Produções de diretores com origem indígena são destaques da 19ª edição do Forumdoc

Festival do Filme Documentário e Etnográfico começa nesta quinta-feira, em Belo Horizonte, e segue até o dia 29

por Walter Sebastião 19/11/2015 08:00
Forumdoc/Divulgação
(foto: Forumdoc/Divulgação )
Uma grande praça e o encontro de realizadores para discutir os mais importantes temas postos ao mundo contemporâneo, como genocídios, exclusão, modelos de desenvolvimento, caminhos e descaminhos da geopolítica internacional. É assim que Júnia Torres define a 19ª edição do Forumdoc – Festival do Filme Documentário e Etnográfico, que o Coletivo Filmes de Quintal abre nesta quinta-feira, 19 de novembro, às 19h, no Cine Humberto Mauro, com a exibição dos filmes Navajo talking picture (1986) e The graffiti, da norte-americana Arlene Bowman. A diretora estará presente.

O Forumdoc vai até dia 29, com quase uma centena de filmes, brasileiros e de outros países, em diversos espaços da capital mineira, a começar por “Olhar – Um ato de resistência”, com curadoria de Andréa Tonacci. Já a mostra “Olney São Paulo (1936–1978)” tem curadoria de Ewerton Bellico. Carla Italiano, também coordenadora do Forumdoc, destaca a programação de documentários, “um modo de criação que precisa ser defendido” e que, segundo ela, hoje opera transitando nas fronteiras entre o registro etnográfico, a ficção, a arte e as novas tecnologias.

A presença da cineasta Arlene Bowman em Belo Horizonte registra inclusive o fato de que foi entre os navajos norte-americanos que, pioneiramente, ainda nos anos 1960, a câmera foi passada para realizadores indígenas. Ação que se difundiu por todo o mundo e que, no Brasil, existe há 25 anos, desenvolvida pelor projeto Vídeo nas Aldeias.

“Foi uma mudança de perspectiva que trouxe o olhar da própria comunidade sobre o mundo indígena e formou nova geração de realizadores”, explica Júnia Torres. Os diretores indígenas, ressalta Júnia, inclusive já venceram os festivais de Gramado e de Brasília, além divulgar seus trabalhos na internet. “São filmes que se impuseram pela qualidade estética, com enfoque mais aprofundado e melhor compreensão dos aspectos sociais, o uso da própria língua e uma narrativa envolvente. E que também colocou um embate político ao trazer novas leituras do processo de colonização”, acrescenta.

A apresentação da produção de cinema das comunidades indígenas, recorda Júnia Torres, é tradição no Forumdoc, que desde a segunda edição vem apresentando os trabalhos. “A novidade em 2015 é que estamos apresentando um panorama continental do realizado nas Américas”, frisa. A programação inclui encontros abertos ao público com realizadores indígenas, entre os dias 23 e 27, no Cine 104, com 20 diretores brasileiros e seis de outros países. O objetivo é a troca de experiências e a divulgação dessa produção pouco conhecida.

Contemporâneos

A mostra contemporânea vai contar com 16 filmes brasileiros e 11 estrangeiros, selecionados entre 600 obras inscritas. “O festival tem peneira fina, somos rigorosos na seleção”, brinca Júnia Torres. O critério usado na escolha dos filmes foi a articulação entre forma e conteúdo. “Interessa-nos ver o modo como os diretores procuram mobilizar o público”, observa. “O cinema pode aproximar os povos, trazer mais compreensão entre as culturas e ser veículo forte de expressão para povos que não têm outra forma de expressão”, conclui, defendendo a necessidade da diversidade cultural.

19ª Forumdoc – Festival do Filme Documentário e Etnográfico
Desta quinta ao dia 29, no Cine Humberto Mauro, Cine 104 e no Câmpus Pampulha da UFMG, e Circuito forumdoc.bh. Informações: www.forumdoc.org.br. Entrada franca.

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