História de mineiros do Chile chega ao Brasil em 'Os 33' e 'Na escuridão'

Estrelado por Antonio Banderas e Rodrigo Santoro, longa tem lançamento simultâneo com o romance de Héctor Tobar, sobre o drama dos operários soterrados por 69 dias

por Carolina Braga 29/10/2015 08:46

Você pode até não se lembrar exatamente onde estava quando recebeu a notícia. Mesmo assim, ao saber que se trata de um filme sobre a operação de resgate daqueles 33 mineiros chilenos que ficaram soterrados em 2010, vai recordar o fato. Mais que isso: das transmissões e todo o circo midiático montado no meio do deserto do Atacama entre 5 de agosto e 13 de outubro de 2010. Escrito por Héctor Tobar, o livro Na escuridão (Editora Objetiva, 326 páginas) está chegando ao mercado ao mesmo tempo em que sua versão cinematográfica, que estreia nesta quinta-feira, com o brasileiro Rodrigo Santoro no elenco.

Fox Film do Brasil/Divulgação
Dirigido por mexicana, 'Os 33' tem Antonio Banderas e Rodrigo Santoro nos papéis principais (foto: Fox Film do Brasil/Divulgação)
É uma história que meio mundo já conhece. Ninguém morreu e nem os responsáveis responderam pelo acidente. Aqueles homens que ficaram enterrados vivos durante 69 dias não receberam as devidas indenizações. De todo modo, é uma história que rendeu – e ainda rende – projeção midiática internacional. Desde seu primeiro momento, foi um drama que se mostrou prato cheio para o cinema. Dito e feito, sob o controle americano.

 

Veja horários e salas de exibição para Os 33


O jornalista e romancista Héctor Tobar é filho de imigrantes da Guatemala, mas nascido e criado em Los Angeles. O autor se diz o único que conseguiu entrevistar os mineiros. O relato transformado em literatura, somado ao roteiro coordenado por José Rivera (Diários de motocicleta e Na estrada, ambos de Walter Salles), oferece um outro ponto de vista. É a versão romanceada do que aconteceu ao longo dos 69 dias dentro da escuridão da mina.

Vencedor do prêmio Pulitzer em 1992 pela reportagem sobre protestos em Los Angeles, Héctor Tobar parte do perfil familiar de cada um dos mineiros para narrar os desafios e enfrentamentos individuais daqueles trabalhadores. A narrativa mescla o drama da situação, denúncia política sobre a negligência com que a mineração é tratada no país e, claro, a superação dos trabalhadores.

 

 

CINEMA

O filme Os 33, que estreia nesta quinta-feira, segue à risca o manual hollywoodiano. Embora tenha sido dirigido por uma mexicana, Patrícia Riggen, tenha como protagonistas o espanhol Antonio Banderas no papel do mineiro Mario Sepúlveda e o brasileiro Rodrigo Santoro como o ministro Laurence Goldborne. A eles se juntam a francesa Juliette Binoche. Mas a conhecida história que se passa no Chile é falada em inglês, com sotaque e licenças bizarras para o castelhano para além da trilha sonora.

Em um primeiro momento, a opção por “internacionalizar” a narrativa gera afastamento. Fica nítido que há algo fora do lugar na maneira de se recontar aquele episódio. O distanciamento, no entanto, diminui à medida que o longa avança, a memória é estimulada e a adrenalina sobe. Acaba sendo uma epopeia com momentos bizarros. Com roteiro baseado no livro de Tobar, reconstitui o fato a partir de uma outra perspectiva.

Fox Film do Brasil/Divulgação
Para crítica chilena, longa norte-americano reproduz estereótipos ofensivos (foto: Fox Film do Brasil/Divulgação)
INSPIRAÇÃO
Durante a Copa do Mundo, a Seleção do Chile se concentrou em Belo Horizonte, na Toca da Raposa 2. Na ocasião, o jogador Iván Zamorano, ex-capitão do time, participou de uma campanha publicitária do Banco do Chile trazendo ao Brasil um pouco da terra do acampamento Esperanza, onde os familiares ficaram à espera de notícias sobre os mineiros.

 

A terra foi espalhada no campo de treinamento como símbolo de força e coragem. “Para que nunca se deem por vencidos e sintam que milagres existem”, diz o jogador na mensagem de incentivo.

As reações
O fisioterapeuta chileno Camilo Riveros Villegas, em férias no Brasil, confessa que não fez questão de ver o filme no cinema. O longa estreou por lá em 6 de agosto, ou seja, cinco anos e um dia depois do acidente. “Vou esperar sair na televisão, ver com mais calma. É para se ver em casa”, diz. Para ele, há outros episódios na história do Chile que faria mais questão de ver no cinema. Em todo caso, reconhece, espectadores comuns de seu país se empolgaram com a versão americana da história.

O longa dirigido por Patrícia Higgen foi chamado de enganoso pelo crítico Julio Bustamante, do portal Cinefilia.cl. “Sua estrutura está friamente calculada sobre a base da emocionalidade a partir de personagens unidimensionais e um provincionismo que colide com o anedótico”, escreveu.

Para Pablo Moya, do site Humo Negro, “enquanto o filme se apoia em testemunhos verdadeiros para sustentar seu argumento, equivoca-se absolutamente na forma de apresentação dos fatos”. A opinião é semelhante à de Enzo Destefani Espinosa, do site Te invito al cine: “Parece que, para Hollywood e todas as produções que trazem equipes daqueles lados, ainda somos personagens pitorescos e com atrativos que às vezes parecem mais um exagerado estereótipo de pessoas em um drama real”.

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