No interior de Pernambuco, tradição do maracatu rural é estrela do carnaval

Tradicional cortejo com quase 100 grupos tomou a praça de Nazaré da Mata, se renovando com as mulheres

por Estadão Conteúdo Diário de Pernambuco 12/02/2018 17:51
Prefeitura Municipal de Nazaré da Mata/Divulgação
(foto: Prefeitura Municipal de Nazaré da Mata/Divulgação)

Na chegada a Nazaré da Mata (PE), ainda na estrada, percebe-se que a cidade ganha um colorido nesta época do ano. E não se trata de decoração carnavalesca, mas, sim, das roupas dos caboclos de lança que chegam barulhentos à cidade para o dia do encontro das nações de maracatu nesta segunda-feira, 12. O tradicional cortejo com quase 100 grupos tomou a praça da cidade, se renovando com as mulheres.

Entre os 36 grupos que se apresentaram nesta segunda-feira, 16 são de Nazaré da Mata. Os outros são de cidades vizinhas como Aliança, Carpina, Tracunhaém, Buenos Aires, Itaquitinga e outros. Nesta terça, mais 47 grupos de maracatus irão se apresentar no município, totalizando uma festa com 83 nações de baque solto. As apresentações não têm hora certa para acabar.

Com cerca de 30 mil habitantes e a uma hora, em média, da capital Recife, a cidade localizada na zona da mata pernambucana é o centro da cultura do maracatu rural (ou de baque solto), que está intimamente ligada às plantações de cana-de-açúcar, muito tradicionais em toda a região. O som do batuque das alfaias (instrumento do maracatu de baque virado) não está ali. O que move o desfile são as alegorias das roupas da corte e dos caboclos de lança, além dos mestres puxadores, que fazem a rima e conduzem o cortejo.

Prefeitura Municipal de Nazaré da Mata/Divulgação
(foto: Prefeitura Municipal de Nazaré da Mata/Divulgação)

Um carnaval menos folião e mais para ser visto. Trabalhador de um engenho de cana, Biu Profino é caboclo de lança há 23 anos no grupo Estrela Brilhante. Para ele, o maracatu não se resume ao carnaval. "A gente ensaia o ano inteiro nos barracões, é a diversão pra gente que trabalha na cana", disse enquanto se vestia com a roupa de cerca de 20 quilos para a apresentação.

A figura do caboclo de lança, que simboliza a proteção dentro do cortejo, costuma ser encarnada por homens que são respeitados dentro das comunidades. Mas agora isso não é mais regra. Nesta segunda-feira, um dos primeiros grupos a se apresentar foi o Coração Nazareno, formado apenas por mulheres de uma associação da cidade.

Prefeitura Municipal de Nazaré da Mata/Divulgação
(foto: Prefeitura Municipal de Nazaré da Mata/Divulgação)

Se na tradição, o papel de mulher se resumia às rainhas da corte ou baianas e à confecção das roupas, o grupo prova que elas também podem ser as guerreiras do grupo. "Alguns ainda olham torto. Mas levantamos a nossa bandeira", disse Cristina Mota, mestra da agremiação. O grupo este ano saiu com o tema "Eu quero amor e paz: deixe sua violência para trás", contra a violência doméstica.

Prefeitura Municipal de Nazaré da Mata/Divulgação
(foto: Prefeitura Municipal de Nazaré da Mata/Divulgação)

Contrariando a tradição há oito anos, a auxiliar de abate Cristina França, desde sempre, desfilou com a roupa dos caboclos de lança. Ela viajava em um ônibus com os outros caboclos - no caso todos homens. "Eu ia pro ônibus das baianas para trocar de roupa, porque não podia lá", comentou. Neste ano, ela passou a fazer parte da turma das mulheres. "É bom, né? O que acontece aqui, fica entre as mulheres". O evento acontece nesta segunda e na terça-feira, 13. Os maracatus rurais também podem ser vistos no carnaval de Olinda, no bairro da Cidade Tabajara.

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