Campanha 'Aconteceu no Carnaval', contra o assédio, chega a Ouro Preto

A proposta central da campanha é receber depoimentos de mulheres que foram vítimas de assédio e, com esses dados, realizar um levantamento apontando os locais mais inseguros

por Silvia Pires 19/01/2018 19:08
Leandro Couri/EM
(foto: Leandro Couri/EM)

Todo ano a história se repete: puxões de cabelo, beijos forçados e toques indesejados pelo corpo. Diante dos inúmeros casos de assédio e abusos contra as mulheres durante o carnaval, uma campanha na internet propõe reunir os relatos de pessoas que passaram por essa situação. Lançada ano passado no Recife, a campanha Aconteceu no Carnaval chega agora em Minas Gerais, com ações planejadas para acontecer nas ruas de Ouro Preto, na Região Central. A proposta é fazer um levantamento que aponte os locais mais inseguros para as mulheres e os tipos de assédios mais recorrentes.

A iniciativa foi criada pelas redes Meu Recife e Mete a Colher, com o objetivo de dar voz às vítimas e expor a naturalização do assédio no carnaval. Os depoimentos são compartilhados anonimamente pelo site e devem conter informações sobre o local onde aconteceu, a data, além da descrição do tipo de assédio sofrido. Com esses relatos, será possível categorizar os principais tipos de assédio, e exigir das autoridades políticas que previnam a violência de gênero durante a folia. O levantamento da campanha propõe mapear os locais mais inseguros, já que não existem dados específicos sobre esse tipo de violência, o que segundo as organizadoras é fundamental para prevenção e enfrentamento do problema. 

Além da ação na internet, a campanha conta também com trabalhos de conscientização nas ruas. Ano passado, Recife teve cartazes espalhados pela cidade com os dizeres “Meu corpo não é folia de ninguém”  e também foram distribuídas pulseiras às mulheres orientando-as a denunciar os casos de abuso. Já para Minas Gerais, a mobilizadora da campanha no estado e coordenadora da rede Minha Ouro Preto, Hellen Guimarães, explica que as ações serão concentradas em Ouro Preto. “Todo trabalho é voluntário e, como moro nessa região, consegui mobilizar uma parceria com o Movimento de Mulheres Olga Benário e o coletivo Muna para promover algumas ações de conscientização nas ruas da cidade”, conta.

Segundo Hellen, nos dias da folia uma equipe vai distribuir panfletos informativos sobre assédio, com orientações sobre condutas inadequadas e também instruções sobre como as mulheres podem denunciar os abusos, e a importância de registrar o boletim de ocorrências. “A ideia é que eu consiga uma parceria com bloquinhos feministas de Belo Horizonte para implementar uma ação na capital também”, completa. Ela explica ainda que a partir dos relatos será possível produzir um indicativo estatístico dos casos de assédio durante o carnaval de Minas Gerais, assim como o que foi realizado no Recife no ano passado.

A proposta da campanha, no entanto, não é substituir a denúncia que deve ser feita na Delegacia da Mulher, tampouco o acompanhamento psicossocial à vítima realizado pelos centros de referência. "Assédio é crime! A campanha foi criada para acabar com o silenciamento e dar importância às histórias de mulheres que sofreram algum tipo de assédio nos dias de festa. Os dados recolhidos servirão para cobrarmos do poder público mais segurança para nós mulheres", argumenta Hellen.

INICIATIVA Ano passado, a campanha realizada no Recife reuniu 66 relatos entre fevereiro e março. As denúncias chegaram até a equipe por meio do site, do uso da hashtag #AconteceuNoCarnaval nas redes sociais e por comentários em posts. De acordo com levantamento da campanha, os casos de violência sexual aumentaram 88% no carnaval. O resultado dos relatos apontam a omissão de socorro policial e um número grande de assédio à casais de mulheres.

Mulheres de todo país podem entrar no site www.aconteceunocarnaval.org e deixar seus depoimentos. Este ano, a expectativa é impactar mais de 4 milhões de pessoas e reunir mais de 5 mil relatos de janeiro, quando começa o pré-carnaval, até o final do mês de fevereiro.
 
*Estagiária sob a supervisão da subeditoa Jociane Morais  

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