Corte Devassa relembra época do império, mas avança no tempo ao exaltar diversidade

O cortejo, que começou às 14h e se concentrou na Rua Sapucaí, foi tomando o Bairro Floresta. Não faltaram dança, performance, marchinhas e confete

por Matheus Prado 28/02/2017 06:00
Túlio Santos/EM/D.A Press
Personagens com figurinos e perucas que remontam ao Brasil Império desfilaram sua irreverência ontem pelas ruas do tradicional Bairro Floresta (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)

Os foliões que acompanharam o bloco Corte Devassa na tarde de ontem fizeram duas viagens no tempo. A primeira para o passado, com os figurinos pomposos e sofisticados que relembram a época do Brasil Império. A segunda para o futuro, com pessoas de todos os gêneros, cores e orientações sexuais curtindo a folia de maneira harmoniosa e feliz. O cortejo, que começou às 14h e se concentrou na Rua Sapucaí, foi tomando o Bairro Floresta. Não faltaram dança, performance, marchinhas e confete.


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Rafaela Bugati e Guilherme Seihett: beijo do casal catuaba (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)
A temática escolhida pelo grupo teatral desde a sua gênese, em 2011, remonta aos tempos da monarquia. Isso explica muito dos figurinos e da atuação performática de seus integrantes, e é motivo da admiração de muitos foliões. Umas das marchinhas provoca, dizendo que Maria Antonieta e Carlota Joaquina cansaram de ser mulheres recatadas e decidiram curtir o carnaval. Felipe de Oliveira, de 24 anos, destaca a qualidade do bloco. “Também sou artista e este é meu bloco favorito. A organização e a libertação do corpo são sensacionais”, afirma.

O cuidado com as roupas e maquiagens chama muito a atenção. Mas a aceitação da diversidade e a quebra de paradigmas talvez sejam as grandes bandeiras levantadas pelo grupo. Igor Leal, um dos organizadores do bloco, diz que a principal mensagem dos devassos é dar um beijo no preconceito das pessoas. “Somos uma corte que brinca com nossas origens. Queremos promover divertimento e igualdade”, completa. Quando um homem tentou agarrar uma mulher contra sua vontade no bloco, a bateria parou de cantar imediatamente e a cantora avisou que abusos não seriam tolerados.

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Na bateria, a corte representada com toda a sua realeza (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)

As tradicionais marchinhas de carnaval, que fazem parte do repertório do bloco, têm as letras originais deixadas de lado. Temáticas que ofendam minorias são substituídas por discursos inclusivos. Zezé, aquele da cabeleira, que antes tinha sua sexualidade questionada, agora é incentivado a se aceitar do jeito que é. Andréa Rodrigues, de 24, resumiu o sentimento que parecia ser geral: “A Corte Devassa representa a união de todas as tribos”.

Apesar de o bloco ter sido de alto nível, problemas de infraestrutura continuam prejudicando a folia dos belo-horizontinos. O trânsito na região estava muito mal sinalizado e a Avenida do Contorno, uma das principais da cidade, teve um trecho bloqueado. Isso fez com que a Área Hospitalar ficasse sem rápido acesso no final da tarde. Também faltavam banheiros para quem curtia a festa e as ruas perpendiculares à Sapucaí se encheram de pessoas fazendo suas necessidades fisiológicas. Questionado sobre esse crescimento desenfreado do carnaval da capital, Igor Leal foi enfático: “Nós também estamos tentando entender”.

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Luis Fernando apostou na sua fantasia de baiana de Sabará (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)

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