Documentário sobre a final da Libertadores 2013 chega aos cinemas nesta quinta

Filme adota o ponto de vista do torcedor na final da competição continental

por Mariana Peixoto 23/07/2015 09:11

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DELÍCIA FILMES E VERSÃO FINAL/DIVULGAÇÃO
Filme de Cris Azzi e Luiz Felipe Fernandes acompanha 10 torcedores no dia da disputa. Diretores escolheram não mostrar a partida (foto: DELÍCIA FILMES E VERSÃO FINAL/DIVULGAÇÃO)
Um clima de vestir a camisa cerca a trajetória de 'O dia do Galo', que estreia hoje nos cinemas. Documentário de Cris Azzi codirigido por Luiz Felipe Fernandes, o longa é resultado de esforço coletivo, premissa básica do futebol. Em 24 de julho de 2013, uma equipe de quase 50 pessoas (99% delas atleticanas) viveu um dia tão intenso quanto os jogadores do Clube Atlético Mineiro, que, na noite daquela quarta-feira, disputaria no Mineirão, contra os paraguaios do Olimpia, o título mais importante de sua história, a Copa Libertadores da América.


Era vencer, vencer, vencer. Para Azzi e sua equipe, a vitória estava garantida. “Durante a pré-produção (realizada nos três dias que antecederam a partida), de alguma forma achamos que o Galo já era campeão.” E se não fosse? “Houve um personagem que disse que, se o time não ganhasse, ele não participaria do filme. Se não houvesse o happy end, o elemento dramático seria outro.” Para o realizador, a premissa maior era tentar entender a paixão irracional que o futebol desperta – algo que sempre o atingiu.

'O dia do Galo' chega hoje a nove cinemas de Minas Gerais – seis na Grande BH, além de Sete Lagoas, Montes Claros e Uberlândia. Sem grana (não participou de editais públicos) e de forma independente, o documentário estreia em um bom momento. O time alvinegro lidera o Campeonato Brasileiro. E amanhã celebra os dois anos de seu título maior.

Desejo antigo de Azzi, que pensava num filme sobre o time desde 2004, quando o Galo quase caiu para a Segunda Divisão, o documentário acompanha a rotina de 10 atleticanos na data da final do torneio. Para a massa alvinegra, alguns dos personagens são célebres, como o narrador esportivo Mário Caixa e o botequeiro Orlando, dono do bar que leva seu nome em Santa Tereza.

“Minha ideia era escolher um dia de decisão, porque ela traria elementos dramáticos muito familiares ao cinema. No Campeonato Brasileiro seria muito difícil, pois são pontos corridos. Na Libertadores de 2013, quando o Galo passou a primeira fase goleando, comecei a ficar atento. Quando ele passou o São Paulo por 4 a 1, mostrando um futebol de primeira, vi que tinha chegado a hora”, diz Azzi.

DELÍCIA FILMES E VERSÃO FINAL/DIVULGAÇÃO
Cena do documentário 'O dia do Galo' (foto: DELÍCIA FILMES E VERSÃO FINAL/DIVULGAÇÃO)
PERSONAGENS
Por uma questão de afinidade, o realizador convidou duas agências de conteúdo de BH para participar do projeto: Nitro e Alicate. Fez uma reunião para apresentar a proposta para os realizadores (todos atleticanos) e, mesmo com algum receio – “pela própria história do Galo, a gente resolveu ir mais devagar” – o projeto começou a andar. Quando passou a convidar os personagens do filme – cada um seria acompanhado por uma equipe diferente – já se sabia que a partida não seria filmada. “Nosso interesse foi sempre o torcedor.”

Uma vez com a taça conquistada e as filmagens encerradas, optou-se pela produção de uma versão em curta-metragem do documentário. Lançado no final de 2013 na internet, quando o Galo foi para o Marrocos, já teve 350 mil visualizações no YouTube. Ao longo de 2014, foi montada a versão em longa.

 

 

 

Até então, Azzi admite, não havia a intenção de fazer um lançamento comercial. Mas o impacto que 'O dia do Galo' teve em festivais – Cinefoot, dedicado a filmes sobre futebol; Mostra de Cinema de Tiradentes, onde faturou o prêmio do júri popular; e Baku International Ficts Sport Film Festival, no Azerbaijão – motivou a equipe a levar o documentário para um público maior.

Agora, quem tem que se movimentar é a massa atleticana, pois o resultado de público deste primeiro fim de semana vai definir a carreira do filme. “Nas poucas sessões que o filme teve até agora, a reação foi quase em 3D, pois a gente sentiu que conseguiu transportar o espectador para dentro do estádio”, afirma Azzi.

BOLA ROLANDO

No Cine Belas Artes, 'O dia do Galo' vai dividir a sala 3 com outro filme sobre futebol. O documentário 'Campo de jogo', de Eryk Rocha, trata do esporte na periferia. A partir de um campeonato de comunidades da Zona Norte do Rio de Janeiro, o campo torna-se um lugar não só para praticar o futebol como também um lugar místico, para onde se transportam os dramas da vida real.

 

É filme pro Oscar!

 

*por Marcelo Coelho da Fonseca

DELÍCIA FILMES E VERSÃO FINAL/DIVULGAÇÃO
O narrador esportivoMário Caixa, da rádio Itatiaia, em cena do documentário 'O dia do galo' (foto: DELÍCIA FILMES E VERSÃO FINAL/DIVULGAÇÃO)
Certos jogos ficam gravados na memória. E as recordações ultrapassam o que ocorreu dentro das quatro linhas. São lembranças das pessoas que estavam ao nosso lado no momento do gol salvador no último minuto, do trajeto até o estádio em meio ao grito “eu acredito” misturado com uma tensão insuportável a poucas horas do início da partida e da ansiedade que atrapalhou a concentração no dia do jogo.

Para os atleticanos, as lembranças do dia 24 de julho de 2013 vão muito além do chute do argentino Matias Giménez que acertou a trave e sacramentou a conquista do maior título da história do Galo. O documentário 'O dia do Galo' traz a história de alguns torcedores que viveram intensamente aquele dia. A confiança e a empolgação no trabalho, a expectativa no início do jogo, seja na arquibancada, nos bares ou em casa, e a glória total após a conquista. Cada atleticano tem gravado a ferro e fogo sua própria história sobre aquele dia. Em detalhes.

A minha começou pouco antes do almoço. Com uma ligação do meu cunhado contando que conseguiu ingressos para a final. Para mim, foi o primeiro gol daquele dia. Gol de placa. Depois de duas semanas tentando arrumar uma vaga para aquele que seria o jogo mais importante da minha vida (a procura da Massa por ingressos começou antes do primeiro jogo da final, no Paraguai, com acampamentos no entorno da sede), as esperanças já estavam praticamente esgotadas. Até a tentativa de conseguir o ingresso por meio de uma promoção de rádio fracassou. Para garantir o lugar no Mineirão, valeu de tudo.

Do jogo mesmo as lembranças aparecem como flashes. O desespero de ver o atacante Herrera, apelidado de El Tanque, driblar o goleiro Victor e ficar próximo de encerrar o sonho. De ver o relógio se aproximar do final do jogo ainda faltando um gol. Do grito “eu acredito” de milhares de atleticanos de todas as idades. Da cabeçada de Leonardo Silva a poucos minutos do fim do jogo. E, finalmente, da bola na trave que confirmou uma campanha heroica, quase inimaginável para o mais otimista dos atleticanos.

Ainda bem que o jogo está disponível na íntegra no YouTube – com mais de meio milhão de visualizações. E ainda bem que documentaristas resolveram eternizar parte desse dia mágico nas telas do cinema. A minha paixão pode até influenciar meu julgamento, mas é uma história digna do prêmio de melhor filme de todos os tempos no Oscar.

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