Exposição 'Imagine Brazil' reúne trabalhos de vários mineiros na Noruega

Mostra destaca Pedro Moraleida, com obra exibida pela primeira vez no exterior. Evento começa nesta quinta-feira

por Walter Sebastião 10/10/2013 08:10

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Click Carlão/Divulgação
Da expressiva obra de Pedro Moraleida, morto em 1999, 18 trabalhos foram selecionados pelos curadores para integrar a exposição (foto: Click Carlão/Divulgação)
Será aberta nesta quinta-feira, no Astrup Fearnley Museet, em Oslo (Noruega), a exposição 'Imagine Brazil'. É mostra dedicada à nova geração de artistas contemporâneos brasileiros, assinada por curadores importantes (Gunnar B. Kvaran, Hans Ulrich Obrist e Thierry Raspail) e produzida em colaboração com o Musée d'Art Contemporain, de Lyon (França). Traz grupo grande de autores mineiros radicados no exterior ou que vivem e trabalham em Belo Horizonte. São eles: Marcellvs L., Cinthia Marcelle, Pedro Moraleida, Paulo Nazareth, Rivane Neuenschwander e Sara Ramo, que nasceu na Espanha, mas estudou em BH.

O projeto, segundo texto no site do museu, está voltado para artistas emergentes, pontuando autores com presença no circuito internacional. É a quarta dedicada à produção de um país. Já foram realizadas exposições dos Estados Unidos (2005), China (2007) e Índia (2009).

Entre os destaques da 'Imagine Brazil', a presença de 18 obras (10 pinturas da série 'Deleuze/Corpo sem órgãos' e oito desenhos sobre radiografias) de Pedro Moraleida (1977-1999), que dá à mostra caráter especial, pois sinaliza consideração com a expressiva obra do artista, rica de significados. Moraleida morreu muito jovem e pela primeira vez é apresentado fora do Brasil. Luiz Bernardes, pai do artista, conta que o convite veio a partir de consulta dos curadores a artistas selecionados para a mostra. Cinthia Marcello citou o colega da Escola de Belas-Artes da UFMG. Luiz Bernardes enviou o material e os organizadores escolheram o que será apresentado.

“Para nós, da família, a presença das obras de Pedro na mostra significa reconhecimento da qualidade artística do trabalho e, ao mesmo tempo, grande abertura para a difusão do que ele realizou. É ainda a possibilidade de Pedro ser olhado de maneira nova no Brasil”, observa Luiz Bernardes, lembrando que o evento tem curadoria de pesquisadores importantes, e quer mostrar que a arte brasileira, hoje, é uma das mais importantes do mundo. A exposição tem programa de itinerância. Depois da Noruega, circulará pela França, Dinamarca, Portugal e chegará ao Brasil até 2015.

Catalogação

Herdar grande acervo de arte do filho, reconhece Luiz Bernardes, deixou muitos compromissos para a família. A primeira decisão foi abrir tudo, identificar, catalogar e documentar as peças, procurando sempre a melhor maneira de acondicioná-la. “Só então tivemos uma visão da extensão do trabalho”, recorda. Na dúvida sobre a qualidade do realizado e preocupado em não expor Pedro ao ridículo, foi formado grupo, com vivência no campo da arte, “que confirmou o valor artístico e nos disse que era algo inovador, forte e consistente”. Cuidou-se então de fazer a difusão da arte de Pedro Moraleida, com exposições, catálogos e incentivo ao estudo dela.

Tarefas nada simples, conta Luiz Bernardes, já que os trabalhos têm alto custo. “Deveria haver alguma política pública que apoiasse ações de organização de acervos quando famílias têm diante de si a situação que tivemos. É um trabalho de preservação da memória”, observa. “Belo Horizonte tem efervescência cultural que não encontra espaço institucional. O que se tem aqui é solidariedade. São pessoas lutando, individualmente, contra a corrente”, observa. Exemplifica com projeto interrompido do crítico e artista Márcio Sampaio de formar acervo da arte mineira.

Também na mostra

Integram ainda a exposição Jonathas de Andrade, Arrigo Barnabé, J. Borges, Sofia Borges, Rodrigo Cass, Adriano Costa, Deyson Gilbert, Fernanda Gomes, Milton Machado, Montez Magno, Maria Martins, Thiago Martins de Melo, Rodrigo Matheus, Cildo Meireles, Nimer Pjota, Mayana Redin, Gustavo Speridião, Tunga, Adriana Varejão, Caetano Veloso, Carlos Zilio.

O artista


CLEBER FALIERI/DIVULGAÇÃO
(foto: CLEBER FALIERI/DIVULGAÇÃO)
Pedro Moraleida nasceu, viveu e realizou sua obra em Belo Horizonte. Pintou, desenhou, fez música e escreveu textos reflexivos sobre suas obras. Atividades de voraz leitor de jornais, revistas e livros, e jovem culto (interessava-se por arte, filosofia, ciências sociais e psicanálise). Perfil intelectual que ecoa em seus trabalhos, visceral articulação de elementos pop e eruditos. Morreu em 1999, aos 22 anos, pouco depois de realizar antológica exposição no Centro Cultural da UFMG, ao lado de Frederico Ernesto. A mostra ocupava galpão inteiro, com dezenas de pinturas da dupla, várias monumentais, agrupadas sobre o debochado nome de Condoam-se FDP. Depois da morte dele, a família realizou inventário (ainda incompleto) do que foi considerado núcleo básico da obra, identificando 2 mil trabalhos. Bom conjunto de obras, alguns projetos complexos compostos por várias pinturas, podem ser vistos no site www.cave.cave.nom.br. Está em andamento a criação de um centro cultural, no Bairro Santa Lúcia, com o nome de Pedro Moraleida, que vai abrigar o acervo (mais de 90% estão com a família) e também espaço para mostras temporárias. A previsão é inaugurá-lo em 2014, em evento que lembra os 15 anos de morte do criador.

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