Filme 'A vida em família' mostra relação entre parentes desajustados

Comédia dramática italiana não tem um protagonista e se passa num minúsculo vilarejo

por Pedro Galvão 06/09/2018 08:52
Pagu Pictures/Divulgação
Pagu Pictures/Divulgação (foto: Pagu Pictures/Divulgação)
Conexões e confusões familiares guiam o italiano A vida em família, de Edoardo Winspeare. Apresentado pela primeira vez na Mostra Orizzonti, no Festival de Veneza de 2017, o filme contraria quem espera uma história de pais e filhos em harmonia em cenários romanos ou milaneses. Sob o título original de La vita in comune, a trama tem sim uma família, mas desunida e desajustada, que vive em um minúsculo vilarejo do interior do país. O longa já foi exibido no Brasil dentro do Festival 8 ½ do Cinema Italiano e, agora, entra no circuito comercial.

Em conversa com o Estado de Minas, o diretor explica que o título original em italiano é, na verdade, intraduzível, sendo “uma metáfora para a vida política e comunitária de um local”. O lugarejo é a fictícia Desperata (desesperada, em português), onde o atual prefeito Filippo Pisanelli (Gustavo Caputo) se encontra em um grande vazio existencial por conta de sua incapacidade administrativa, que obviamente chateia também os outros poucos cidadãos. O que ainda o motiva são as aulas de poesia que dá aos detentos do presídio local.

O aluno mais interessado é Pati (Claudio Giangreco), preso por pequenos delitos que cometia junto com o cunhado Angiolino (Antonio Carluccio). Este se encontra em liberdade, mas frustrado com sua vida miserável na quase deserta Desperata. Ele aposta no crime como solução milionária e sonha em um dia liderar a Máfia, embora mal consiga roubar uma mercearia local. Apesar da mente perversa, nutre grande devoção pelo papa Francisco. Com todas essas características e a fala exageradamente gesticulada, é quase uma caricatura italiana.

Angiolino tenta influenciar o sobrinho adolescente Biagetto (Davide Riso), filho de Pati, a entrar para a vida do crime. De temperamento dócil, ele fica balançado e pressionado a se afirmar através do crime. Obviamente, a ideia desagrada a Eufemia (Celeste Casciaro), mãe do jovem, que trabalha no supermercado e também aspira à liderança política do povoado. Sem um personagem principal, essas histórias de misérias pessoais, amizades e afetos se misturam em uma comédia dramática em que “o protagonista é o povoado”, segundo Edoardo Winspeare.

INSPIRAÇÃO NO SUL A inspiração para o diretor e roteirista veio da própria região em que ele vive, no extremo sul da “bota”, na região de Lecce. “Rodei o filme em vilarejos da minha região e puxei todas as características de um povoado do Sul italiano, onde não há trabalho e os homens ficam ali como que esperando um milagre, e cumprindo esse papel do machão. Retrato essa gente com um olhar irônico, mas também de carinho. Não é um julgamento. Para mim, todos os seres humanos têm coisas boas e ruins dentro deles”, explica.

O regionalismo, a simplicidade e autenticidade das figuras em cena e do lugar são atestados por outros aspectos da produção. Celeste Casciaro é sua esposa e Caputo seu colega de produtora. Já Giangreco e Carluccio, segundo ele, têm um passado parecido em alguns aspectos com os personagens que interpretam. “É um filme em que tento sintetizar um povoado do Sul da Itália, contando sobre a amizade entre um homem amável, mas incapaz politicamente, com dois bandidos que descobrem a arte graças a essa amizade”, diz Winspeare.

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