Foliões celebram a vida no metrô de BH e a "morte" no Bairro Mangabeiras

Blocos Tchanzinho Zona Norte e Fúnebre marcam o fim da noite da sexta de carnaval de BH, com fôlego para ressuscitar a alegria de qualquer um

Ramon Lisboa: EM/ D.A Press
O Tchanzinho Zona Norte começou os batuques com quase uma hora de atraso, com o costumeiro tom político e relembrando conflitos anteriores (foto: Ramon Lisboa: EM/ D.A Press )
Milhares nos trilhos da incerteza. Outros tantos com cara de morte. Mas todos eles celebrando a vida. Assim foi a noite de ontem em dois blocos que marcaram o fim da sexta-feira do carnaval belo-horizontino: o Bloco do Tchanzinho Zona Norte, que lotou o metrô a partir das 23h, mais de duas horas depois da previsão para o embarque, e o Bloco Fúnebre, que reuniu 2 mil pessoas em sua sexta participação na folia.

Em uma semana marcada pelas incertezas em relação ao metrô da capital mineira, foi nos trilhos que os batuques começaram, quase uma hora de atraso, mas bem quentes no Bairro Dona Clara, na Região Norte de Belo Horizonte, onde o Bloco Tchanzinho Zona Norte iniciou seu desfile por volta das 19h. O cortejo teve início na Avenida Sebastião de Brito, mas, como já é tradição. O bloco nasceu com o intuito de descentralizar a festa. Se apenas moradores do Bairro Dona Clara, Jaraguá e 1º de Maio lotavam as ruas da região, agora o bloco atrai foliões de todas as regionais de BH. No auge da festa, segundo a organização, cerca de 50 mil foliões se juntaram ao grupo.

A estudante Paula Motta, de 20 anos, foi pela segunda vez no bloco. “Eu vim ano passado e gostei muito. Não é tão grande enquanto o Então, Brilha!, então é mais tranquilo. Também tem muita gente bonita”, comentou a jovem, muito animada com a largada do carnaval. Ela conta que é moradora da Região Nordeste, mas vale o deslocamento. O grupo relembra os sucessos do axé dos anos 1990, tocando os hits de É o Tchan, Companhia do Pagode, Asa de Águia e Chiclete com Banana, com a galera no coro.

O verso “parece até Salvador, mas essa é a Zona Norte BH” abriu o cortejo com a nova canção. A novidade deste ano é a música lançada: O tchanzinho vai passar. Com teor político, a letra aponta: “Olha a estação do outro lado, o Tchanzinho vai passar. A gente quer embarcar, mas o homem da lei não quer deixar”, cantaram os foliões em coro. O trecho relembra conflitos entre polícia, segurança do metrô e foliões em cortejos anteriores. A canção foi composta antes do anúncio que apontava o fim das operações do metrô.

“Esse é o melhor momento para a gente ocupar o metrô e mostrar que é um meio de transporte importante. Ficamos muito tristes com a perspectiva dessa nova tendência do governo federal. São pessoas que claramente mostram a que vieram, que é prejudicar quem mais precisa do Estado”, disse o regente, conhecido como “Picolé”.
 

Inspiração 

 
Tulio Santos: EM/ D.A Press
(foto: Tulio Santos: EM/ D.A Press )
E quem passou pela Praça da Bandeira, Centro-Sul da capital, se não correu de medo, se uniu aos “mortos-vivos” do Bloco Fúnebre. O grupo arrastou cerca de 2 mil pessoas, com um repertório que deu mais vida às antigas, mas nunca enterradas, marchinhas carnavalescas e sambas tradicionais, como os do mestre Adoniram Barbosa, entre outros clássicos, sempre com o tema fúnebre em evidência.

“Nos inspiramos nos blocos Zé Pereira e Caixão, de Ouro Preto. Daí, foi um passo para incorporar também os funerais de jazzistas de Nova Orleans e o dia de finados do México. Nosso objetivou aqui é a morte das nossas tristezas e ressuscitar a alegria”, explicou Violeo Lima, um dos fundadores do grupo, que não fossem as roupas escuras da maioria das fantasias, podia-se dizer que trouxe um colorido especial à sexta pré-carnaval.

O francês Johann Grondin, de 39 anos, e sua mulher, a brasileira Iara Franco, de 38, na primeira vez do casal no carnaval brasileiro, escolheram a folia de blocos de BH e iniciaram a maratona de desfiles ontem, no Bloco Fúnebre. “Vivi em Saint-Barthélemy, no Caribe, e lá tínhamos um dia de carnaval. Estamos de mudança para o Brasil e minha mulher me convenceu de que o carnaval de bloco aqui seria animado”, disse Johann.

E se o espírito da folia do bloco é ressuscitar a alegria, quem deu as caras na farra foi a jazzista Amy Winehouse, homenageada pela foliã Júlia Dias, de 28. Além do estandarte da agremiação, um boneco representando a Santa Muerte, personagem dos festejos do dia de finados no México, se destacou no desfile. “Ela representa a cura e a riqueza na cultura mexicana. Só a morte para entender o prazer de viver intensamente “, filosofou Paola Ferrara, de 32, em seu quinto desfile no Fúnebre.

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