Pequeno segredo terá de vencer desafios para chegar a Hollywood

Produções da Espanha, México, Irã, Alemanha, Venezuela e Chile são pedras no caminho do Brasil

por Mariana Peixoto 25/09/2016 07:47

Universal Divulgação
O espanhol Julieta, filme de Pedro Almodóvar, é forte concorrente do Brasil (foto: Universal Divulgação)
Bater 15 longas e ser escolhido o candidato do Brasil a uma vaga no Oscar de filme estrangeiro foi fichinha perto do que vem por aí. O caminho de Pequeno segredo, de David Schurmann, ainda terá muitas pedras até 24 de janeiro, quando a Academia de Hollywood anunciará as cinco produções que disputarão a estatueta em 2017 – a cerimônia de premiação está marcada para 26 de fevereiro.

Só para ter uma ideia, este ano, quando o húngaro O filho de Saul levou o Oscar, 81 filmes estrangeiros foram inscritos. Até agora, dezenas de países enviaram suas candidaturas. Alguns bem tradicionais, caso da Espanha, que escolheu Julieta, o longa mais contido de seu mais importante cineasta, Pedro Almodóvar (que tem os Oscars de roteiro para Fale com ela e de filme estrangeiro para Tudo sobre minha mãe).

A Alemanha, que concorreu quase duas dezenas de vezes (e tem três estatuetas), vem sendo apresentada, por ora, como a favorita. A comédia dramática Toni Erdmann, de Maren Ade, não levou a Palma de Ouro, mas causou frisson no Festival de Cannes – conquistou uma pá de prêmios em festivais europeus, entre eles o de San Sebastián, no País Basco. A narrativa, de quase três horas, trata do relacionamento nada tranquilo entre um pai e sua filha.

LATINO

Um dos poucos atores latinos a realmente ter carreira de peso em Hollywood, Gael García Bernal encabeça o elenco de duas produções latino-americanas. O escolhido mexicano foi Desierto, de Jonás Cuarón, filho de Alfonso Cuarón, vencedor das estatuetas de direção e montagem por Gravidade. O personagem de Bernal integra um grupo de pessoas que tenta cruzar a fronteira do México com os EUA.

Na cinebiografia chilena Neruda, de Pablo Larraín, hoje o diretor mais celebrado daquele país, Bernal interpreta o inspetor Óscar Peluchonneau. Em 1948, durante a caça aos comunistas determinada pelo então presidente Gabriel Gonzalez Videla, seu personagem toma como missão perseguir o poeta Pablo Neruda (Luis Gnecco).

Ainda na seara latina, outra produção para ficar de olho é a escolha da Venezuela para o Oscar. Vencedor do Leão de Ouro em Veneza em 2015, De longe te observo, de Lorenzo Vigas, conta a história de um homem de meia-idade que contrata garotos apenas para observá-los.

Bem longe do continente latino-americano, outra aposta para chegar à lista dos cinco é a produção iraniana Forushande, de Asghar Farhadi (de O passado e A separação). Nessa coprodução com a França, o diretor filma um casal de atores em crise enquanto ensaia a montagem de A morte de um caixeiro viajante, de Arthur Miller.

PROCESSO

Os países têm até 3 de outubro para inscrever seu candidato ao Oscar de filme estrangeiro. Haverá uma nova etapa, em que o comitê de seleção escolherá nove filmes, que serão anunciados em dezembro. Os pré-finalistas passarão por nova triagem, de onde sairão os cinco finalistas.

Na corrida para o Oscar estão incluídas sessões para votantes, imprensa e formadores de opinião. Também são obrigatórios entrevistas e anúncios na mídia especializada americana. Na categoria de filme estrangeiro, vota uma comissão especial. Cabe à própria Academia organizar as sessões em que os votantes assistirão às produções. E como são dezenas de filmes, ela divide a comissão.

Pequeno segredo, com o perdão do mau trocadilho, vinha sendo mantido em segredo até o anúncio da seleção, no dia 12. Seu lançamento nacional está marcado para novembro. O filme vai ter muita visibilidade em outubro, pois será apresentado, fora de competição, no Festival do Rio.

Porém, para tentar entrar no Oscar 2017, o longa deve ter sido exibido em seu país de origem, durante pelo menos uma semana consecutiva, até 30 de setembro. Na última quinta-feira, o filme começou a ser apresentado. Está em cartaz em um único horário e em um único cinema no país, em Novo Hamburgo, no interior do Rio Grande do Sul. Mais restrito do que isso, o lançamento para cumprir tabela não poderia ser.

Cannes/Divulgação
O alemão Toni Erdmann, de Maren Ade, fez sucesso em Cannes (foto: Cannes/Divulgação)
 

E Aquarius, como fica?

Fora do Oscar de filme estrangeiro, o longa pernambucano pode conseguir uma indicação para melhor atriz para Sonia Braga. Conhecida no mercado americano, ela foi bastante elogiada em Cannes, mesmo não levando o prêmio. Novamente: para que isso ocorra, é necessário muito trabalho.

Em 2004, Cidade de Deus conseguiu quatro indicações ao Oscar (diretor, roteiro adaptado, fotografia e montagem) porque o todo-poderoso Harvey Weinstein tomou as rédeas da promoção do longa de Fernando Meirelles nos EUA. Aquarius tem como coprodutora a VideoFilmes, de Walter Salles.

Enquanto isso, o filme de Kleber Mendonça Filho continua sua escalada no exterior. Com público no Brasil já ultrapassando os 200 mil espectadores, Aquarius acabou de participar do Festival de Toronto, no Canadá. Na terça, chega ao Festival de Biarritz, na França. Tem ainda acertadas exibições em vários festivais europeus e asiáticos.

Aos EUA, o mercado que importa em se tratando de Oscar, o  longa chega em outubro. Participa do Festival de Cinema de Nova York e vai fazer première em Hollywood, em Los Angeles. Depois, será lançado no circuito comercial nesses dois grandes centros, bem como em São Francisco e em Miami.

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