Deborah Secco revela que se internou após gravações de 'Boa Sorte'

"Me veio uma mistura de tristeza e a dificuldade de largar a Judite", revelou a atriz

por Ricardo Daehn 11/11/2014 11:27

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Imagem Filmes/Divulgação
Deborah Secco chegou a pesar 44 quilos para fazer o filme (foto: Imagem Filmes/Divulgação)
No mais recente trabalho para cinema, o longa 'Boa sorte', a atriz Deborah Secco literalmente não apenas perdeu o sono, como, a exemplo de sua personagem Judite (portadora do HIV), também deixou ir parte da saúde. Passadas as filmagens que demandaram esforço emocional concentrado, em 28 dias, a atriz ficou internada por duas semanas no Sírio Libanês. "Na verdade, não foi logo após o filme. Me veio uma mistura de tristeza e a dificuldade de largar a Judite, e foi difícil mandar ela embora. Ela me trouxe uma visão de desapego, e achei que nada valia a pena. Eu tava muito apegada à morte. Vivi a dor psicológica, que nem é detectada com exame", assume a atriz.

Médicos, antes, haviam ajudado a atriz a perder 11 quilos para a composição da personagem bem diferente dela, que chegou aos 44 quilos. "Nunca bebi nem álcool. Há quem não acredite, mas é verdade", destaca a atriz. No filme, ela é diagnosticada pela recorrência dos delírios e das alucinações. "Primeiramente, queria falar de uma história de amor, dentro de uma situação, independente da finitude. A história de amor pesava. Claro, havia também uma crítica às drogas líicitas. Tá muito fácil detectar, nos dias de hoje. E tudo tem sido muito tratado com remédios, isso até em relacao aos remédios lícitos", sublinha a diretora.



"O médico que me preparou para viver a Judite (a protagonista), ao final de 2012, achava até o assunto estava meio datado. Ele não pensava que merecia ser tratado. Como infectologista, depois ele repensou diante do índice de contaminação entre jovens tinha subindo bastante. Ou seja, estamos levantando um assunto atual, com as novas pessoas contaminadas, no bojo de um terço, tinham menos de 23 anos", comenta Secco.

Baseado no conto 'Frontal com Fanta' (da coletânea 'Tarja preta'), criado por Jorge Furtado, 'Boa sorte' é assinado pela diretora Carolina Jabor e estreia no próximo dia 20. Vencedor de prêmios das categorias júri popular e direção de arte no mais recente Festival de Paulínia, o filme representa um gigante desafio para a protagonista que, em experiência anterior em cinema, elevou a renda do drama 'Bruna Surfistinha', presente entre as 20 maiores bilheterias de 2011.

Ambientado numa clínica, a diretora viu o lugar como pano de fundo. "Esses personagens centrais nunca se encontrariam em outro lugar. Compreendi a força dos antipsicóticos que são os remédios. Não queria ter um bando de louco, junto, de forma estereotipada", explica a diretora.

O olhar pessoal da diretora em temas polêmicos como do uso de drogas também teve que ser ampliado. "Dá pra viver sem essa experiência. Não faço apologia às drogas. O jovem precisa ser olhado, orientado. No filme, há falta de afeto, e a protagonista mostra e prova a existência do amor", observa Jabor. "A Judite toca o amor dela, por mostrar outro caminho, mas ele (o amado) segue um caminho mais dado como certo", diz a atriz.

Leveza no texto e parcas e inflexíveis marcações de cena foram componentes para que Carolina Jabor trazer uma fita menos densa do que a prevista. A entrada co corroteirista Pedro Furtado (que trabalhou com o pai, Jorge) gerou uma desejada carga de jovialidade. Como ocorreu com o elogiado desempenho de Pedro Furtado (como ator, na telenovela 'Mulheres apaixonadas', ao lado de Helena Ranaldi), um impasse de relação amorosa e faixa etária de casal ajuda a embaralhar a realidade de Judite. "Poucos filmes mencionam o uso da camisinha. A questão de a Judite ser uma mentora que não é politicamente correta foi também importante. O filme também não trata com hipocrisia a relação de prazer proporcionado com a droga", pontua o roteirista Jorge Furtado.

No principal papel masculino, o ator João Pedro Zappa interpreta um doloroso processo de reabilitação para o personagem João. Na fita, ele é um jovem que recebe pouca atenção da família. Largado, e ligado em remédios, João -- em meio às abstrações -- acredita na sua efetiva invisibilidade, quando da mistura de um refrigerante com um psicotrópico. Na orientação médica, João precisa "aprender a relaxar", e é coisa que fará ao lado de Secco, uma companhia que, a princípio, poderia não ser das melhores. Alternando práticas de ioga com sessões coletivas de loucura, o casal é da pesada, ainda que respeitado um eterno distanciamento com a sociedade. Na vida real, fez falta a presença de João (adoecido, com 39o graus de febre), na sessão de entrevistas.

"A Judite parte (morre) diferente, por causa do amor. Ela compara o João com o cachorro, por ser a referência daquilo que era mais puro para ela. O João era isso: o máximo do amor. O cachorro não julga, a gente pode ate estar errado, mas ele esta sempre ali", comenta a atriz.

Passada a produção de mais de 200 filmes publicitários e muitos videoclipes (entre os quais, com Daniela Mercury e Zeca Pagodinho), a diretora administra outra história de sujeitos com uma dose de impertinência mental, como aconteceu na série para a tevê 'Mulher invisível' (2011). Apesar de toda a variedade de problemas, 'Boa Sorte' se desvela, por vezes, de conjuntura trágica. Além da médica Lorena, a cargo de Cássia Kis Magro, a avó Célia ganha uma imensa carga de graça, na interpretação de Fernanda Montenegro. Numa boa tirada, de posse de baseado, ela, descaradamente, deixa escapar: "O vício é uma desgraça".

Maconha, cenas com drogas e, claro, um desfecho pesado, também fizeram parte da escaleta dramática da diretora que -- filha do cineasta Arnaldo Jabor -- também é conhecida pela codireção do documentário 'O mistério do samba', em torno da Velha Guarda da Portela. No atual longa, a batida é outra: melancólica, ao som de Caetano Veloso e Jorge Mautner, entoando 'O vampiro'.

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