Com boa presença latina, Festival de Veneza abre amanhã sua 75ª edição

Produções de Argentina, Brasil, Guatemala e México aparecem entre as sessões do evento, cujo prêmio principal é o Leão de Ouro

por AFP 28/08/2018 08:00

 

Linus Sandgren/Divulgação
Ryan Gosling interpreta Neil Armstrong em O primeiro homem, longa de Damien Chezelle que abre o festival (foto: Linus Sandgren/Divulgação)
Com dois filmes mexicanos e um argentino na competição oficial, o cinema da América Latina se confirma como um dos protagonistas do 75º Festival de Veneza, que começa nesta quarta-feira (28) e prestará uma homenagem inédita ao ex-presidente uruguaio José Mujica. O cinema latino-americano estará presente em todas as seções do festival europeu, com títulos da Argentina, Brasil, Guatemala e México.

O concorrente do México é Roma, a história da família do cineasta Alfonso Cuarón, que venceu o Oscar com seu longa anterior, Gravidade (2013) – o filme ganhou outras seis estatuetas. Rodado em branco e preto e ambientado nos anos 1970, Roma competiria no Festival de Cannes, mas o desentendimento entre os organizadores do festival francês e a Netflix – que não aceitou cumprir a exigência de Cannes de lançar o filme nos cinemas franceses – fez com que o longa de Cuarón terminasse em Veneza.

“Não vejo motivos para excluir um filme de Cuarón só porque foi produzido pela Netflix”, afirmou o diretor do Festival de Veneza, Alberto Barbera, que convidou seis produções da plataforma de streaming para esta edição, incluindo o último trabalho dos irmãos Coen.

Outro diretor mexicano várias vezes premiado em Cannes, Carlos Reygadas estreia em Veneza com Nuestro tiempo, que ele protagoniza junto com sua esposa, Natalia López. O longa é sobre um casal que vive isolado no campo. O argentino Gonzalo Tobal também estreia em Veneza, competindo pelo Leão de Ouro com Acusada, um filme baseado em fatos reais sobre um assassino brutal que tem como protagonistas Lali Espósito e Gael García Bernal.

CONVIDADA A Argentina é também a convidada especial do festival, com seis filmes nas diferentes seções, entre eles os esperados novos longas de Gastón Duprat (Mi obra maestra) e Pablo Trapero (La quietud). Premiado como melhor diretor em 2015 por O clã, Trapero regressa com um filme sobre uma família cheia de segredos e dominada por mulheres. “O cinema argentino é o mais inovador e interessante de toda a América Latina e o que mais soube se renovar”, afirmou Barbera.

Brasil e Guatemala estarão presentes na seção paralela Venice Days, dedicada a filmes inovadores, com Domingo, de Clara Linhart e Felipe Barbosa, um drama familiar ambientado no dia da primeira posse do ex-presidente Lula; e José, do chinês Li Cheng, uma história de amor homossexual que transcorre no país centro-americano. Os outros dois filmes brasileiros que marcarão presença no festival são Deslembro, de Flavia Castro, na seção Horizontes; e o documentário Humberto Mauro, sobre o pioneiro do cinema nacional, dirigido por André Di Mauro, na seção Venice Classics.

O júri internacional será presidido pelo mexicano Guillermo del Toro, vencedor do Leão de Ouro no ano passado com A forma da água, que levou também o Oscar. O filme de abertura será O primeiro homem, em que o ator Ryan Gosling interpreta o astronauta Neil Armstrong, sob a direção de Damien Chazelle. A dupla encantou Veneza em 2016 com La la land – Cantando estações.

 

MUJICA EM DOSE DUPLA

O ex-presidente uruguaio José “Pepe” Mujica, de 83 anos, que deixou recentemente seu assento no Senado para se dedicar à “batalha das ideias”, confirmou sua presença no Festival de Veneza, que exibirá dois filmes sobre ele. Ex-guerrilheiro tupamaro que foi presidente do Uruguai entre 2010 e 2015, Mujica é um símbolo da esquerda latino-americana, admirado por seu estilo de vida austero e sua atual defesa de uma “revolução tranquila”. Veneza assistirá aos documentários sobre sua trajetória El Pepe, una vida suprema, do cineasta sérvio Emir Kusturica, e La noche de
12 años, do uruguaio Álvaro Brechner. Neste último, Mujica conta sua longa prisão em condições subumanas, sua luta para sobreviver e o valor da introspecção.

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