Produções mineiras integram o Festival de Brasília

Com três curtas e dois longas-metragens selecionados, Minas Gerais tem o maior número de obras na mostra e reflete bom momento da produção no estado

por Mariana Peixoto 04/08/2016 20:03

teia/divulgação
teia/divulgação (foto: teia/divulgação)

 

No início desta semana, quando houve o anúncio dos longas selecionados para o 49º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, entre 20 e 27 de setembro, houve muita comemoração em Belo Horizonte. Já tendo participado de outras edições do evento, Marília Rocha e Ricardo Alves Jr. entraram no páreo com ''A cidade onde envelheço'' (primeira ficção dela) e ''Elon não acredita na morte'' (primeiro longa dele).


A última vez que dois realizadores de BH entraram em competição na categoria foi em 2010 – ''O céu sobre os ombros'', de Sérgio Borges, foi o grande vencedor daquela edição, com cinco Candangos, seguido por ''Os residentes'', de Tiago Mata Machado, que arrebanhou três prêmios.

Mais ao fim da semana, com o anúncio dos curtas, a invasão mineira só se comprovou. Dos 12 selecionados, três são mineiros: ''Constelações'', de Maurílio Martins; ''Solon'', de Clarissa Campolina; e ''Estado itinerante'', de Ana Carolina Soares. O funil, vale lembrar, foi grande: foram inscritos 132 longas e 473 curtas.

O curador do festival, Eduardo Valente, acompanha de perto a carreira dos realizadores. “Quatro deles dão continuidade a trajetórias bastante consistentes: as de Marília Rocha, Ricardo Alves, Clarissa Campolina e Maurílio Martins. Todos têm realizado filmes de grande força, que têm tido muita aceitação nos festivais nacionais e internacionais nos últimos anos. Mas é ótimo também que o quinto filme, de Ana Carolina Soares, apresente uma realizadora jovem que ainda não conhecíamos. É essencial essa presença para que saibamos que a cena mineira está se renovando sempre.” Ainda segundo Valente, os filmes selecionados são também bastante diferentes entre si. “E, nesse ponto, isto é uma força.” Todos eles foram filmados no estado, a maior parte em BH.

''A cidade onde envelheço'' é o primeiro filme de Marília que tem a capital mineira como cenário. Protagonizado por duas portuguesas, aborda a relação das duas mulheres frente a um lugar que não é o delas. A que acabou de chegar ao Brasil quer ficar aqui, enquanto a que aqui vive deseja retornar para Lisboa.

“Tive a chance de filmar lugares e pessoas importantes para mim em BH e, ao mesmo tempo, descobrir a cidade pelo olhar de duas estrangeiras. Belo Horizonte é uma cidade que captura as pessoas por razões muito particulares. Como não tem atrativos fáceis, é preciso algum tempo para conhecer seus quintais, o acolhimento natural com que se recebe quem é de fora, as pequenas cidades interioranas que convivem com a metrópole, certa tendência às amizades duradouras, que de alguma maneira tentei trazer para o filme”, comenta a diretora.

Morador da região central da cidade, Ricardo Alves Jr. filmou ''Elon não acredita na morte'' no próprio quintal. História de um homem que entra num processo de enlouquecimento com a procura pela mulher, teve como principal locação o antigo prédio da Escola de Engenharia da UFMG, na região da Avenida do Contorno.

“O longa vem do meu curta anterior (Tremor, de 2013). É uma espécie de pesadelo em que o personagem faz uma descida ao inferno. Os personagens que o cercam são ligados à razão, e Elon não os escuta. Gostei muito de filmá-lo porque utilizei espaços claustrofóbicos. O Diogo Hayashy (diretor de arte) entrou em espaços abandonados e trabalhamos muito a atmosfera, de luz (ou falta dela) e som”, diz Ricardo. Os dois longas já têm distribuidora e devem chegar ao circuito em 2017 pela Vitrine Filmes.

INCERTEZA Os dois concorrentes em longas se lembraram de que o resultado da seleção de Brasília reflete a política de incentivo à produção audiovisual do estado. “A não continuidade do Filme em Minas (programa bienal criado pela Secretaria de Estado de Cultura em 2004, cuja edição mais recente foi em 2014) vai refletir diretamente na quantidade de filmes produzidos em Minas”, comenta Ricardo Alves Jr.


Marília Rocha reitera essa opinião. “Espero que esse reconhecimento no mais tradicional festival brasileiro, num momento de profunda incerteza do cinema mineiro, seja também uma forma de provocar a reflexão sobre a importância do incentivo do governo do estado no cinema independente daqui.”

Em comunicado, a Secretaria de Cultura afirmou que o edital continua fazendo parte das políticas públicas do estado. “Sua edição mais recente aconteceu em 2014, mas o pagamento não foi efetuado pela gestão do governo anterior. A atual gestão assumiu a pasta com tal passivo, e conseguiu efetuar o pagamento em 2015.” O programa, de acordo com o comunicado, integra hoje o Programa de Desenvolvimento do Audiovisual Mineiro (Prodam), lançado em maio.

 

 

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