Longa sobre artistas radicais vence 19ª Mostra de Tiradentes

Jovens infelizes ou um homem que grita não é um urso que dança levou o Troféu Barroco de melhor longa-metragem, na escolha do júri da crítica

por Ana Clara Brant 01/02/2016 09:30
Leo Lara/UNIVERSO PRODUÇÃO/DIVULGAÇÃO
(foto: Leo Lara/UNIVERSO PRODUÇÃO/DIVULGAÇÃO)
Para começar de novo, é preciso destruir. É essa a sinopse resumida do filme vencedor da 19ª Mostra de Tiradentes, encerrada no último sábado. Jovens infelizes ou um homem que grita não é um urso que dança levou o Troféu Barroco de melhor longa-metragem, na escolha do júri da crítica.

A produção conta a história de um grupo de artistas que vive reunido em uma pequena casa. Sofrendo com a falta de dinheiro, eles tentam criar uma arte revolucionária, capaz de enfrentar o sistema e libertá-los da opressão do governo. As tentativas falham, e eles partem para medidas extremas.

Segundo o diretor, o paulistano Thiago B. Mendonça, de 37 anos, estreante em longas, o título Jovens infelizes se refere ao livro do poeta, cineasta e escritor italiano Pier Paolo Pasolini (1922-1975) que discute a sociedade de consumo. “Essa obra fala de uma juventude condenada pelos erros dos pais, que foram justamente ter abraçado o consumismo que condenou as gerações seguintes. É um fascismo de consumo que, para mim, é muito mais cruel do que o fascismo do Mussolini”, diz.

Já a segunda parte do título, Um homem que grita não é um urso que dança, é um verso de Aimé Césaire (1913-2008), poeta, dramaturgo e ativista da Martinica. “Ao mesmo tempo em que Pasolini apresenta uma visão muito niilista, Césaire acredita nesse homem que grita, que luta. O filme é reflexivo e dialético já no título e tenta manter isso ao longo de sua narrativa e de sua estrutura”, afirma o cineasta.

Surpreso e feliz com o prêmio, Mendonça conta que a cópia de seu longa só ficou pronta na última quarta-feira, dois dias antes de sua exibição em Tiradentes. Nem o diretor havia assistido à montagem final. “No dia da exibição, fiquei morrendo de medo de ter algum erro na fita”, brinca. O resultado foi além da expectativa do diretor,  que também assina o roteiro. “Foi superbem acolhido. As pessoas ficaram emocionadas e tiveram reações que jamais imaginei. Apesar de ser uma produção bem geracional, que fala de uma determinada época, foi muito bonito ver que o filme consegue tocar e abarcar gente de outras gerações e experiências.”

Os filmes da Mostra Aurora foram avaliados pelo júri da crítica composto pela pesquisadora da Universidade Federal de Pernambuco Angela Prysthon, pelo professor e pesquisador da Universidade Federal de São Carlos Arthur Autran e pelos críticos Carlos Alberto Mattos (RJ), Marcelo Ikeda (PE) e Paulo Henrique Silva (MG).

PREMIAÇÃO


Confira o resultado da 19ª Mostra de Tiradentes

>> Melhor longa da Mostra Aurora pelo júri da crítica: Jovens infelizes ou um homem que grita não é um urso que dança (SP), de Thiago B. Mendonça

>> Melhor curta pelo júri popular: Madrepérola (RS), de Deise Hauenstein

>> Melhor curta da Mostra Foco pelo júri da crítica: Noite escura de São Nunca (RJ), de Samuel Lobo

>> Melhor curta pelo Canal Brasil: Eclipse solar (ES), de Rodrigo de Oliveira

>> Melhor longa da Mostra Transições pelo júri jovem: Tropykaos (BA), de Daniel Lisboa

>> Melhor longa pelo júri popular: Geraldinos (RJ), de Pedro Asbeg e Renato Martins

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