Adaptação para o cinema de 'Cinquenta tons de cinza' sofre com falta de apelo

Teor sexual do livro desidratado, cenas mornas e um ator canastrão estão entre os elementos presentes no filme

por Mariana Peixoto 12/02/2015 09:11

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Universal/divulgação
(foto: Universal/divulgação)
É de um T bem grande que carece a adaptação cinematográfica do best-seller 'Cinquenta tons de cinza'. Com 100 milhões de cópias vendidas em todo o mundo, cinco milhões no Brasil, a trilogia soft porn da britânica E.L. James tomou de assalto o mercado editorial por uma razão simples: sexo aos borbotões.

Pois o filme de Sam Taylor-Johnson ('O garoto de Liverpool'), que estreia hoje em 1.090 salas brasileiras, reduziu a pó o maior foco de interesse pela história de Christian Grey e Anastasia Steele. Pior: a ausência de química entre os atores que protagonizam o casal, Jamie Dornan e Dakota Johnson, tão alardeada durante as filmagens, se repete cena após cenas durante as duas longas horas que o filme dura.

Para quem esteve em outro planeta desde 2011, quando os três livros foram lançados – o segundo é 'Cinquenta tons mais escuros' e o derradeiro, 'Cinquenta tons de liberdade' –, a história gira em torno de um jovem magnata de Seattle que se apaixona por uma estudante de literatura.

Ele é traumatizado (o drama do passado só se desenrola no segundo volume) e, por isso, nunca teve um relacionamento convencional. Na cama, é um dominador, e só sente prazer ao provocar dor em suas parceiras. Só começa um novo relacionamento depois que a submissa escolhida assina um contrato cheio de cláusulas sobre o que é permitido ou não fazer entre quatro paredes.

Ela é uma garota tranquila, estudiosa e nunca teve um namoro. Aos 21 anos, é virgem.

A partir deste enredo, os dois se apaixonam, sofrem e transam em qualquer lugar. Na maior parte das vezes, com apetrechos sexuais. E depois de muito bla-bla-blá amoroso, são felizes para sempre.
 
Isso é o livro. O filme cortou absolutamente tudo.

Cenas de sexo repletas de descrições, que podem levar até dez páginas, chegaram ao cinema numa edição por vezes descuidada e, principalmente, asséptica. Já se sabia que seriam atenuadas. 'Cinquenta tons...' é um filme de estúdio e caso as imagens fossem como no livro original, ganhariam classificação etária que minaria a intenção de o filme se tornar o blockbuster que o livro foi.

No Brasil, o filme ganhou a classificação 16 anos. Nos Estados Unidos, R, que indica que menores de 17 anos desacompanhados de um adulto responsável não poderão assisti-lo nos cinemas.

Pois as cenas, num total de quatro, são genéricas, e não fazem muito diferente de filmes românticos que Hollywood lança a cada temporada. O tal sadomasoquismo light de que trata E.L. James na narrativa – quando o casal vai parar no que Anastasia chama “quarto vermelho da dor” – é apresentado de maneira tão cheia de dedos que o espectador pode se perguntar por que houve tanto barulho por aquilo.

Jamie Dornan, o segundo ator escalado para viver Christian Grey, está nada à vontade no papel. Nome que não chegou a ser cotado entre fãs mais afoitos que promoveram campanhas on-line desde que a adaptação foi anunciada, ele não tem empatia alguma. Suas frases – “Eu não curto romance”; “Eu não faço amor”; “Meus gostos são muito singulares” – só reforçam sua canastrice.

Dakota Johnson, no entanto, é uma boa notícia para a adaptação. Anastasia é uma personagem insuportável e a atriz conseguiu dar um certo humor a ela, a despeito de caras e bocas excessivas.

E há os clichês. Closes óbvios da boca de Anastasia – a cena em que ela morde um lápis das empresas Grey é de rir alto –; os planos cinzentos de Seattle que tentam tonalizar os “cinquenta tons” de que fala o livro; um tom publicitário que permeia todos os momentos que explicitam a riqueza do bilionário Christian.

Mas isso tudo, vale dizer, é clichê que vem importado do livro. A culpa deve ser dividida.

Assim como o livro, 'Cinquenta tons de cinza' termina abruptamente, já preparando sua continuação – a previsão é de que o segundo filme, também sob a direção de Taylor-Johnson, tenha início em junho. Depois deste início pífio, dá para pensar se haverá estofo para mais dois longas, já que a história e sua realização na tela grande não se sustentam.
 
Assista ao trailer de '50 tons de cinza':
 
 
 
Livro x filme

Livro
No dia seguinte à noite em que perde a virgindade, Anastasia vai tomar banho. Christian a coloca na banheira e começa a lavá-la. Ele a ensina a fazer sexo oral.

Filme
Não há sexo oral algum, os dois só ficam na banheira

***

Livro
Na primeira vez que Christian amarra Anastasia com uma gravata cinza, os dois transam e param quando a mãe dele chega.

Filme
O personagem chega a amarrá-la, mas não há sexo algum, porque a mãe dele chega antes

***

Livro
Após a formatura de Anastasia, ela e Christian se encontram em sua casa. Eles transam e, depois, ela revira o olho. Ele resolve puni-la com dez palmadas. Depois, fazem sexo novamente.

Filme
Após a formatura, Christian vai à casa de Anastasia. Ele a pune com seis palmadas. Não há sexo

***

Livro
No jantar na casa dos pais de Christian, Anastasia vai sem calcinha. Os dois saem da refeição e fazem sexo no ancoradouro.

Filme
Anastasia está plenamente vestida no jantar na casa dos sogros. Os dois saem da casa, passeiam, brigam e ela chora

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