'Avanti popolo' fala desde o atrito do Brasil com a América Latina até o fazer cinematográfico

Filme do uruguaio Michael Wahrmann foi vencedor no Festival de Brasília de 2013

por Carolina Braga 13/06/2014 08:11

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Rodrigo Pastoriza/Divulgação
'Avanti popolo' é o último filme com Carlos Reichenbach como ator - ele morreu em 2012 (foto: Rodrigo Pastoriza/Divulgação)
'Avanti popolo', filme do diretor uruguaio radicado no Brasil Michael Wahrmann, é curiosamente um longa cheio de silêncios, mas que fala de muita coisa. Há uma abordagem sobre o que é ser latino-americano, sobre o atrito brasileiro com o resto do continente ao mesmo tempo em que é também sobre política, cinema, família, solidão e abandono. Tudo isso sem obviedades no discurso.

 

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Vale registrar que é o último longa com Carlos Reichenbach (1945-2012) como ator. Isso faz uma grande diferença no resultado. Carlão, como era conhecido por seus colegas, tinha inegável domínio atrás da câmera. Em 'Avanti popolo', ele transfere isso para diante dela na composição de um pai de família descrente. Homem que vive acompanhado de uma cachorra (Baleia, em clara homenagem a Vidas secas, de Nelson Pereira dos Santos) em um sobrado empoeirado é surpreendido pela chegada do filho (André Gatti), recém-separado. A relação entre eles, no entanto, é de indiferença.

 

Vencedor do prêmio de melhor direção no Festival de Brasília em 2013 e também do júri da crítica, Michael Wahrmann aposta nos contrastes para dar um caráter crítico ao filme. Se na cena ou na relação entre os personagens Avanti popolo exibe uma descrença em relação à vida, as falas trazem mensagem oposta. Há certa utopia política em segundo plano.

O próprio Wahrmann, por exemplo, aparece em off como um locutor de rádio. À medida em que apresenta canções de guerrilha latino-americanas, ele defende teoria sobre a falta de unidade da região. A necessidade de luta também aparece no discurso. O mesmo ocorre com a arte cinematográfica.

Ao chegar no empoeirado reduto do pai, o filho encontra o antigo projetor da família. A recuperação de filmes antigos, além de representar ali a busca por uma memória daqueles homens, do passado e das mágoas guardadas por aquela família, traz carga nostálgica sobre um modo de fazer cinema. Será ela também utópica? Isso está mais explícito no breve diálogo que ele tem com o senhor que conserta a máquina, quando pergunta: por que você continua fazendo cinema assim? É uma questão que o diretor responde com o próprio filme. De modo sutil, 'Avanti popolo' é uma defesa da resistência.

Assista ao trailer do filme:

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