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ARTES CÊNICAS

Palhaços da Cia. Circunstância trocam as ruas pela live

O cotidiano de uma família circense inspirou a live que a Cia. Circunstância fará neste sábado (22) e no domingo (23). Do outro lado da telinha, estarão Dagmar Bedê, a palhaça Tica-tica do Fubá, o marido dela, Diogo Dias, que atende por Alegria, e o filho Ravi, de 4 anos, o palhacinho Pirueta Ravioli. Em vez das ruas, onde eles costumam se apresentar, as estripulias serão transmitidas do quintal de casa.



“O espetáculo surgiu de nossas pesquisas sobre as novas configurações das famílias de circo, principalmente porque somos uma família contemporânea de circo”, explica Dagmar Bedê. Além de números clássicos, como malabarismo, o projeto aborda as relações humanas.

“Em Circo de família, lidamos com as relações amorosas, com a beleza e a feiura. Porque tem dois lados: amor, carinho e também ciúme e dificuldades”, diz a artista. Integrantes do Grupo Trampulim, Adriana Morales e o marido, Tiago Mafra, assinam a direção.

BAGAGEM Adriana explica que o espetáculo une a tradição do circo com as novidades trazidas por famílias circenses contemporâneas. “Elas são oriundas de escolas de circo, não de grupos tradicionais. Portanto, trazem a bagagem aprendida na escola, nas ruas, em hospitais e onde mais conseguimos trabalhar. Hoje em dia, somos artistas de internet também, isso agora está no nosso currículo”, comenta a diretora.



De acordo com Dagmar Bedê, o espetáculo tem tudo a ver com o estresse gerado pela pandemia. “É uma grande desculpa para a gente falar: amem e sejam amados, qualquer forma de amor é válida. Queremos as pessoas se amando, se aceitando, perdoando e tentando caminhar juntas. Esse trem de isolamento deixa a gente mais sensível”, brinca ela.

Adriana Morales revela que os melhores momentos ficam por conta do pequeno Ravi. “Sempre que ele entra em cena, rouba a atenção e vira o protagonista. Várias vezes dá umas emburradas, e não tem como tirar o olho dele. É a coisa mais linda.”

A performance do palhacinho Pirueta Ravioli depende da vontade do pequeno astro. “Às vezes ele participa, às vezes não. É uma criança, nosso objetivo não é forçá-lo, e sim seduzi-lo. Criamos um espetáculo que tem de funcionar com ou sem ele. Então, são dois espetáculos: um se Ravi quiser e outro se ele não quiser.”



O circo on-line não deixa de ser frustrante para a trupe, acostumada a trabalhar na rua. “Vídeo nunca tinha passado por nossa cabeça, mas é o que temos para agora. Não vamos parar”, garante Dagmar. De acordo com ela, é possível contornar a ausência da plateia. Para ajudar, o grupo instalou uma TV em seu “picadeiro”.

“Me incomodava ficar olhando para aquele celular (durante a live), então colocamos a televisão no quintal. Preciso ter uma forma humana olhando para mim, mesmo que seja a minha”, revela Dagmar, aos risos. “É difícil a gente se acostumar, mas se é isso o que temos para hoje, então vamos ser felizes. Pelo menos tentar.”

CHAT A trupe incentiva o público a interagir com ela por meio de um chat. “É estranho, mas ainda assim você consegue se conectar de uma outra forma. Estamos tentando aprender, entender esse novo formato. Engraçado, a vida inteira a gente se apresentou na rua. Quando acabava, as pessoas vinham cumprimentar e abraçar. Agora, elas vão para o celular e o abraço é via WhatsApp”, diz Dagmar.



Circo de família surgiu num momento delicado da Cia. Circunstância. “Estávamos meio sem para onde ir, com tudo muito difícil no meio artístico. Chegou 2017 e a gente pensou: E agora? Vamos para a praça testar, experimentar e passar o chapéu, pois o dinheiro já salva a semana”, relembra Dagmar.

Deu tão certo que já no ano seguinte o grupo viajou para a França, convidado a participar do Festival Arts de Rue de Uzerche e do Festival International de Theatre de Rue de Aurillac.

*Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria

CIRCO DE FAMÍLIA
. Live neste sábado (22) e domingo (23), às 15h. Transmissão pelo YouTube e Facebook da Cia. Circunstância