Após três décadas e meia de trabalho intenso, Miles Davis precisava de descanso. A partir de 1975, durante seis anos, o trompetista norte-americano, um dos mais influentes músicos de jazz de todos os tempos, tirou o time de campo. Durante o período, deixou seus instrumentos um pouco de lado, mergulhou ainda mais nas drogas e conviveu até com rumores de que havia morrido. Em 1979, sentiu que era o momento de retomar a carreira.
O intérprete do trompetista, que também dirige o longa e diz estar investindo parte de seu patrimônio na produção, foi indicado ao Oscar de melhor ator em 2005, pelo filme 'Hotel Ruanda'. Acabou não levando a estatueta — naquela ocasião, foi Jamie Foxx, que deu vida a Ray Charles na cinebiografia sobre a lenda da soul music, o laureado. A julgar pela caracterização minuciosa, Cheadle parece estar, assim como Foxx, em um mergulho profundo em direção ao personagem. E, como é sabido, a Academia tem grande apreço por filmes sobre personagens históricos.
Via internet
Cheadle estreia como diretor e se diz um grande apreciador da obra de Davis. O ator, inclusive, toca saxofone, desde os 10 anos, o que deve dar mais veracidade às cenas em que viverá o ídolo do jazz. “Eu era muito fã de Charlie Parker e Cannonball Adderley. Através de Cannonball, eu conheci Miles”, disse o intérprete a uma revista. Ele lançou uma campanha via internet, em um site de financiamento coletivo, visando coletar verbas para a produção. Em apenas 33 horas, já havia conseguido US$ 17 mil. A meta, estipulada em US$ 325, foi atingida e ultrapassada com o suporte de cerca de 2 mil admiradores.
A família de Miles, além das gravadoras pelas quais o músico lançou seus trabalhos, apoiou a escolha de Cheadle para o papel. E, sem a colaboração deles, não seria possível fazer o filme, segundo o ator. “Não poderíamos usar as músicas, por exemplo, se eles não as tivessem liberado”, declarou. O filme conta também com a participação, entre outros, de Ewan McGregor, que dará vida a um repórter não confiável da revista Rolling Stone.
Música social
Nascido em 26 de maio de 1926, em Santa Monica, Califórnia, Miles Dewey Davis Jr iniciou a carreira em meados dos anos 1940 e esteve à frente de quase todos os desdobramentos estéticos que o jazz teve ao longo da segunda metade do século 20 — do bebop ao cool jazz, passando pelo modal e o fusion. O termo “jazz”, entretanto, o incomodava: preferia dizer que fazia “música social”. Miles teve a técnica questionada em alguns momentos da trajetória, mas foi insuperável no quesito originalidade. Tocaram com ele, e despontaram para o mundo, mestres como Herbie Hancock, John Coltrane, Wayne Shorter, John McLaughlin e Chick Corea, entre outros. Morreu em 1991, aos 65 anos, tendo lançado 48 álbuns de estúdio.
Estreia na direção
Conhecido pelo papel principal do filme 'Hotel Ruanda' (2005), o ator Don Cheadle, de 49 anos, destacou-se também nos longas 'Diabo veste azul' (1995) e 'Crash' (2004) e no segundo e terceiro episódios da franquia 'Homem de ferro'. Desde 2012, ele é o protagonista da série televisiva 'House of lies', na qual dá vida ao personagem Marty Kaan. Conhecido também como produtor, ele estreará na direção de filmes em 'Miles ahead'.
Rumo à eternidade
Quem quiser ser enterrado ao lado de Miles Davis deve desembolsar uma quantia equivalente a R$ 13,3 mil. É esse o valor que alguns norte-americanos têm pagado para passar a eternidade ao lado de ídolos como Duke Ellington e Coleman Hawkins, além de Miles, todos enterrados no Cemitério Woodlawn, em Nova York (foto). Tem sido grande a demanda de reles mortais com o desejo de que seus túmulos fiquem próximos aos de grandes artistas, tanto que, segundo o jornal britânico The Telegraph, a administração do local planeja construir mais de 2 mil covas entre os mausoléus de Miles, Ellington e da estrela latina Celia Cruz.