Heitor Dhalia não pensa em fazer comédias

Diretor diz que vai investir em filmes mais sofisticados

por Carlos Marcelo 26/01/2014 00:13

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Paris Filmes/Divulgação
(foto: Paris Filmes/Divulgação)
Quando Serra Pelada estreou nos cinemas, em outubro do ano passado, a expectativa dos produtores era atingir números grandiosos, acima de 1 milhão de espectadores. Não deu. Foram 800 mil. “Não foi o que eu esperava, mas não deixa de ser um número expressivo, ainda mais em uma época em que muitos filmes autorais têm fracassado loucamente ao chegar às salas”, contemporiza o diretor, Heitor Dhalia. Pernambucano radicado em São Paulo, Dhalia vinha de produções mais baratas e bem-sucedidas, como O cheiro do ralo (2006) e À deriva (2009). Enxergou em Serra Pelada, com custo estimado em R$ 10 milhões, o projeto ideal para o salto da barreira do milhão de ingressos.


Menos de seis meses depois da frustração, o cineasta saboreia os expressivos índices de audiência da exibição do longa-metragem em formato de minissérie de quatro capítulos na Rede Globo, superiores até às novelas da emissora. “Ser visto por 20 milhões de pessoas em uma noite mostra que as pessoas querem ver dramaturgia brasileira”, defende Dhalia, antes de comemorar: “Foi o que sempre desejei: o apelo popular, até porque boa parte dos espectadores nem sabia que houve uma Serra Pelada no Brasil”.

Para Heitor Dhalia, a decepção inicial, agora substituída pela satisfação (“acompanhei a reação dos telespectadores pelo Twitter e foi fantástica”), pode representar mais um ingrediente na necessária reflexão sobre a consolidação da monocultura do riso como única possibilidade de negócio lucrativo. “Acho que ficou evidente que o problema não está nos filmes ‘sérios’ e sim no modelo de distribuição: já temos um sintoma, mas precisamos conhecer melhor o problema”, aponta o diretor, antes de questionar: “A própria minissérie Amores roubados, uma produção ótima e que teve grande audiência na Globo. Será que, se fosse um filme, teria o mesmo retorno?”.

No seu longa-metragem, Dhalia reservou os principais papéis masculinos para nomes que despontaram no cinema autoral brasileiro antes de fazer novelas e séries – Juliano Cazarré (A concepção), Júlio Andrade (Cão sem dono), Wagner Moura (Tropa de elite), Matheus Nachtergaele (O auto da Compadecida), Jesuíta Barbosa (Tatuagem). Agora, a convite de José Alvarenga Jr., dirige para a Globo cinco episódios da série O caçador, com Cauã Reymond, assinados por Marçal Aquino (O invasor) e Fernando Bonassi (Um céu de estrelas), os mesmos de Força-tarefa. “O Brasil começou a olhar o que já acontece há algum tempo no cenário internacional: essa fusão de cinema e tevê me interessa”, admite.

Depois de reconhecer os dilemas de quem vivencia encruzilhada profissional, o cineasta de 42 anos projeta novas incursões na tevê como diretor contratado e o abandono de projetos cinematográficos que custam muito tempo e muito dinheiro. “No cinema, acho que vou percorrer o caminho oposto: tentar contar histórias mais sofisticadas, até mesmo faladas em inglês, porque tenho que respeitar a minha veia de autor.” E explorar o lucrativo filão do riso? “Fazer comédia para o mercado? Não rola, nem vou tentar. A não ser que seja como as do Scorsese, tipo O lobo de Wall Street: aí tem a ver comigo.”

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