas saiam da sala de cinema e peçam mais", diz.
 
 
MAURICIO FALA SOBRE A PRODUÇÃO DO LONGA
 
 
LOCAÇÕES Além de Turma da Mônica – Laços ter sido inspirado na graphic novel dos irmãos Cafaggi e ter tido Poços de Caldas como uma das locações (as demais foram Holambra, Paulínia e Cubatão, todas em São Paulo), dois atores mineiros estão no elenco. Ítalo Viana, de 12, estreia no cinema na pele de Bolão, personagem original criado para a HQ e que é um dos líderes de uma turma rival. Ele e seus amigos estão na missão de encontrar um cachorro desaparecido, assim como a Turma da Mônica.
 
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A atriz mineira Fafá Rennó faz Dona Cebola, enquanto Paulo Vilhena é seu Cebola, os pais de Cebolinha (foto: Serendipity Inc./Divulgação)
 
Conhecida por seu trabalho em teatro e em séries de TV, a atriz Fafá Rennó, de 40, natural de Belo Horizonte e radicada há sete anos em São Paulo, teve em Laços seu primeiro papel no cinema. Ela interpreta Dona Cebola e faz par com Paulo Vilhena (Seu Cebola). "Já tenho uma estrada no teatro, mas imagina fazer o primeiro longa da minha vida com o universo do Mauricio de Sousa, que marcou a minha infância e a de milhões de crianças, sendo a mãe do Cebolinha. É muito forte e bonito fazer parte disso. Sou extremamente honrada e agradecida", afirma.

Fafá conta que chegou a se emocionar quando se viu caracterizada como sua personagem e que a primeira tomada que filmou foi em Poços de Caldas. "Tudo foi muito especial. E ainda tive, assim como os demais atores, de ser aprovada pelo próprio Mauricio.” Ela afirma que trabalhar com o Daniel Rezende “é um presente. Ele é um cara atento, fez uma direção muito sensível e sabe o que quer”. A experiência foi tão marcante para Fafá que, após as filmagens, ela decidiu que queria ter um registro dela na própria pele. "Eu e a mãe do Kevin (intérprete do Cebolinha) fizemos no mesmo dia uma tatuagem do Cebolinha no braço. É para marcar mesmo." Também estão no elenco principal Rodrigo Santoro, que rouba a cena como o Louco, Monica Iozzi, que dá vida a dona Luísa, mãe da Mônica, e Ravel Cabral como o Homem do saco.
 
EMOCIONADA, MAGALI CHOROU AO FINAL DA EXIBIÇÃO
 

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