Documentário mostra a trajetória do letrista Murilo Antunes, autor de clássicos como Nascente e Besame

Parceiros e músicos da nova cena de Minas participam do longa

por Ailton Magioli 27/11/2012 09:02

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Villa Cultura/Noir Filmes/Divulgação
Mônica Salmaso e Tavinho Moura cantam O trem tá feio (foto: Villa Cultura/Noir Filmes/Divulgação)
 

Ao som de Era menino, na voz de Beto Guedes, e a caminho de Pedra Azul, no Vale do Jequitinhonha, onde passou a infância, Murilo Antunes, de 60 anos, lembra que não faz ou escreve poesia quando quer. “Acho que é quando ela quer”, poetiza o letrista do Clube da Esquina, que lança hoje à noite, no Usiminas Belas Artes, em sessão para convidados, o longa-metragem Como se a vida fosse música. Relato da rica trajetória do mineiro de Montes Claros que encontrou em Belo Horizonte o ambiente ideal para desenvolver sua carreira artística, o documentário, com direção de cena de Fernando Batista (Noir Filmes), chega ao mercado em formato de DVD, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Há possibilidade de a trilha sonora sair em CD caso Murilo consiga captar mais recursos. “Agora facilita, porque os custos ficam mais baixos”, comemora o letrista. Os registros musicais do filme foram feitos em estúdio, pois nas locações usou-se playback. Integrante do seleto time de letristas do Clube da Esquina, ao lado de Márcio Borges, Ronaldo Bastos e Fernando Brant, Murilo é autor de cerca de 250 letras de canções gravadas, entre as quais se destacam pérolas como Nascente e Besame, da parceria com Flávio Venturini. É dele também a letra de Viva Zapátria, a parceria com Sirlan que rendeu aos autores uma passagem pela Censura Federal na década de 1970. A canção disputou a atenção do júri do 7º Festival Internacional da Canção (FIC), em 1972, no qual sagrou-se vencedora Fio maravilha, de Jorge Ben Jor. A canção que batiza o documentário sobre a trajetória do letrista é parceria com Nelson Angelo. Autor de dois livros de poemas – O gavião e a serpente, de 1979, e Nossamúsica, de 1990 –, Murilo Antunes também integrou duas coletâneas de prosa, Éramos felizes e sabíamos e Amor na zona. A atividade de letrista é mais de bastidores, conta Murilo. Isso se deve ao próprio ofício, justifica, salientando que autores de letras deixam o posto de popstar para os cantores. “O nosso trabalho de escrita é mesmo mais introspectivo”, explica. Entretanto, nesse DVD ele está o tempo inteiro em cena. À exceção de Vinicius de Moraes (Vinicius – O filme, de Miguel Faria Jr.) e Humberto Teixeira (O homem que engarrafava nuvens, de Lírio Ferreira), nenhum outro letrista virou filme no Brasil. Há também o documentário Palavra encantada, de Helena Solberg, sobre relação da poesia e a música por meio do trabalho de compositores como Chico Buarque e Paulo César Pinheiro, entre outros. Satisfeito com o resultado de Como se a vida fosse música, Murilo já tem reunião agendada no Canal Brasil para negociar a exibição do filme, além de planejar inscrevê-lo em festivais de cinema. “Estou feliz com o resultado pelo trabalho imenso que deu e pela generosidade dos parceiros. Sem a disponibilidade deles seria impossível fazer o filme, que teria preço exorbitante”, ressalta o letrista. Nesse documentário ele conseguiu reunir gente como João Bosco e Milton Nascimento em torno de sua música. Atualmente, além da estreia da parceria com o pianista Andre Mehmari, Murilo Antunes está escrevendo letras para melodias inéditas do cantor e compositor Sérgio Santos. No palco Para driblar as dificuldades para exibir o filme, Murilo Antunes anuncia a criação de pocket show com a participação de seu filho, João Antunes (guitarra), Flávio Henrique (teclado) e Vitor Santana (voz e violão). A estreia foi marcada para 13 de dezembro, no Feitiço Mineiro, em Brasília. Em seguida, ele pretende se apresentar em bares e teatros. “Enquanto meus companheiros de cena interpretam as músicas, vou declamar poemas meus, de Manoel de Barros e de Vinicius de Moraes”, informa. MURILO ANTUNES: COMO SE A VIDA FOSSE MÚSICA Exibição do filme para convidados, nesta terça-feira, às 21h30, no Belas Artes, Rua Gonçalves Dias, 1.581, Lourdes. Na quinta-feira haverá sessão aberta ao público, no mesmo local e horário. O DVD será vendido a R$ 40. As canções Besame (com Flávio Venturini), com João Bosco Ciranda, Pierrot e Solidão (com Flávio Venturini), com Flávio Venturini Era menino (com Tavinho Moura e Beto Guedes), com Beto Guedes e Rodrigo Borges Era uma vez por toda vida (com Flávio Henrique), com Paulinho Pedra Azul, Flávio Henrique e Murilo Antunes Findo amor (com Tavinho Moura), com Susana Travassos Nascente (com Flávio Venturini), com Paula Santoro Nem nada (com Beto Lopes), com Vander Lee O trem tá feio (com Tavinho Moura), com Mônica Salmaso Quadros modernos (com Toninho Horta), com Cobra Coral Rosário de Mariá (com Tavinho Moura), com Tavinho Moura Saudade eu canto assim (Tavinho Moura), com Tavinho Moura Tesouro da juventude (com Tavinho Moura), com Flávio Venturini e Tavinho Moura Vero (com Natan Marques), com Mariana Nunes e Vítor Santana Viva Zapátria (com Sirlan), com Sirlan e Pablo Castro Viver, viver (com Lô e Márcio Borges), com Milton Nascimento e Lô Borges

 

Muito prazer

Ângela Faria

 

Em Como se a vida fosse música, Murilo Antunes e Ronaldo Bastos afirmam que a letra de uma canção é apenas coadjuvante da melodia. Ao bom verso, diz Ronaldo, cabe o papel de honrar dignamente esse papel. Será? Há controvérsias... O documentário de Murilo Antunes joga luz sobre o letrista e seu ofício. Até hoje, Nascente é trilha sonora de namorados, Besame tem embalado muita dor de cotovelo por aí. Viva Zapátria faz a gente chorar pela triste América mãe. Se foi amordaçada pelos generais nos anos de chumbo, é marcada pela cruel desigualdade social neste século 21. Nada fica datado no cancioneiro muriliano. Nossas palmas sempre aclamaram os donos da voz. Esse novo filme, mineiro da gema, tem o mérito de apresentar o rosto (e a verve) de quem põe as palavras em nossa boca. Muito prazer, Murilo Antunes. Que lindo poema você dedica a BH. Que showzaço você oferece para mostrar suas canções, reunindo gente das antigas como João Bosco, Toninho Horta, Tavinho Moura e Sirlan à nova geração. Que venham documentários sobre Fernando Brant, Ronaldo Bastos, Márcio Borges, Aldir Blanc, Paulo César Pinheiro e tantos outros mestres da palavra. 



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