Herdeiro do Rei Momo: Júlio Passos luta para manter o legado do avô, Sílvio

Alfaiate reinou vários anos na folia de BH, costurava as próprias fantasias, tocava bumbo e era grande festeiro

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Durante uma década, o alfaiate Sílvio Machado Passos, nascido em 1917, em Nova Lima, reinou no carnaval de Belo Horizonte. Fã da folia desde a infância, ele se esbaldava como Momo na capital mineira. “Foi um feito reinar assim durante 10 anos seguidos. No período em que ele foi Momo, a cantora Clara Nunes (1942-1983) chegou a ser rainha do carnaval”, revela Júlio Passos, de 47 anos, neto de Sílvio.

Júlio quer fazer um livro sobre os Momos da capital mineira. Uma das histórias que pretende resgatar é justamente a de seu avô. “É difícil achar material. Estou buscando no Arquivo Público Mineiro, em bibliotecas. Até porque, quando o vovô faleceu, em 1988, minha avó queimou praticamente tudo: jornais, fotos dele segurando a chave da cidade. Ela nunca o proibiu de se fantasiar. Não era nem contra nem a favor”, comenta.

Uma das poucas lembranças que restaram foi uma fantasia que o próprio Sílvio confeccionou. “Como era alfaiate, vovô fazia tudo. A roupa era de veludo, tinha até pele de coelho. Era a mistura de Momo com Pierrô”, revela.

“Fuçando” na internet, Júlio se deparou com uma relíquia. Trata-se do recorte do extinto jornal Correio da Manhã com a seguinte nota: “Momo mineiro é o mesmo da década de 40”. A notícia, de fevereiro de 1969, descreve Sílvio com 112kg, 52 anos e 1,80m. “E já nasceu gordo. No primeiro dia, pesava, 4,7kg”, diz o texto.

Júlio conta que uma das lembranças mais fortes que tem do avô é Sílvio tocando bumbo, tamanha sua paixão por festa e música. “Ele fazia questão de participar do carnaval. Com o dinheiro que ganhou com a premiação de Rei Momo, chegou a construir um prédio pequeno no Jaraguá”, revela. Há três anos, o imóvel foi demolido. Deu lugar ao Edifício Sílvio Machado Passos.

O avô de Júlio chegou a ser Rei Momo em eventos carnavalescos promovidos pelo Estado de Minas. Apesar de não ser folião de carteirinha, o neto chegou a experimentar a fantasia de Sílvio e quer disputar o título de Rei Momo no carnaval do ano que vem.

“Na minha família, quem tem o biótipo mais parecido com o do vovô sou eu. Tenho praticamente as mesmas medidas dele: 1,84m e 96kg. Ele fez parte da história de BH e seria muito bacana alguém continuar esse legado. Enquanto isso, vou continuar minhas pesquisas. É muito importante a gente não deixar a memória se perder”, conclui.

MAIS SOBRE CARNAVAL