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Estado de Minas

Barbara Gancia narra sua história com o alcoolismo em 'A Saideira'

Segundo a jornalista, livro mostra a alcoólatras que existe vida sem a bebida. 'Não parei de beber antes porque achava que minha vida seria baixo-astral. Descobri que não: dá para ser mais feliz'


08/12/2018 10:15 - atualizado 08/12/2018 13:31

"Ainda é difícil, porque sempre voltam momentos ruins do passado" (foto: Eduardo Knapp/divulgação)

“Está mais do que na hora de falar sobre o alcoolismo no Brasil”, diz a jornalista Barbara Gancia. Ela narra sua história com a doença nas páginas de A saideira – Uma dose de esperança depois de anos lutando contra a dependência, lançado pela Editora Planeta. O livro perpassa aos 30 anos em que a autora viveu a compulsão, com direito a relatos de situações degradantes, além do processo de tratamento e os últimos 11 anos em que se mantém sóbria.

Ainda quando integrava o sofá do programa Saia justa, no canal GNT, Barbara percebeu que famosos brasileiros não compartilham suas experiências de dependência em drogas. O tema, afinal, ainda é um tabu. “Minha mãe e meu pai já morreram, então não há ninguém que possa se magoar com meus relatos”, afirma.

No livro, ela relembra momentos polêmicos de sua carreira motivados pelo consumo de álcool, como o episódio com o político Mário Covas, em que enfiou uma caneta no ouvido do então prefeito de São Paulo, durante apuração de desfile de escolas de samba de Carnaval. A publicação também reúne passagens peculiares com personalidades como Ayrton Senna, Clodovil e o ex-Beatle George Harrison.

Em passagens domésticas, perdeu a visão do olho direito e já acordou sobre uma poça de sangue, com um corte na cabeça, sem se lembrar o que havia acontecido. “Sempre bebi de forma espalhafatosa. Um dia, Ruy Castro (jornalista e biógrafo, que assina o texto da quarta capa de A saideira) me armou uma cilada, me levando a uma clínica com ele. Foi quando me dei conta de que tinha um problema e quis fazer algo a respeito”, conta Barbara.

REABILITAÇÃO

Ela defende que é possível lidar e viver bem, mesmo diante de uma dependência incurável. “Esta é uma doença que envolve os âmbitos emocional, psicológico e social de nossas vidas. Quando se entra em uma clínica ou centro de reabilitação, nos recomendam mudar hábitos, pessoas e lugares. É o momento em que pensamos: sobra o quê?”, lembra a autora. “Mas é muito mais uma questão de conscientização do que força de vontade. É perceber: toda vez que entro em contato com o álcool, eu me ferro. Ao cair ficha, naturalmente passa-se a repensar esses três fatores.”

Espalhar a palavra é o 12º passo proposto pelos Alcoólicos Anônimos. Para Barbara Gancia, falar sobre a dependência é uma necessidade. “Ainda é difícil, porque sempre voltam momentos ruins do passado. Cada vez que se fala sobre o assunto, lembramos daquilo que nos aconteceu. Só lembrando de como é ruim, você não repete. A maior probabilidade de recaída é quando o dependente está bem: feliz, forte, empregado. Ele pensa: ‘não vou fazer besteira.’ É preciso ser constantemente lembrado.”

Segundo a autora, A saideira poderá mostrar a alcoólatras que existe vida sem a bebida. “Não parei de beber antes porque achava que minha vida seria baixo-astral. Descobri que não: dá para ser mais feliz do que em meus tempos áureos, quando o álcool ainda não me fazia tão mal.”

RECONHECIMENTO

Barbara Gancia se define como alcoólatra funcional. “Nunca deixei de ter emprego, mas lutava escondida contra esse problema, para que meu empregador ou minha família não soubessem”, conta. “Nossa visão de alcoólatra é do sujeito que não trabalha, acorda, já pega uma garrafa debaixo da cama e bebe o dia inteiro. Mas todos nós convivemos ou já cruzamos com algum, o problema é a dificuldade em reconhecê-los – em parte, por falta de conhecimento sobre o assunto, mas também porque não queremos saber.”

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 3,3 milhões de pessoas morram todos os anos em consequência do consumo de álcool. Pesquisa publicada em 2016 mostrou que o consumo no Brasil chega a 8,9 litros de álcool puro por pessoa anualmente – acima da média mundial, de 6,4 litros. Segundo Gancia, o consumo desenfreado de álcool se relaciona a diversas problemáticas contemporâneas, como violência doméstica, acidentes de trabalho, gravidez indesejada e doenças sexualmente transmissíveis.

Ela atenta, ainda, aos grupos que devem se manter afastados do álcool, com especial atenção aos dependentes e aos menores de idade. “Os adolescentes não estão com todas as sinapses formadas e não têm maturidade para escolher beber ou não. É importante perceber que existe a possibilidade de prevenção contra o alcoolismo”, defende.



A SAIDEIRA
. De Barbara Gancia
. Editora Planeta
. 280 páginas
. R$ 49,90


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