Depois de rodar festivais, 'Ela volta na quinta' chega aos cinemas de BH

O diretor André Novais Oliveira foi a faculdades de Belo Horizonte convidar alunos para assistirem à estreia comercial de seu primeiro longa-metragem

por Carolina Braga 24/02/2016 08:43
Genco Assessoria
Maria José Oliveira e Norberto Oliveira, os pais de André e protagonistas do longa dirigido pelo filho (foto: Genco Assessoria)
O cineasta mineiro André Novais Oliveira já passou pela tensão de ter filmes exibidos em festivais internacionais badalados, como os de Cannes (Quinzena dos Realizadores), Roterdã e Marselha. Figurou diversas vezes entre os selecionados de mostras nacionais, como o Festival de Brasília, o Panorama de Cinema (Salvador), a Semana dos Realizadores do Rio, a Mostra de Cinema de Tiradentes. Mas, para ele, nada se compara à curiosidade deste momento.

Com o longa Ela volta na quinta, Novais de Oliveira e seus parceiros da produtora mineira Filmes de Plástico estreiam no circuito comercial. O filme estará em cartaz a partir de amanhã nos cines Belas Artes e 104, em Belo Horizonte, e também em salas do Rio e de São Paulo. Na sequência, está previsto que chegue aos cinemas de Fortaleza, Recife, Porto Alegre e São Luís.

“É uma coisa nova mesmo e estamos vendo como ocorre”, afirma o tímido realizador de 32 anos, criado no Bairro Amazonas, em Contagem. Ao contrário do que muita gente possa supor, a semana de estreia do longa não teve para o diretor nenhuma semelhança com o glamour dos tapetes vermelhos. Incluiu divulgação corpo a corpo, além de debates na capital mineira, em São Paulo e no Rio de Janeiro.



Na segunda passada, às 9h, o cineasta estava no campus do Centro Universitário Una. Foi de sala em sala. Bateu à porta, principalmente, dos futuros colegas do curso de cinema. Sempre com o folheto de divulgação de Ela volta na quinta em mãos. Fez o mesmo no câmpus Coração Eucarístico, da PUC. Lá, ainda teve um debate com os alunos na hora do intervalo. “É um filme pequeno. A gente precisa muito de ajuda”, diz ele.

O circuito comercial de cinema tem um modus operandi bastante adverso para as pequenas produções. Se é uma batalha conseguir fazer com que o filme estreie, muitas vezes é ainda mais difícil mantê-lo em cartaz. O trabalho de formiguinha encarado pelo cineasta em Belo Horizonte tem o objetivo de garantir público suficiente para que seu longa não seja logo retirado das salas.

“Como o filme circulou bastante em festival, fomos conhecendo o perfil do público. É um drama muito sutil, simples, mas que tem uma carga social importante”, afirma o produtor, Thiago Macedo Correia.

Além das faculdades de cinema, também foram planejadas ações voltadas a grupos ligados à questão negra e de terceira idade. Novais Oliveira espera que a comunidade de Contagem vá ao cinema, mesmo com seu longa tendo conseguido espaço apenas em salas do chamado circuito de arte de Belo Horizonte. O Cine Belas Artes e o Cine 104 ficam, respectivamente, na região Centro-Sul e no Centro da capital.

André Novais Oliveira é “fazedor” de cinema artesanal. Ainda era aluno de edificações quando se matriculou na Escola Livre de Cinema, no início dos anos 2000. Como o salário de estagiário era curto para todas as despesas, não hesitou em fazer faxina para conseguir concluir a formação como cineasta.

No curta Pouco mais de um mês, misturou ficção e realidade ao levar para a tela a história do relacionamento dele e da namorada, Élida Silpe. O filme passou por mais de 30 festivais.

ROTEIRO  Assim como no curta, o próprio Novais Oliveira assina o roteiro de Ela volta na quinta. O longa foi rodado dentro da casa de seus pais, dona Zezé (Maria José Novais Oliveira) e seu Norberto Novais Oliveira, os protagonistas da história. Também estão no elenco o irmão, Renato, a cunhada, Carla Patrícia, e a mulher, Élida Silpe. O cinema de Andrezera – como o diretor é chamado pelos amigos – depende de intimidade.

Leandro Couri E.M/D.A Press
O cineasta André Novais Oliveira (foto: Leandro Couri E.M/D.A Press)
Ela volta na quinta retrata sutilmente as transformações da relação entre pais e filhos quando todos já se encontram na vida adulta e têm maneiras próprias de lidar com seus desafios.

Embora todos os atores desempenhem os mesmos “papéis” na vida real, trata-se de uma obra de ficção, sem tom documental. Se é que existe alguma semelhança com esse gênero, está na forma como a câmera vivencia a rotina daquela casa. “A ideia do filme surgiu em 2009. Faz muito tempo que penso nele. Cada etapa é uma sensação diferente, que não sei explicar muito bem”, afirma.

Graças ao curta Quintal, dona Zezé e seu Norberto embarcaram com o filho para a França. O longa estreou no FID Marseille em julho de 2013. Depois, a família (acrescida do irmão do cineasta) esteve junta no Festival de Brasília, onde Zezé e Norberto foram premiados pela atuação.

“Sinto que esse filme foi muito importante para a nossa família”, afirma o diretor. O sorriso de dona Zezé no vídeo que circula no Facebook do filme não deixa dúvidas. Na mensagem, ela faz uma brincadeira com o bordão de MC Bin Laden – “Tá tranquilo, tá favorável” – para anunciar a chegada do longa ao cinema. Nesta semana, mais uma vez, eles estarão juntos para novos debates em São Paulo.

MEIA PARA CONTAGEM

Na quinta passada, outra produção de Contagem, A vizinhança do tigre, chegou ao circuito. Os moradores da cidade que quiserem ver as produções no Cine 104 podem pagar meia, bastando apresentar comprovante de endereço ou o cartão da Transcom. “Muito massa saber que dois filmes que falam de periferia entram praticamente juntos. É uma coisa inédita e muito diferente”, comenta André Novais.

COLEÇÃO DE PRÊMIOS

Confira os troféus que  Ela volta na quinta recebeu em festivais

>> Melhor filme no 10º Panorama Coisa de Cinema – Salvador
>> Melhor filme na 7ª Semana dos Realizadores – Rio de Janeiro
>> Melhor filme brasileiro no 4º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba
>> Melhor ator e atriz coadjuvantes no 46º Festival de Brasília

FILMES DE PLÁSTICO

Radicada em Contagem, a produtora Filmes de Plástico é formada pelos diretores André Novais Oliveira, Gabriel Martins, Maurilio Martins e pelo produtor Thiago Macedo Correia. O objetivo deles é realizar obras de apelo popular e que retratem, com fidelidade e respeito, a vida na periferia e os personagens que habitam um universo em geral estigmatizado. O grupo trabalha na produção de outros dois longas. No coração do mundo será dirigido por Gabriel Martins e Maurilio Martins, e Temporada é o próximo projeto capitaneado por André Novais, ainda na fase inicial do roteiro.

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