13º Indie Festival tem mostras dedicadas a filmes brasileiros e estrangeiros

Obras do francês Jean-Claude Brisseau e do chinês Wang Bing ganham retrospectiva

por Mariana Peixoto Sérgio Rodrigo Reis 06/09/2013 07:00

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Indie/Divulgação
'Um episódio na vida de um catador de ferro-velho', de Danis Tanovic, saiu com prêmios importantes do Festival de Berlim (foto: Indie/Divulgação)
Adolescente, o Indie Festival chega à 13ª edição com a mesma premissa da origem: apresentar um painel, o mais amplo possível, da cinematografia mundial. Ainda que parte das produções chegue ao circuito comercial alternativo, a maioria dos filmes programados será assistida em Belo Horizonte – sempre carente de espaços de exibição que fujam do conceito de multiplex – neste festival ou em mostras posteriores. Nesta edição – que começa hoje e vai até quinta-feira, nos cines Belas Artes e Humberto Mauro e no Oi Futuro – as produções serão divididas na Mostra Mundial e Indie Brasil. Haverá também duas retrospectivas: do francês Jean-Claude Brisseau e do chinês Wang Bing.Curadora do Indie, Francesca Azzi chama a atenção para as retrospectivas. “O Brisseau nunca teve sua obra reunida antes no Brasil, então para os iniciados a expectativa é grande.” Todos os filmes do polêmico diretor, conhecido por filmes com forte teor erótico, serão exibidos em 35mm. A exceção é o mais recente, 'A garota de lugar nenhum' (2012), vencedor do Leopardo de Ouro do Festival de Locarno, que será visto em DCP. Entre seus filmes mais conhecidos estão 'Coisas secretas' (2003), 'Os anjos exterminadores' (2006) e 'A aventura' (2008), que formam triologia sobre os tabus do sexo.


De uma seara totalmente distinta é a obra de Wang Bing. “Um de seus filmes, 'A oeste dos trilhos' (1999/2003), tem nove horas. Como documentarista, ele observa o tempo quase como uma escultura”, diz Francesca. Neste filme, Bing filmou a decadência das usinas chinesa que produzem metais. Outro destaque do chinês é 'Petróleo bruto' (2008), com 14 horas de duração. “Ele observa como vivem os operários de uma estação de petróleo, que estão isolados. Não há uma narrativa, é um filme em tempo real.” Produções difíceis, como ela própria admite, serão exibidas em partes. “Pode se ver um pouquinho, não precisa ficar amarrado na cadeira”, continua Francesa, que acredita ser uma das funções do Indie exibir produções que fogem dos padrões.

A Mostra Mundial destaca projetos premiados em grandes festivais. 'Um episódio na vida de um catador de ferro-velho', do bósnio Danis Tanovic (do celebrado 'Terra de ninguém', 2001), saiu do Festival de Berlim com prêmio do júri e melhor ator para Nazif Mujic. Este é realmente um catador de sucata de etnia cigana que viveu o episódio retratado pelo diretor: sua mulher, que sofreu um aborto natural, viu a operação que lhe podia salvar a vida recusada por não estar inscrita na segurança social nem ter dinheiro vivo para pagar a intervenção. Já 'Heli', do mexicano Amat Escalante (melhor diretor em Cannes), apresenta o dia a dia de homens pobres no interior, que vivem sob a influência do tráfico de drogas e corrupção.


Rural e horror A Indie Brasil traz como destaque maior a produção mineira 'Sopro', de Marcos Pimentel, estreante em longas. No documentário, ele filma a realidade de uma vila rural onde famílias vivem sem contato com o mundo exterior. O programa traz ainda duas produções dedicadas ao cinema de horror: 'Mar negro', de Rodrigo Aragão, que fecha a trilogia de horror iniciada com 'Mangue Negro' e seguida por 'A noite do chupacabras', e 'Zombio 2: Chimarrão zombies', de Petter Baiestorf.

INDIE/DIVULGAÇÃO
O capixaba Rodrigo Aragão mostra que independentes também gostam de horror com seu 'Mar Negro' (foto: INDIE/DIVULGAÇÃO)
O Indie é realizado pela Zeta Filmes, produtora criada há 15 anos em Belo Horizonte dedicada ao audiovisual. Hoje conta com sua própria distribuidora, que traz cinco títulos no catálogo. Dois deles, ambos em 3D, que não conseguiram espaço no circuito comercial da cidade, serão exibidos no festival: o documentário 'Caverna dos sonhos esquecidos', primeira incursão de Werner Herzog no formato e a animação 'Contos da noite', de Michel Ocelot (que terá sessão também em 2D). 'Caverna' teve um público de 20 mil pessoas em uma única sala de São Paulo. “Ainda que o ingresso de filmes em 3D seja mais caro, resolvemos passá-los gratuitamente no Indie em função do público”, finaliza Francesca.

Arte vence o tempo

Há mais de 30 mil anos, nossos ancestrais que viviam em região onde se localiza o Sudoeste da França, realizaram pinturas nas paredes de uma caverna. São representações de cavalos, leões, ursos, rinocerontes e bois em movimento. Um terremoto acabou provocando um deslize de parte da montanha e, com isso, congelou intactas as pinturas. Em 1994, por acaso, uma equipe de espeleólogos descobriu restos fossilizados de animais. Era apenas o início de uma descoberta impactante. Quando iluminaram as paredes, as magníficas pinturas rupestres reapareceram.

Como se trata de uma das maiores descobertas da área, desde então a caverna foi mantida fechada e restrita a poucos pesquisadores autorizados pelo governo francês. As gargantas da região de Vallon-Pont-d’Arc têm variadas cavernas, muitas com importância geológica ou arqueológica. Entretanto, a Caverna de Chauvet, como a descoberta ficou conhecida, se tornou incomum pela qualidade e estado de conservação das pinturas. O diretor alemão Werner Herzog recebeu a autorização para entrar com a equipe no lugar e realizou o documentário 'Caverna dos sonhos esquecidos'.

O filme, narrado pelo próprio diretor, é uma ode à aventura do ser humano em tentar imortalizar seu tempo por meio da arte. O documentário formula sua narrativa a partir do olhar de encantamento do cineasta diante das pinturas. A opção por registrar tudo em 3D é o pior do filme. Como o principal do documentário são as pinturas rupestres, que nada mais são que desenhos bidimensionais, a tecnologia não acrescenta nada às imagens.



INDIE FESTIVAL
Desta sexta-feira a quinta-feira nos cinemas Belas Artes, Rua Gonçalves Dias, 1.581; Humberto Mauro, Avenida Afonso Pena, 1.537; Oi Futuro, Avenida Afonso Pena, 4.001. A programação tem entrada franca (ingressos serão distribuídos na bilheteria meia horas antes de cada sessão). Informações: www.indiefestival.com.br

Programação

Sexta
» Belas Artes
Sala 1: 14h50 – O som e a fúria, de Jean-Claude Brisseau; 17h – Um episódio na vida de um catador de ferro-velho, de Danis Tanovic; 19h10 – Petrel Hotel Blue, de Kôji Wakamatsu; 21h20 – Coisas secretas, de Jean-Claude Brisseau
Sala 2: 14h40 –Estranhos quando nos encontramos, de Masahiro Kobayashi; 15h50 – Os excluídos do bom deus, de Jean-Claude Brisseau; 17h50 – Tragédia japonesa, de Masahiro Kobayashi; 19h50 – Fengming: Memórias de uma chinesa, de Wang Bing
Sala 3: 16h30 – Contos da noite, de Michel Ocelot; 18h20 – O dinheiro do carvão, de Wang Bing; 19h30 – Mar negro, de Rodrigo Aragão

» Humberto Mauro
16h –A oeste dos trilhos, de Wang Bing; 20h30 – Caverna dos sonhos
esquecidos, de Werner Herzog

» Oi Futuro
16h30 – Computer chess, de Andrew Bujalski; 18h30 – Arranha-céus flutuantes,
de Tomasz Wasilewski
20h30 – Heli, de Amat Escalante

Sábado
» Belas Artes
Sala 1: 14h50 – Desejando a chuva, de
Tian-yi Yang; 16h50 – Três irmãs, de Wang Bing; 19h30 – Vic+Flo viram um urso, de Denis Côté; 21h20 – Os anjos exterminadores, de Jean-Claude Brisseau
Sala 2: 15h – Eu era mais dark, de Matthew Porterfield; 17h10 – Computer chess, de Andrew Bujalski; 19h20 – Um jogo brutal, de Jean-Claude Brisseau; 21h30 – Arranha-céus flutuantes, de Tomasz Wasilewski
Sala 3: 16h30 –Parece amor, de Eliza Hittman; 18h30 – O homem sem nome,
de Wang Bing; 20h30 – GFP Bunny, de Yutaka Tsuchiya

» Humberto Mauro
16h –Contos da noite, de Michel Ocelot;
18h – Boda branca, Jean-Claude Brisseau; 20h – O gorila, de José Eduardo Belmonte

» Oi Futuro
16h30 – Big Sur, de Michael Polish;
18h30 – A garota de lugar nenhum,
de Jean-Claude Brisseau;
20h30 – Upstream color, de Shane Carruth

Domingo
» Belas Artes
Sala 1: 14h50 – Big Sur, de Michael Polish; 17h – Upstream color, de Shane Carruth; 19h10 – A garota de lugar nenhum, de Jean-Claude Brisseau; 21h10 – Heli, de Amat Escalante
Sala 2: 14h40 – Jiseul, de Meul O.; 16h40 – A vala, de Wang Bing; 18h40 – História de minha morte, de Albert Serra; 21h20 –
A aventura, de Jean-Claude Brisseau
Sala 3: 15h – Eu peguei um gato terrível, de Rikiya Imaizumi; 17h30 – O ato indizível, de Dan Sallitt; 19h30 – Fengming: Memórias de uma chinesa, de Wang Bing

» Humberto Mauro
16h – Contos da noite, de Michel Ocelot;
18h – Celine, de Jean-Claude Brisseau;
20h – O exercício do caos, de Frederico Machado

» Oi Futuro
16h30 – Vic Flo viram um urso, de Denis Côté; 18h30 – Petrel Hotel Blue, de Kôji Wakamatsu;
20h30 – Desejando a chuva, de Tian-yi Yang

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