Entenda por que passar a noite em claro prejudica a saúde

Distúrbios ligados ao sono têm tratamento tanto no caso da insônia quanto no de males decorrentes de problemas respiratórios

por Zulmira Furbino 25/09/2014 09:00

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No mundo contemporâneo, marcado pelo estresse, excesso de estímulos e de informação, além de doenças respiratórias, dormir bem é um luxo cada vez mais raro. Calcula-se que em alguma fase da vida, no mundo inteiro, entre 30% e 40% das pessoas terão dificuldade de pegar no sono ou de voltar a adormecer depois de acordar no meio da noite. Mas os males de uma madrugada passada em claro não atingem somente os insones. Pessoas com problemas respiratórios, como a ocorrência de pequenas paradas respiratórias durante a noite, a apneia, também sofrem com a falta do sono reparador, embora muitas vezes sem consciência disso.

Beto Novaes/EM/D.A Press
As pessoas que dormem mal vivem menos, têm mais tendência a sofrer infarto, acidentes vasculares cerebrais e diabetes, sem contar que passam por alterações hormonais que prejudicam sua saúde (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
De acordo com o professor de psiquiatria Maurício Viotti Daker, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e especialista em medicina do sono, estatisticamente, as pessoas que dormem mal vivem menos, têm mais tendência a sofrer infarto, acidentes vasculares cerebrais e diabetes, sem contar que passam por alterações hormonais que prejudicam sua saúde. A boa notícia é que os distúrbios do sono têm tratamento, tanto no caso da insônia quanto no de males decorrentes de problemas respiratórios. Uma vez descoberta a origem do problema, ele poderá ser tratado da forma adequada, seja reparando disfunções respiratórias, seja combatendo as causas da insônia.

“A falta de sono interfere na produção de hormônios. Aqueles que são produzidos à noite revigoram o organismo e trazem benefícios para a mente. Quando a pessoa não dorme, tende a ficar ansiosa e sua memória piora”, diz Daker. Em resumo: existe uma razão para que os seres humanos durmam, já que o organismo vive de ritmos. Há o dia e há a noite e se a pessoa não pega no sono ou dorme pouco o organismo perde a sincronia e a orquestra desafina. “Sem o sono reparador, o organismo funciona mal e a pessoa passa o dia mal. Se isso é crônico, como no caso de pessoas que sofrem de apneia, o desgaste para o corpo é terrível”, alerta o psiquiatra.

A professora Maria de Fátima Fernandes Santos faz tratamento contra a depressão há cinco anos porque dorme, mas ronca muito e acorda cansada e irritada. Para investigar os motivos que a levam a se sentir assim, ela acaba de fazer um exame de monitoramento do sono. Resultado: descobriu que sofre de apneia. São 70 paradas respiratórias por hora durante a noite, o que a impede de entrar em sono profundo, embora ela tenha a impressão de ter dormido a noite toda. “Resolvi procurar um especialista porque às vezes não consigo respirar e fiquei preocupada Agora que descobri a razão, estou com esperança de resolver o problema.” Os sintomas da apneia são praticamente iguais aos da depressão: desânimo, mal-estar e irritabilidade. “Como trabalho com crianças, fica tudo muito difícil”, desabafa a professora.

VOLUNTÁRIOS
Pesquisa realizada pelo Instituto do Sono, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), relaciona as noites bem dormidas com uma vida mais longa. O estudo buscou caracterizar o padrão de sono de indivíduos longevos, avaliando voluntários de diversas faixas etárias por meio de exames como polissonografia, actigrafia, análises clínicas e genéticas. Participaram do projeto de pesquisa jovens de 20 a 30 anos, idosos entre 60 e 70, e longevos acima dos 85, incluindo um de 105 anos. Na comparação entre os três grupos, uma das principais constatações é de que há um determinado estágio do sono, o sono profundo, que não varia muito ao longo da vida. Isso indica que ele é essencial para o ser humano, uma vez que regula funções importantes no organismo.

O psiquiatra Dirceu Campos Valladares Neto, que tem especialização em distúrbios do sono nos Estados Unidos, explica que os problemas para dormir também podem ser causados pela obesidade e pelo excesso de estímulos da vida contemporânea. “Quando uma pessoa ganha peso, ela engorda para fora e para dentro. Isso limita a passagem de ar e a leva ao ronco, que pode chegar à apneia. Além disso, quando fica idoso, o ser humano tende a ter a sua musculatura relaxada. É o que ocorre com as mulheres na menopausa. As alergias também tendem a fechar as vias aéreas e tudo fica potencializado na hora de dormir, quando a água do corpo vai em direção à cabeça”, explica.

De acordo com o pneumologista e médico do sono Eliasor Campos Caixeta, as estatíticas mostram que de 80% a 85% da população mundial já sofreu de insônia pelo menos uma vez na vida. “Existe a insônia aguda, que ocorre em períodos de estresse, mas nesses casos o sono volta ao normal com ou sem medicamentos. Quando esse tempo ultrapassa os 30 dias, ela se torna uma insônia crônica e precisa ser tratada”, orienta. Nesse caso, um dos tratamentos que vem dando certo é a terapia congnitivo-comportamental, já que há aqueles que dormem mal porque são ansiosos ou depressivos. “A primeira providência a tomar quando você não consegue dormir é fazer a higiene do sono. Isso significa criar uma rotina, fazer exercícios físicos e não usar a cama para comer, assistir à TV ou trabalhar”, orienta Maurício Daker.


HIGIENE PARA DORMIR
» Dormir apenas o tempo necessário para se sentir descansado

» Criar uma rotina para acordar sempre no mesmo horário, inclusive nos fins de semana

» Evitar cochilos durante o dia

» Praticar exercícios físicos regularmente, mas não faça exercícios quatro horas antes de dormir

» Não ingerir estimulantes como café, Coca-cola, guaraná, chimarrão e alguns tipos de chá

» Usar a cama apenas para dormir ou namorar. Evite trabalhar deitado e até ver televisão na cama