Ricardo Darín estrela drama 'Kóblic', que chega aos cinemas em 13 de outubro

O filme é dirigido por Sebastián Borensztein, o mesmo de 'Um conto chinês', também protagonizado pelo ator argentino

por Márcia Maria Cruz 03/10/2016 08:35
Antena 3/Divulgação
(foto: Antena 3/Divulgação)
Com estreia prevista para 13 de outubro, o filme Kóblic (2016), segundo trabalho do ator Ricardo Darín com Sebastián Borensztein (diretor de Um conto chinês, 2011), poderia ter enfoque histórico sobre os voos da morte durante a ditadura militar na Argentina. Mas a obra é mais do que a descrição de um período tenebroso e de abordagem recorrente na filmografia argentina. Não deixa de ser sobre paixões, relações de gênero e, de alguma forma, sobre a banalização do mal (tomando emprestado o termo de Hannah Arendt), que se abre quando o Estado democrático de direito deixa de ser o horizonte normativo. Quando “as autoridades” podem determinar sobre a vida e a morte de qualquer um, tornando-se julgadores, a barbárie impera. De maneira poética, Borensztein mostra como relações mais simples, num pacato vilarejo, se tornam fragilizadas quando o Estado, que deveria garantir a legalidade, abre mão dela para combater subversivos.


A narrativa se passa no final dos anos 1970 na Colônia Elena (vilarejo fictício), quando o capitão Tomas Kóblic se retira da carreira militar, buscando refúgio junto a um amigo, que lhe oferece trabalho como piloto de monomotor responsável pela pulverização da lavoura. A imagem de vilarejo pacato é construída tanto na fotografia bucólica quanto nos cortes que determinam o ritmo narrativo. Mas o autor apresenta que o território das turbulências é outro. Onde há interações entre os sujeitos haverá decisões difíceis a serem tomadas. Se o isolamento foi uma maneira de fugir dos dramas de consciência gerados por sua atuação na armada argentina, Kóblic será muitíssimo exigido na Colônia Elena. Os voos da morte, dos quais participou o personagem, são uma lembrança a atormentá-lo, mas a relação que estabelece com as pessoas locais testará Kóblic em diferentes situações. Nesse aspecto, a qualidade dramatúrgica de Darín dá densidade a Kóblic, não sendo possível chegar a conclusões fechadas sobre a personalidade do piloto.


Perto de completar 60 anos em janeiro, Darín não se distancia do papel de galã. Ao contrário, confirma que, além do enorme talento, a beleza joga a seu favor mesmo com o passar dos anos. Parte importante da trama se desenrola em virtude da paixão de Kóblic por Nancy, personagem vivida por Inma Cuesta. Bela mulher de 30 e poucos anos, ela trabalha no mercado do vilarejo e vê os dias passarem sem qualquer perspectiva. Ela é resiliente ao destino até a chegada do enigmático Kóblic. Aliás, o piloto desperta não só a atenção de Nancy, como a ira dos homens. Kóblic é uma construção complexa: um homem tomado por exames de consciência e extremamente vulnerável, mas que teve papel decisivo na engrenagem de tortura da ditadura argentina.


Borensztein apresenta cenas ordinárias de maneira plástica. Ganham destaque os galhos pelados das árvores no outono, os cães abandonados que perambulam pela colônia. A relação dos personagens com cães nos faz lembrar do mexicano Amores brutos (2000), do diretor Alejandro Iñárritu. A fotografia remete o espectador à temporalidade da Colônia Elena, um local sem grandes acontecimentos, em que as pessoas aparentemente existem sem grandes pretensões. A narrativa é uma maneira de dizer que, mesmo diante de situações extremas, como a ditadura militar, a vida ordinária segue e pode ser surpreendente. Diante da falta de liberdade, os cidadãos vivem numa dimensão suspensa em que não se pode viver na plenitude, mas que a visceralidade das paixões floresce.

 

Confira o trailer:

 

 

MAIS SOBRE CINEMA