'Vida' tenta fugir do clichê, mas cai na mesmice do filme de alien

Filme, que chega nesta quinta (20) aos cinemas, é protagonizado por Rebecca Ferguson e Jake Gyllenhaal

por Pedro Galvão 20/04/2017 09:03
COLUMBIA PICTURES/DIVULGAÇÃO
Ryan Reynolds é coadjuvante em 'Vida' (foto: COLUMBIA PICTURES/DIVULGAÇÃO)
Nem monstrengos aterrorizantes, nem armas a laser ou discos voadores. A princípio, nada disso faz parte de Vida, a mais nova ficção científica sobre a descoberta de atividades biológicas fora da Terra. No entanto, o filme, que chega nesta quinta (20) aos cinemas, apenas parte de um ponto de vista mais realista e factível para depois entregar o que muitos fãs do gênero ainda querem ver: humanos em sérios apuros por causa de alienígenas destrutivos.

A história se passa na Estação Espacial Internacional nos dias de hoje. Em mais uma missão da Nasa operada por um grupo de seis astronautas e cientistas de diferentes países, uma sonda que explorava o solo de Marte chega com uma grande novidade: um micro-organismo unicelular encontrado no planeta vizinho. Trata-se da primeira comprovação de vida em outro planeta.

A criatura microscópica é alocada em um laboratório da estação, enquanto a descoberta repercute aqui na Terra. O assunto é destaque nos principais programas de TV e até um concurso para escolher o nome do minúsculo extraterrestre é realizado nas escolas norte-americanas. Uma sequência de acontecimentos que pode ser assimilada com certa verossimilhança, considerando recentes declarações da própria Nasa sobre os avanços em suas pesquisas e a possibilidade de descobertas nesse sentido ocorrerem até a próxima década.

COADJUVANTE

O filme ainda ganha um tom mais realista com uma apresentação mais íntima de cada personagem. Rebecca Ferguson é a doutora Miranda, responsável pela saúde e segurança da tripulação, com um procedimento sempre racional e metódico. Ryan Reynolds interpreta Ross, um técnico em astrofísica de temperamento bem mais emotivo e explosivo. Embora tenha figurado na lista de indicados ao Globo de Ouro neste ano pelo papel de destaque em Deadpool, em Vida ele é apenas coadjuvante.

O protagonismo, além de Ferguson, fica por conta de Jake Gyllenhaal e Ariyon Bakare. Gyllenhaal é o doutor David, chefe da missão que está há 473 dias no espaço e diz não suportar mais a vida na Terra por conta dos horrores que testemunhou em sua antiga carreira de militar. Bakare é um cientista que encontra na falta de gravidade do espaço a liberdade que não tinha aqui, por ser cadeirante. Cabe a ele observar e cuidar da nova forma de vida, por quem acaba desenvolvendo até um certo afeto. O japonês Shio (Hiroyuki Sanada), cuja esposa está prestes a dar à luz na Terra, e a russa Cat (Olga Dihovichnaya) completam o time de forma mais discreta.

Os astronautas mais humanizados, com dramas e histórias pessoais comuns por trás da roupa espacial, fazem lembrar o recente sucesso A chegada, que também tratava da aproximação com extraterrestres. O contexto também remete a Gravidade (2014), de Alfonso Cuarón, que aparece como clara referência para o diretor sueco Daniel Espinosa em vários momentos do filme, não apenas nas cenas dos tripulantes flutuando pela estação espacial e os planos abertos da órbita terrestre, como também pela ênfase na insignificância humana diante do espaço em situações de risco.

A ambientação mais emocional e sensível é apenas pano de fundo para mais uma trama de ação e terror envolvendo seres de outro planeta. O desenvolvimento biológico surpreendente do ser recém-descoberto e a maneira cruelmente antropocêntrica com que lidamos com as outras formas de vida dão origem a um caos dentro da estação espacial. Em vez de A chegada ou Gravidade, a referência cinematográfica que prevalece é claramente Alien, o oitavo passageiro (1979). Com cenas de tensão, destruição e vários lugares comuns a filmes do gênero, Vida é predominantemente sobre sobrevivência.

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