Filme brasileiro 'Bacurau' leva prêmio do júri em Cannes

Produção dos diretores Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles tem Sônia Braga no elenco

por Ana Clara Brant 25/05/2019 14:28

Victor Jucá/Divulgação
Sônia Braga vive Domingas na produção que mescla western e ficção científica (foto: Victor Jucá/Divulgação)
Apesar das incertezas e dos cortes que enfrenta, o momento é de festa para o cinema brasileiro. Pelo menos nesse fim de semana. O país conquistou três prêmios em um dos festivais de maior relevância do mundo, o de Cannes, na França. Neste sábado (25), último dia do evento, Bacurau, dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, saiu consagrado e levou o Prêmio do Júri na 72ª edição do Festival francês - honra dividida com Les miserables, de Ladj Ly. É o terceiro prêmio mais importante do evento. A cobiçada Palma de ouro ficou com Parasite, do diretor sul-coreano Bong Joon-Ho. A notícia acabou indo parar nos assuntos mais comentados do Twitter.


Havia uma grande expectativa em torno do filme brasileiro que foi exibido no dia 15, com a presença da dupla de diretores e parte do elenco. A repercussão na imprensa internacional foi positiva, com algumas poucas criticas mistas e negativas. A atriz mineira Bárbara Colen, que repete a parceria com Kleber e Juliano, após Aquarius (2016), e interpreta Teresa, em Bacurau, falou ao Estado de Minas sobre a importância da premiação. "É uma experiência muito bonita ver um filme como Bacurau, um filme tão brasileiro, tão combativo, ser reconhecido com um prêmio em Cannes. Ainda mais em uma competição como a deste ano em que estavam reunidos grandes diretores do cinema mundial. É a comprovação de que a nossa história chegou até as pessoas e isso é extremamente gratificante", salientou.


Kleber Mendonça Filho - que esteve em Cannes há três anos lançando Aquarius - também ressaltou a conquista. "Trabalhamos para a cultura no Brasil e o que precisamos é de seu apoio. Os artistas são embaixadores da cultura brasileira no exterior", afirmou o diretor ao receber o prêmio ao lado de Juliano Dornelles que dedicou o troféu a todos os trabalhadores do Brasil da ciência, da educação e da cultura.


Além de Bacurau - que mescla western, aventura e ficção científica - o Brasil teve outras conquistas.Também neste sábado The Lighthouse, produção Brasil - EUA, levou o Prêmio da crítica. Estrelada pelo astro da saga Crepúsculo, o ator britânico Robert Pattinson - que, aliás, será o novo Batman - o longa é produzido pela RT Features, do carioca radicado em São Paulo, Rodrigo Teixeira, em parceria com a New Regency e a A24 e é um thriller psicológico de tons sobrenaturais. Na sexta (24), o drama A vida invisível de Eurídice Gusmão, do diretor cearense Karim Aïnouz, arrebatou o prêmio principal da mostra Un certain regard (Um certo olhar), a segunda mais importante de Cannes.


SERTÃO
Nome da fictícia cidade onde se passa a história, Bacurau é o apelido do último ônibus da madrugada em Recife. Vem do pássaro de perna curta e asa longa que voa de noite. Na história, a cidadezinha perde a matriarca e, dias depois, descobre que a própria comunidade desapareceu do mapa. A estreia está prevista para o segundo semestre. Na descrição de Kleber e Juliano, "Bacurau é um filme de aventura ambientado no Brasil ‘daqui a alguns anos". O longa foi rodado no Sertão do Seridó, divisa do Rio Grande do Norte com a Paraíba, exatamente um ano atrás. As locações foram encontradas depois da equipe percorrer mais de dez mil quilômetros em Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. As filmagens duraram dois meses, com uma equipe de 150 pessoas. Além de Bárbara, o elenco traz Sonia Braga, o alemão Udo Kier, Silvero Pereira, Thomas Aquino, Antonio Saboia, Rubens Santos e Lia de Itamaracá.

Cinemascópio/Divulgação
Depois de Aquarius, atriz mineira Bárbara Colen volta a atuar em uma produção de Kleber Mendonça Filho (foto: Cinemascópio/Divulgação)

Conquistas
O Brasil nunca levou um Oscar mas fez bonito em outros festivais importantes da sétima arte ao longo dos anos. A única vez em que o país conquistou a Palma de ouro em Cannes, o prêmio mais importante do festival, foi em 1962, com O pagador de promessas, do diretor Ancelmo Duarte. O prêmio de Orfeu do Carnaval, filme do cineasta francês Marcel Camus rodado aqui, foi concedido à França.
Em 1986, Fernanda Torres foi a primeira brasileira a receber prêmio de melhor atriz por Eu sei que vou te amar, em Cannes. Em 2008, a atriz paulistana Sandra Corveloni venceu na mesma categoria por sua atuação em Linha de passe, de Walter Salles e Daniela Thomas. O cangaceiro, de Lima Barreto, foi o primeiro longa-metragem brasileiro a ganhar um prêmio em Cannes, em 1953. A produção ganhou na categoria Melhor Filme de Aventura.

 

Glauber Rocha levou o prêmio de Melhor Diretor por O dragão da maldade contra o santo guerreiro, em 1969. Ainda no festival francês, o diretor baiano levou o Prêmio da Federação Internacional de Imprensa Cinematográfica (Fipresci) por Terra em transe, em 1967. Em 1998, Central do Brasil, de Walter Salles, levou o Urso de Ouro de melhor filme no festival de Berlim. Na ocasião, Fernanda Montenegro também foi agraciada com o prêmio de melhor atriz. Em 2008, depois de dividir a crítica (alguns críticos aclamaram o filme como uma "verdadeira obra-de-arte" enquanto para outros se tratava de um filme fascista), Tropa de Elite (2007) trouxe novamente o Urso de ouro para cá. (COM AGÊNCIAS) 

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