Planta asiática previne as pedras nos rins

Ácido presente na Garcinia cambogia, além de evitar a formação dos cristais, consegue dissolver os que se formaram. Descoberta feita por cientistas dos Estados Unidos pode se transformar em uma nova opção de tratamento

por Vilhena Soares 28/09/2016 13:30
Reprodução Internet / https://blogoflesbian.com
A pele de seus frutos tem alta concentração do ácido hidroxicítrico (HCA), uma substância que ajuda o metabolismo humano na absorção de gordura (foto: Reprodução Internet / https://blogoflesbian.com)
A Garcinia cambogia é uma planta asiática encontrada no Camboja, em florestas no sul do continente africano e na Polinésia. A pele de seus frutos tem alta concentração do ácido hidroxicítrico (HCA), uma substância que ajuda o metabolismo humano na absorção de gordura. Por isso, o seu extrato, comercializado em forma de suplementos, faz parte da dieta de quem busca uma boa forma física. Um recente estudo divulgado na revista científica Nature traz nova função para a planta. Além de auxiliar no emagrecimento, ela ajuda a prevenir a formação de pedras nos rins.

Um dos autores da pesquisa havia realizado testes preliminares com HCA, mas sem vinculá-lo à Garcinia cambogia. Na pesquisa, a substância mostrou um efeito muito semelhante ao citrato de potássio, elemento químico produzido pelo corpo para combater o acúmulo de pedras nos rins e também usado, em forma de medicamento, em pessoas com problemas renais. Nesse formato, porém, provoca uma lista delicada de efeitos colaterais, como alteração no batimento cardíaco, diarreia e confusão mental.

Na nova pesquisa, as duas substâncias foram testadas por meio da técnica de microscopia de força atômica. Com a tecnologia, conseguiu-se observar como o HCA e o citrato de potássio agem para combater as pedras nos rins. O HCA mostrou-se mais potente para impedir a formação das pequenas rochas porque conseguiu dissolver melhor os cristais. O efeito é considerado difícil e raro, pois os medicamentos disponíveis apenas cessam o crescimento dessas estruturas.

“Durante as nossas investigações, nos deparamos com esses efeitos originais, ou seja, a dissolução de cristais em condições específicas. Com base em todos os dados recolhidos, decidimos propor um mecanismo de ação”, detalhou ao Correio Jeffrey Rimer, professor de engenharia química na Universidade de Houston (EUA) e primeiro autor do trabalho.

Em uma segunda etapa, por meio da técnica de densidade funcional — um método computacional usado para estudar a estrutura e as propriedades de materiais —, os cientistas descobriram que o HCA reagiu fortemente com os cristais, o que induziu a liberação de outra substância, apontada como a responsável pela dissolução das pedras. “Tivemos que trazer um especialista em computação para ajudar a explicar algumas dessas observações únicas”, contou Rimer.

Comestível
Outro aspecto que ajudou na constatação da eficácia do HCA foi o fato de os frutos da Garcinia cambogia serem comestíveis. Assim, disse o pesquisador, pôde-se fazer teste com humanos mais rapidamente. “Geralmente, leva um longo período de tempo para confirmar a toxicidade do composto”, explicou Rimer. “Disseram-me que o fruto, do sudeste da Ásia, é usado em muitas cozinhas, como na comida indiana. Garcinia cambogia também recebeu muita atenção como um potencial suplemento dietético.”

Sete pessoas ingeriram o HCA retirado da planta asiática durante três dias. O ácido foi excretado pela urina, uma característica também avaliada como positiva para o uso médico. “O HCA terá que passar pela aprovação da FDA (a agência de vigilância norte-americana) para que possa ser utilizado. Com base em nossos resultados preliminares, acreditamos que essa droga poderia ser entregue por via oral, mas ainda não foram determinadas a dosagem e a frequência do consumo. Além disso, temos que nos certificar de que não existem efeitos a longo prazo”, detalhou o autor.

Mais testes
Para Maria Letícia Cascelli, nefrologista da Clínica de Doenças Renais, em Brasília, o estudo norte-americano traz dados importantes e que podem ajudar no combate a uma das complicações mais recorrentes na população. “Encontrar novas formas de combater esse problema merece destaque porque em torno de 10% da população brasileira desenvolve essa enfermidade. Esse número alto se torna ainda mais preocupante porque as chances de reincidência são bem altas, cerca de 40%”, detalhou.

Segundo a médica, as causas para o cálculo renal são diversas. Há influência do ambiente, da dieta (excesso de sal), da genética e também de outros problemas de saúde. “Por isso, somente o médico sabe o melhor tratamento a ser indicado. O citrato mencionado no estudo realmente pode causar problemas em algumas pessoas. Tive uma paciente que cismava em tomar o remédio mesmo sabendo dos efeitos colaterais e acabou com uma úlcera sangrante. Abrir o leque para novas possibilidades de tratamento é algo que pode nos ajudar”, ressaltou.

Apesar dos resultados iniciais positivos, Cascelli destaca que novas pesquisas precisarão ser feitas até que o extrato da Garcinia cambogia chegue ao uso clínico. “Precisamos sempre alertar a população para que não queriam consumir esse alimento ou seu extrato, já que precisam ser encontradas mais provas que comprovem a sua ação. Além disso, ele precisa ser usado em forma de remédio e somente para pessoas que mostrarem dificuldades renais”, frisou o cientista. Uma das próximas etapas do estudo é analisar possíveis efeitos causados pelo consumo do extrato a longo prazo.