Foliões fantasiados quebram rotina da capital que se encanta com sua face carnavalesca

Andar por BH exige agora olhares mais atentos, risos mais soltos e braços mais abertos

por Luciane Evans 17/02/2015 11:18
Edésio Ferreira/EM/D.A Press
O clima de festa em Belo Horizonte incorporou as fantasias ao cotidiano dos moradores (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press )


Belo Horizonte já não é mais a mesma. Além dos blocos que invadiram a cidade fazendo história para a capital, a folia já levanta a bandeira de que, aqui, não há barreiras nem hora marcada, tampouco espaço que não seja ocupado pelo espírito de carnaval. Andar por BH exige agora olhares mais atentos, risos mais soltos e braços mais abertos. Isso porque é possível esbarrar com super-heróis em supermercados, baianas dentro dos ônibus, homens com cabelos coloridos em pleno posto de gasolina ou em restaurante self-service. Coisa que, antigamente, só se via em redutos da folia, mas não por aqui. “Algumas pessoas estranham um pouco, mas outras já estão no clima. Brincam e se divertem. Não tem mais jeito, BH virou uma outra cidade”, comenta a estudante Ana Guerra, de 21 anos, que entrou em um supermercado em Santa Tereza, na Região Leste, com a cara pintada, pronta para aproveitar a festa de Momo.

E como os carnavalescos pedem passagem pela capital, o Estado de Minas acompanhou a viagem dos foliões para a festa e também a convivência deles com o que já é da cidade. Antes das 10h, BH ainda adormecia. Anfitriã de uma festança que vara madrugadas, acordar na capital virou “coisa para mais tarde” entre os foliões. Mas, por volta das 11h30, a cidade mudou. Grupos subiam a Rua da Bahia, desciam o Bairro Floresta, chegavam à Praça da Liberdade, ou pegavam o metrô na Praça da Estação. Gente com todo tipo de fantasia. No Centro, na Rua Guaicurus, chamava a atenção um ponto de ônibus com cerca de 400 pessoas vestidas para a folia. “Que bloco é esse?”, perguntou um ambulante. Em fila, os foliões, que atraíam os olhares de quem passava por ali e aguçavam a curiosidade de vendedores, esperavam o ônibus para embarcar rumo ao Bloco Filhos de Tchatcha, na Região Norte. “Estou embarcando fantasiada em ônibus, táxi, metrô. Não me importo”, comentou Yonanda Santos, de 24, que, vestida de unicórnio, tentava se segurar dentro do ônibus alugado pela organização do bloco para levar os foliões até a ocupação Esperança.

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Cenas que antes poderia parecer estranhas aos olhos da população, agora fazem parte da paisagem urbana da capital mineira (foto: Luciane Evans/EM/D.A Press )

Enquanto o Bloco Baianas Ozadas atraía multidão na Praça da Liberdade, carnavalescos de vários pontos da cidade traçavam seu trajeto para chegar a tempo. No Bairro Cidade Nova, no coletivo que seguia pela Avenida Cristiano Machado, no sentido Centro, não havia espaço para mais ninguém. “Não tem como se estressar com isso, tem de levar na brincadeira. A gente acaba se divertindo”, comentou o motorista Osvaldo do Nascimento. Dos mais de 30 passageiros em pé, mais da metade estava. Além dos risos e conversas altas, o trajeto nos coletivos em tempos de carnaval em BH contam, ainda, com batuques e retoques dos foliões. Fácil ver por ali mulheres se maquiando e aqueles que se arriscam a cantar músicas.

harmonia Para quem está fantasiado, encontrar alguém no mesmo clima por pontos da cidade virou cumplicidade e certeza de que BH está no caminho certo. “É uma troca. Chegar em um lugar comum, onde não há bloco, e se deparar com alguém também no mesmo ritmo é muito gostoso. Quando íamos imaginar isso em Belo Horizonte?”, comentou a estudante Gabriela Arcas, de 18, que, ontem, fazia compras com a amiga Ana Guerra, ambas fantasiadas, em um supermercado em Santa Tereza. Segundo ela, não há belo-horizontino que tem achado ruim essa interação com os carnavalescos.

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Cenas que antes poderia parecer estranhas aos olhos da população, agora fazem parte da paisagem urbana da capital mineira (foto: Luciane Evans/EM/D.A Press )

Até mesmo em restaurantes a folia mudou o ambiente. Nesses três dias de carnaval, comerciantes já estão se acostumando a atender baianas, mascarados, homens vestidos de mulheres, palhaços, pessoas com turbantes e mulheres com roupas de homens. “Isso não é tão comum assim aqui?”, questionou a turista Janaína Andrade, que veio com mais quatro amigos de Brasília, somente para curtir o carnaval em BH. Segundo ela, no Distrito Federal, realmente, não há tanta interação como em BH e nem tanta gente fantasiada pelas ruas. “Pelo que tenho visto, achava que em BH isso já era tradição”, comentou. Em um restaurante em Santa Tereza, ela nem chamava tanto a atenção assim, já que centenas de pessoas também estavam fantasiadas e se serviam no self-service. Com essa invasão na cidade, os carnavalescos, sejam eles de fora ou não, mudaram a cidade, trouxeram novos hábitos e despertaram novos olhares.


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