Foliões esticam o carnaval em Januária para a quarta-feira de cinzas

Bloco dos endividados, criado por trabalhadores que não podem curtir a folia de sábado a terça-feira, aproveitam o final da festa e desfilam pelas ruas e avenidas da cidade

por Luiz Ribeiro 18/02/2015 22:56
Marcelo Junior/Divulgação
Foliões percorrem cerca de 4km, liderados por um carro de som, misturando o ritmo de carnaval e de forró (foto: Marcelo Junior/Divulgação)
Quem disse que o carnaval terminou na terça-feira? Em Januária – cidade do Norte do Estado, com 68 mil habitantes e a 603 quilômetros de Belo Horizonte, a quarta-feira de cinzas foi marcada pela animação, com desfile pelas ruas da cidade e muito barulho. A folia foi “esticada” por conta do “Bloco dos Endividados”, criado há 12 anos por donos de bares, garçons, barraqueiros e outras pessoas que trabalham durante o período oficial de quatro dias da festa e que encontraram uma maneira de também se divertirem no primeiro dia após a “maratona” de trabalho do carnaval.

A turma dos “endividados” se concentrou na Avenida São Francisco, logo pela manhã, quando foi oferecido um café aos garis que cuidaram da retirada do lixo deixado pelos foliões. O desfile do bloco foi iniciado ao meio-dia, no horário da reabertura do comércio. Aos garçons e outros trabalhadores do período carnavalesco se juntaram moradores e visitantes da cidade, somando mais de 350 participantes.

“Puxados” por um carro de som, misturando o ritmo de carnaval e de forró, os foliões percorreram cerca de quatro quilômetros pela área central de Januária. Um dos “diferenciais” do bloco é o barulho de fogos, que chama atenção de todo comércio do município, banhado pelo Rio São Francisco.

Um dos fundadores do bloco, o comerciante Marcone Conão, dono de uma churrascaria na cidade, explica que a agremiação surgiu a partir de uma brincadeira das pessoas que pegam no pesado durante o período oficial do carnaval. “No início, era uma concentração de poucas pessoas, que, na quarta-feira de cinzas, preparavam um café para os garis. A gente saía nas ruas atrás de uma carroça com uma caixa de som”, relata Marcone. “O número de participantes aumentou a cada ano”, acrescentou.

Ele disse que cresceu muito a procura pela venda de abadás, principalmente por parte de visitantes da cidade que desejam curtir o carnaval também no dia seguinte a folia oficial. Marcone afirmou que os idealizadores estão preocupados com o rápido crescimento do bloco e pensam até em limitar a venda de abadás nos próximos anos.

O comerciante/folião explica que o nome “Endividados” nasceu da ilusão de que as pessoas que vendem bebidas e comidas durante o carnaval ganham muito dinheiro. “Na verdade, muitas pessoas que trabalham no carnaval acabam com muitas dívidas a pagar. Além disso, quem hoje não tem alguma dívida?”, comenta. “Neste ano, o empresário Eike Batista também queria participar do nosso bloco. Mas, como é um devedor novo, só vai poder desfilar no ano que vem”, brinca Marcone no clima de irreverência do bloco.

Outro que ajudou a fundar o “Bloco dos Endividados” em Januária é o comerciante Eltinho Viana, proprietário de uma padaria na cidade. “Criamos o bloco para desfilar na quarta-feira de cinzas, com o objetivo de proporcionar a diversão também a quem trabalha no carnaval. Hoje, podemos dizer que o bloco virou uma tradição em Januária”, afirma. Ele lembra que a agremiação é aberta a pessoas de todas as idades.

'Oficialmente'


Durante o “carnaval oficial”, de sábado até terça-feira, a folia em Januária foi animada por bandas que tocaram em trios elétricos e um palco armado na Avenida São Francisco, em uma festa organizada pela prefeitura. No início de fevereiro, a cidade, que sofria com os efeitos da seca, foi surpreendentemente castigada por um temporal, que inundou ruas em quatro bairros da cidade. Mas, de acordo com a prefeitura, os prejuizos já foram recuperados e não houve problemas na promoção do carnaval. Com as últimas chuvas, o volume do Rio São Francisco – que estava muito baixo, aumentou um pouco, deixando os foliões mais animados.

Mas, a seca afetou o desfile do “Pirão de Peixe”, um dos blocos tradicionais do carnaval januarense. Em anos anteriores, os componentes do bloco eram “refrescados” pela água de um caminhão-pipa. Devido à crise hídrica, neste ano, o caminhão-pipa não foi usado e os foliões desfilaram “no seco” mesmo, mas sem perder a animação.

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