Esperança: quando o tempo fecha em nossas vidas, sentimento pode ser muito útil para integridade física e mental

O pensamento positivo nos anima a prosseguir quando tudo parece nebuloso. É um sinal de saúde mental, afirmam estudiosos, e uma forte aliada no tratamento de doenças, como a depressão. Para os pessimistas, uma boa notícia: ele pode ser aprendido.

por Carolina Samorano 01/01/2015 09:00

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Luís Tajes/CB/D.A Press
(foto: Luís Tajes/CB/D.A Press)
O significado de esperança assume formas diferentes para cada pessoa. Há os que se agarram a ela em todas as situações da vida. Os que lembram da sua existência apenas quando a vida impõe provações. E os pessimistas que preferem ignorá-la por completo e assumir que a vida é dura e pronto. Com a chegada no novo ano, no entanto, fica difícil desapegar-se dela. É tempo de olhar para o futuro, renovar pedidos, fazer votos, agarrar-se a superstições. E que 2015 seja melhor.

Parece conversa de autoajuda, mas não é assim que a ciência olha para o assunto. Charles Richard Snyder, um dos expoentes da psicologia positiva (movimento da psicologia que estuda a busca pela felicidade), definiu esperança em seus estudos como a “habilidade de gerar caminhos ou rotas para seus objetivos, acreditando que se pode usá-los para chegar até eles”. Anos depois, seguidores do seu trabalho acreditam que nutri-la pode não apenas levar a uma vida mais leve, mas ajudar no tratamento de doenças, como a depressão.

“Ter esperança é um sinal de saúde mental”, acredita a psicóloga Lilian Graziano, diretora do Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento. “A depressão seria a total ausência de esperança, quando a pessoa não vê mais luz no fim do túnel”, continua. Em 2008, a psicóloga Jennifer Cheavens, da Ohio State University, nos Estados Unidos, mediu os níveis de esperança de um grupo de pessoas com base em um questionário de 12 perguntas desenvolvido por Snyder. Na ocasião, constatou-se que os “esperançosos” apresentavam menos sintomas de depressão. “Ter esperança pode aliviar ou prevenir a depressão ao ajudar a construir um mapa mental para que o paciente consiga o que deseja na vida”, explica Cheavens.

A boa notícia para os pessimistas é que esperança pode ser aprendida, graças à capacidade do cérebro de continuamente criar novas conexões cerebrais — a neuroplasticidade. Mas é preciso treino. E, segundo alguns psicólogos, treinar passa por recorrer aos amigos, acreditar que o mundo pode ser um lugar bom e inofensivo, vislumbrar um futuro e ter fé — em Deus, em um ser maior, no governo ou no que quer que seja. Em tempos de tragédias, epidemias mundiais e guerras territoriais, parece difícil. Mas o ano que chega traz novo fôlego para recomeçar. “Ainda vai chegar um dia em que as pessoas vão cuidar tanto das suas emoções quanto cuidam de seus corpos”, torce Lilian Graziano. Não custa tentar.

Vincent West/Reuters
O tsuru: a ave sagrada do Japão, feita em dobradura de papel, representa boa sorte, felicidade, longevidade e fortuna. Segundo a lenda, quem fizer 1.000 pássaros de origami com o pensamento voltado a um desejo, vai realizá-lo. Hoje, ele é associado a orações, sendo oferecido nos templos, acompanhado de pedidos de proteção. (Fonte: www.dicionariodesimbolos.com.br) (foto: Vincent West/Reuters)


Aprendizado ao alcance de todos
A esperança está longe de constar entre os temas e sentimentos mais estudados pela ciência, mas vem ganhando espaço com os estudiosos da psicologia positiva, movimento que estuda as emoções positivas e a busca do homem pela felicidade. Os poucos estudos concluídos até agora mostraram que a esperança pode ajudar a combater e a prevenir doenças mentais e a dar força em tratamentos difíceis, como o da aids e o do câncer.

Acredita-se que, como todos os outros traços da personalidade humana, a esperança — ou a falta dela — possa ter fundo genético ao mesmo tempo em que é moldada por fatores ambientais ao longo da vida. “Se uma pessoa cresceu em uma família de pensamentos negativos e pessimistas, provavelmente será um adulto com tendência ao mesmo comportamento”, explica a psicóloga Lilian Graziano, do Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento. Não quer dizer que isso não possa ser corrigido. Com a descoberta de que o cérebro é capaz de se modificar e criar novas conexões por quase toda a vida, cientistas descobriram também que novas emoções e sentimentos podem ser “treinados”.

“Antes, acreditava-se que a neurogênese (formação de novos neurônios) acontecia apenas nas crianças. Hoje, sabe-se que ela acontece até os 65 anos. Isso quer dizer que, com treino, você pode aprender qualquer sentimento positivo, inclusive a esperança. Quando mais se usa uma rede neural — de pensamentos otimistas, por exemplo —, mais ela se fortalece”, esclarece a psicóloga.

O psicólogo Anthony Scioli, da Keene State College, ligada à Universidade de New Hampshire, divide a esperança em dois tipos: a fundamental, baseada no caráter e na formação do indivíduo, e a que ele chama de “esperanças últimas”, relacionadas a objetivos específicos, como uma cura ou uma promoção no trabalho. A primeira é a mais importante. “Ela é derivada, principalmente, da conexão com os primeiros cuidadores da pessoa. Cuidadores esperançosos tendem a transmitir calma e resiliência, assim como valores religiosos. Em outras palavras, os componentes básicos da esperança são ligações afetivas (confiança e abertura), maestria (objetivos de longo prazo), recursos de enfrentamento de riscos e uma dimensão espiritualizada da vida. Qualquer coisa que impacte esses quatro aspectos molda a formação da esperança”, ele diz.

Segundo Scioli, até a puberdade, é possível que essa noção de esperança fundamental já esteja estável, mas é possível mudá-la, estimulando alguns aspectos ou em terapia. “Fora da terapia formal, será preciso doses repetidas de exposição a pessoas que inspiram confiança, empoderamento, treinamento em resolução de problemas e alguma conexão espiritual para que essa esperança seja reconstruída”, disse o pesquisador norte-americano à Revista.

Em 2006, Anthony Scioli mediu os níveis de esperança em 16 pacientes HIV positivos, na faixa etária de 35 a 61 anos, segundo o que ele chama de “teoria integrativa da esperança”, algo que soma visões de esperança de vários campos, como a teologia, a filosofia, a psicologia e a sociologia. Quatro anos depois, ele e sua equipe refizeram a medida, colhendo, dessa vez, amostras de sangue para medir os níveis de CD4 (linfócitos que, em contagem baixa, indicam avanço da doença). Aqueles considerados os mais esperançosos em 2006 mantiveram seu sistema imunológico mais forte ao longo desses quatro anos. Em 2010, os pacientes com maior esperança durante o estudo tinham sua contagem de CD4 no sangue 40% superior à dos demais.

“Mesmo os pacientes mais esperançosos ainda estavam HIV positivos quatro anos depois e, sem medicação e cuidados adequados, sucumbiriam à doença”, pontuou Scioli no estudo, publicado em 2011. “No entanto, em diferentes tipos de doença, e em todos os seus níveis de severidade, observamos diferenças individuais. Nossos resultados suportam a antiga crença de que essa variação na adaptação humana à doença pode se dever à esperança.”

Escudo contra a depressão
Para além dos males físicos, os níveis de esperança também parecem estar associados à proteção contra disfunções emocionais, como a depressão. Essa é a conclusão de dois estudos liderados pela psicóloga Jennifer Cheavens, da Ohio State University. Em um deles, ela examinou 97 adultos, a maioria com mais de 60 anos, que haviam recebido o diagnóstico de degeneração macular ou outras condições que levassem à cegueira.

Ela e sua equipe mediram os níveis de esperança e depressão tanto nos pacientes quanto em seus cuidadores. Elas perceberam que, como o esperado, quanto maiores os sintomas de depressão nos pacientes, mais deprimidos eram seus cuidadores. No entanto, os cuidadores que tiveram maior pontuação para esperança mostraram menos sintomas de depressão, mesmo se os pacientes dos quais cuidavam fossem deprimidos. Eles também mostraram estar mais satisfeitos com a vida e com menos sentimentos de peso ou fardo. O que mostra que ter esperança pode servir como uma proteção contra a doença.

No segundo estudo, Cheavens e sua equipe testaram uma terapia baseada na esperança com um grupo de 32 pessoas atraídas por um anúncio de jornal que pedia por voluntários dispostos a atender reuniões semanais. O objetivo dos encontros era incrementar a capacidade dos participantes de atingir seus objetivos. Os voluntários não tinham diagnóstico de depressão ou outra doença mental, mas se sentiam insatisfeitos com a vida.

A terapia não focava no que estava errado na vida deles, mas na construção de habilidades que os ajudassem a se realizar. Os participantes selecionados para comparecerem às sessões aprenderam coisas como identificar objetivos, formas de alcançá-los e técnicas de motivação. Ao fim, eles tiveram melhoras nos sintomas de depressão, quando comparados ao grupo de controle que não participou do experimento.

“Eu não acho que, no ponto em que estamos, podemos dizer que encorajar uma pessoa a ter pensamentos esperançosos substituiria um bom tratamento para a depressão. No entanto, eu acho que boas psicoterapias podem resultar em um aumento desse tipo de pensamento — é um efeito colateral feliz”, diz Jennifer Cheavens. Quanto às doenças físicas, a pesquisadora também acha que ter esperança pode beneficiar, ainda que indiretamente, o tratamento. “Acho que estar esperançoso pode ajudar com o estresse associado à doença e ainda reduzir o sofrimento associado às mudanças físicas. Também acredito que pensar com esperança ajuda a manter em mente a vida que se quer viver e a se movimentar em direção a ela enquanto se luta contra uma doença”, conclui.
	Ananda Rope/CB/D.A Press
(foto: Ananda Rope/CB/D.A Press)

Símbolos em nosso inconsciente

A pomba
Na mitologia judaico-cristã, a pomba representa o Espírito Santo, que, na Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo), simboliza paz, pureza, simplicidade, harmonia, esperança e felicidade reencontrada. A conexão entre a pomba branca e a paz remonta a uma passagem do Antigo Testamento em que a ave foi solta por Noé após o dilúvio para que encontrasse terra firme. Após a viagem, ela volta trazendo um ramo de oliveira, como uma mensagem a Noé avisando-lhe de que o dilúvio havia baixado e que havia terra e esperança para o homem.

O trevo de quatro folhas
Antigamente, acreditava-se que quem encontrasse um trevo de quatro folhas teria chance de ver fadas e, consequentemente, ter muita sorte e saúde na vida. Segundo a mitologia celta, os druidas, filósofos e conselheiros da sociedade, acreditavam que o trevo de quatro folhas trazia boa fortuna e, quem o possuísse, passaria ater a sorte dos deuses. Há quem acredite que as quatro folhas representam esperança, fé, amor e sorte. Outras crenças dizem que simbolizam as quatro fases da lua, as estações do ano e ainda os elementos da natureza. Para algumas culturas, o trevo de quatro folhas é um amuleto.

A âncora
Para os marinheiros, a âncora representa um refúgio e a segurança em meio à tempestade. Por isso, é considerada um símbolo de firmeza, força, tranquilidade, esperança e fidelidade. Representa a parte estável do nosso ser, ou seja, aquela que, em meio às tempestades, é capaz de manter a estabilidade dos barcos.

Fonte: www.dicionariodesimbolos.com.br

Atitudes fundamentais
O psicólogo e pesquisador Anthony Scioli, da Keene State College, identificou 14 aspectos que, nutridos e encorajados, são capazes de elevar os níveis de esperança. São eles:

  • objetivos últimos: metas transcendentes, objetivos de vida.
  • maestria com apoio: um sentimento de suporte vindo de Deus, de uma força maior ou uma instituição reconhecida.
  • confiança básica: fé na humanidade.
  • abertura: com você mesmo, com outros, com o mundo.
  • gestão de terror pessoal: habilidade de regular o medo e gerar alternativas para problemas.
  • gestão de terror social: habilidade de recrutar cuidado e ajuda de outros para restabelecer a confiança e a calma.
  • futuro positivo: crença em um futuro positivo que guarda coisas boas.
  • suporte espiritual: apoio de Deus ou outras forças maiores.
  • universo benigno: crença em um universo que é bom e aconchegante.
  • abertura espiritual: abertura a experiências espirituais.
  • abertura mística: abertura a pertencimento a natureza, forças maiores etc.
  • gestão de terror espiritual: habilidade de se sentir protegido, confiante diante de uma força divina.
  • imortalidade simbólica: crença de que o indivíduo pode ir além do corpo mortal e contribuir para ajudar outras pessoas, lugares e objetos que viverão além dele.
  • integridade espiritual: crença de que o seu “eu” central é incorruptível emocionalmente, fisicamente e espiritualmente.

"Quando não mais podemos mudar a situação — pensemos, por exemplo, em uma doença incurável —, somos desafiados a mudar nós mesmos" - Viktor Frankl (1905-1997), psiquiatra austríaco, que, com base na experiência como prisioneiro em campos de concentração nazistas, elaborou as bases da logoterapia. Segundo essa abordagem, os aspectos trágicos da vida podem ser enfrentados desde que o indivíduo enxergue um sentido em suas ações.


Grandes promessas para o novo ano

A psicologia define esperança como um desejo de que algo específico e concreto aconteça e que, além do caminho para chegar até lá, se tenha motivação para tal. Se, em 2014, vimos epidemias mundiais deixarem países inteiros em alerta, guerras eclodirem e amizades se desfazerem diante de disputas políticas e esportivas, 2015 promete dias melhores em várias áreas, especialmente em saúde e direitos humanos.

Novas armas da medicina
Alguns dos principais problemas de saúde pública no mundo e no Brasil devem ter vacinas licenciadas ainda em 2015, o que pode representar milhares de vidas salvas. Vacinas antigas também devem ser substituídas por versões mais potentes. A médio e longo prazos, as esperanças são ainda mais promissoras: vacinas contra o HIV e contra doenças não infecciosas, como diabetes, obesidade e tabagismo, que funcionariam bloqueando determinadas moléculas, são promessas para a próxima década. “Esse é o século das vacinas. Evitar doenças é 10 vezes melhor, em termos de custo e de benefício, do que curar e reabilitar quem fica com sequelas”, acredita Renato Kfouri, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações.
REUTERS/Baz Ratner
(foto: REUTERS/Baz Ratner)

Ebola
O boletim mais recente da Organização Mundial da Saúde (OMS) contabiliza mais de 7,3 mil mortes por ebola, entre quase 20 mil diagnósticos. Os dados levaram países a tomar medidas drásticas contra a doença, como a restrição de viagens domésticas em Serra Leoa. Segundo Renato Kfouri, a vacina está sendo desenvolvida com bastante rapidez.

Dengue
Em 2013, o Brasil registrou 1,4 milhão de casos de dengue, de acordo com o Ministério da Saúde. Em 2014, foram quase 600 mil. Diante dos números, era urgente que se criasse uma vacina contra o vírus da doença. Kfouri acredita que ela deve estar disponível para a população já em 2015. “Diante do grande número de consultas, de hospitalizações e óbitos, essa é uma vacina extremamente aguardada e desejada. Mas será preciso discutir quais grupos terão prioridade na vacinação, já que não deve haver quantidade suficiente para todos”, lamenta.

Meningite B
Já existem vacinas contra outros tipos de meningite, mas a B, que ainda registra casos no Brasil, sobretudo na região Sul, permanecia sem um imunizante. Ela já está licenciada nos Estados Unidos e em alguns países da Europa e deve ser aprovada também no Brasil em breve.

Gripe
A vacina contra a gripe, que era trivalente — ou seja, protegia contra três tipos diferentes de vírus —, chega mais potente, protegendo contra quatro tipos. A antiga deve ser substituída.

HPV
Como no caso da gripe, a vacina vem mais potente. Em vez de proteger contra quatro tipos de vírus do HPV, a nova vacina protegerá contra nove tipos.

Luta pela dignidade
Os especialistas não são exatamente os mais otimistas com relação a alguns temas de direitos humanos, mas alguns tópicos mais urgentes devem entrar na pauta no ano que entra. A Comissão da Verdade, por exemplo, encerrada recentemente, trouxe luz à violência de Estado, algo que ainda repercute em nossa realidade. Alguns especialistas convidados pontuam o que representa para eles esperança em 2015.

Violência sexual contra crianças
Segundo a socióloga Graça Gadelha, coordenadora da área de direitos humanos do Instituto Aliança e especialista em infância e adolescência, é tempo de voltar os olhos à questão da violência sexual contra crianças. Isso significa, diz Graça, ir além de reforços na lei e nas punições. “Nós temos um desafio enorme na cultura brasileira de mudar a coisa do poder do adulto sobre a criança, essa quase naturalização de como se aceita esse ato gravíssimo”, pontua. O caminho passaria por uma mobilização nacional, principalmente em escolas e na família, além do fim da impunidade. “Ainda estamos muito longe de alcançar a ideal responsabilização dos agressores, especialmente quando existem autoridades e gestores envolvidos. Precisamos ter esperança de que isso vá mudar”, torce a especialista.

Violência policial
O Brasil é um dos países onde mais se mata no mundo, especialmente jovens. “Falamos, sobretudo, de jovens negros. Virou um problema de proporções gigantescas no país e vem sendo tratado de maneira superficial”, afirma Pedro Abramovay, especialista em direitos humanos e diretor para a América Latina da Open Society Foundations. “São pessoas invisíveis, o fato de elas estarem morrendo não afeta o dia a dia do país”, continua. Diante disso, ele acredita que é hora de colocar em prática uma campanha para que essa agenda mude no Brasil. O principal alvo são os chamados autos de resistência, que dificultam a apuração de mortes e lesões corporais decorrentes da ação de agentes do Estado. “A minha esperança surge também pelo fato de termos tido a Comissão da Verdade, que mostrou a violência do passado, mas que pode mostrar que isso continua”, diz.

Criminalização da homofobia
Foi um compromisso de campanha da presidente reeleita, Dilma Rousseff. “Ao mesmo tempo, temos um Congresso muito conservador; precisamos ver como será essa flexão, deve haver atrito. Mas, com certeza, é um tema importante da agenda deste ano”, acredita Pedro Abramovay.

Política de drogas
“A gente começa 2015 com cada vez mais lugares apontando para mudanças na política de drogas”, diz Pedro Abramovay, lembrando de países como o Uruguai, que em 2014 passou a permitir o acesso legal à maconha a partir do autocultivo, a fim de diminuir as mortes ligadas ao tráfico, e dos Estados Unidos, onde alguns estados legalizaram a droga. “Aqui, já começa a ser debatido o assunto, ainda com foco no uso medicinal, mas como sinal de que o tema vem aparecendo com muita força”, ressalta.

Em 2015, eu espero que…
Perguntamos para algumas pessoas o que elas têm esperança de que aconteça em 2015


UNICEF/BRZ/Lucia Oliveira
(foto: UNICEF/BRZ/Lucia Oliveira)

O ano de 2014 foi devastador para milhões de meninas e meninos em todo o mundo. Eles sofreram com a violência e o ódio extremos como nunca antes na história recente. Nós, do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), temos esperança que crianças em todo o mundo possam crescer livres da violência. Desejamos que milhões de crianças vítimas de conflitos armados (como na Síria, em Gaza e no Sudão do Sul) possam voltar para suas casas em paz, estudar e ser protegidas e felizes. Nós esperamos que as escolas não sejam mais cenários de violência armada e de ódio, mas um lugar de muita alegria e aprendizado. No Brasil, esperamos ver crianças crescendo em um ambiente protetor e frequentando a escola, aprendendo e com saúde. Que adolescentes, sobretudo negros, não sejam mais assassinados. O Unicef imagina um mundo onde meninos e meninas cresçam e desenvolvam todo o seu potencial, com todos os direitos garantidos. Essa é a nossa esperança. Uma esperança que queremos transformar em realidade com o trabalho realizado no Brasil e em outros 190 países.  - Gary Stahl, representante do Unicef no Brasil

Marcelo Ferreira/CB/D.A Press
(foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

A ciência tem mostrado a importância da esperança na redução da dor e na recuperação das pessoas. Se o indivíduo pensa de forma positiva na sua reabilitação, certamente sente menos dores e tem recuperação mais rápida, ou seja, os neurotransmissores trabalham a favor. Naturalmente, a equipe de saúde não pode alimentar falsas esperanças, ou crenças em resultados impossíveis. Porém, na maioria das doenças é possível melhorar, fazer ganhos e a esperança é a mola propulsora. Ela abre novas perspectivas e dá forças para atingir todas as melhoras possíveis. - Lúcia Willadino Braga, presidene da Rede Sarah


Foram anos de luta. Teve a aprovação no Congresso em 2005 (de uso de células-tronco embrionárias para pesquisa) e, depois, em 2008, no STF. Foram muitas as conquistas, mas tem uma que eu digo desde que fundamos a ONG: é uma pena que o tempo da doença seja tão diferente do tempo da ciência. O meu sonho, minha grande esperança é que esses dois tempos passem a andar juntos. Na prática, a aplicabilidade disso é muito pouco expressiva ainda. É claro que, hoje, a sobrevida é maior, existem novos medicamentos, principalmente se pensarmos que o portador de distrofia muscular tinha uma sobrevida de 20 anos e, hoje, há aqueles com mais de 40 anos. Mas acompanhar os dois lados da coisa é muito difícil. Existe tanta dificuldade, pessoas cobrando por tratamentos inexistentes, coisas que atrasam as pesquisas. É difícil, é devagar. Sei que existem algumas experiência positivas, como a do Reynaldo Gianecchini e que a Lais Souza está fazendo um tratamento, mas, em termos gerais, temos visto poucos avanços. - Andréa Albuquerque é jornalista e psicóloga, portadora de distrofia muscular de membros inferiores e fundadora da ONG Motivae, que ficou ativa entre 2003 e 2011.