Destaque do FIT-BH há três anos, Daniele Finzi Pasca surpreende o mundo com 'La veritá'

A montagem exibe painel criado por Salvador Dalí em 1944 para balé norte-americano

por Carolina Braga 13/05/2013 08:03

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Andrea Lopes/divulgação
(foto: Andrea Lopes/divulgação)
Há quem garanta que ela tem um laço mais estreito com o teatro. Para outros, 'La veritá', a nova criação do diretor de 'Donka, uma carta a Chekhov', está mais próxima do universo circense. Justamente a dúvida de ficar no meio do caminho seduz o suíço Daniele Finzi Pasca e encanta plateias do Canadá e, recentemente, do Uruguai. O espetáculo, que chega ao Palácio das Artes em 5 de julho, flerta também com as artes plásticas.

Com direito a tela original de Salvador Dalí em cena, 'La veritá' surgiu da necessidade de discutir o que é verdade no palco. Para isso recorre ao teatro essencialmente acrobático. Em meio a esse processo, uma fundação (cujo nome não é divulgado) ofereceu à Cia. Finzi Pasca a versão do pintor surrealista para a tragédia de Tristão e Isolda, protagonistas da ópera de Richard Wagner. Datado de 1940, o painel foi encomendado ao catalão como cenário de um balé do Metropolitan Opera de Nova York.

“Eles haviam acabado de restaurá-lo e achavam mais interessante colocá-lo novamente no teatro, e não no museu. Essa obra foi criada para ter um certo tipo de relação com o público, com perspectiva diferente”, explica Daniele Pasca. Foi assim que o painel gigante – de 15 metros de largura por 9 metros de altura – tornou-se um personagem da peça.

Quem conhece a linguagem da companhia e viu 'Donka'... na abertura do Festival Internacional de Teatro Palco e Rua de Belo Horizonte (FIT-BH) em 2010 pode trocar o registro. Ainda que mantenha características da assinatura de Finzi Pasca, 'La veritá' é completamente diferente. O espetáculo não conta a vida de Dalí nem faz reflexões sobre o mito originado na Idade Média, diferentemente do trabalho anterior, conduzido pelas palavras do dramaturgo russo Antón Chekhov.

A nova peça – que alguns chamam de show – mistura universos do circo, do teatro, da dança e da arte do palhaço sem a pretensão de oferecer algo “fechado”. É abstrato, assim como o surrealismo.

Andrea Lopes/divulgação
Circo, teatro e dança se juntam às artes plásticas no novo espetáculo da Cia. Finzi Pasca (foto: Andrea Lopes/divulgação)
SONHOS
Filho, neto e bisneto de fotógrafos, Finzi Pasca é encenador extremamente visual. À medida que lida com o surrealismo, convida o espectador – ainda que indiretamente – a entrar em um mundo de sonhos carregado de signos. Para isso, usa vídeos, sombras, sons e técnicas acrobáticas.

“O surrealismo tem essa coisa estranha de superposição de planos. A possibilidade de mesclar isso à linguagem acrobática e teatral encaixou muito bem”, diz Daniele. 'La veritá' é muito mais imagético que textual. Números acrobáticos se alternam com interferências de palhaços – os mestres de cerimônia e mediadores diretos da relação do público com a obra de Salvador Dalí.

A temporada brasileira do espetáculo começa em 5 de junho, em Porto Alegre, e passa por Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro. Belo Horizonte assistirá a cinco apresentações, que estarão em cartaz no Palácio das Artes.

* A repórter viajou a convite da produção


WORKAHOLIC
Além de viajar pelo Brasil com o espetáculo de sua companhia, Daniele Finzi Pasca tem outro trabalho internacional em cartaz no país. Ele é o diretor de 'Corteo', a nova montagem do Cirque du Soleil. Atualmente apresentado em São Paulo, o espetáculo deve chegar a BH no segundo semestre. A data da temporada mineira ainda não está definida.


SAIBA MAIS
reprodução
(foto: reprodução)
Tristão e Isolda

O painel 'Tristan and Isolde' foi criado em 1944 como cenário do balé 'Tristan fou', do Metropolitan Opera de Nova York. Surgiu da colaboração do pintor Salvador Dalí com o coreógrafo Leonide Massine. Considerada perdida por 60 anos, a pintura retrata os personagens da ópera de Wagner. Dalí desenhou também o cenário e os figurinos de 'Tristan fou'.


LA VERITÁ
De 5 a 7 de julho. Palácio das Artes. Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3236-7400. Plateia 1: R$ 250 (inteira) e R$ 125 (meia). Plateia 2: R$ 170 (inteira) e R$ 85 (meia). Plateia superior: R$ 135 (inteira) e R$ 67,50 (meia). Ingressos à venda na bilheteria do teatro ou no site www.ingresso.com.br.

 

 

A palhaça brasileira


Há 20 anos envolvida em projetos de Daniele Finzi Pasca, a atriz e diretora Beatriz Sayad é figura essencial em 'La veritá'. Uma das 12 artistas em cena, a palhaça brasileira ajuda a construir a relação do público com o painel de Salvador Dalí.

“Daniel diz que palhaço é o ator especializado em proscênio. Então, a gente fica ali no tête-à-tête com a plateia”, conta ela. Marcas registradas da Cia. Finzi Pasca são o elenco multicultural e a versatilidade de quem pisa no palco. Em cena há intérpretes de vários países, entre eles Brasil, Canadá, Argentina, Uruguai e França.

O espetáculo foi criado na Suíça e no Canadá sob ritmo intenso de trabalho, com nove horas diárias de ensaio. Cinco meses depois da estreia, em Montreal, Daniele ainda lapida as cenas todos os dias. Cerca de cinco horas antes da sessão, o diretor conversa rapidamente com o grupo para acertar detalhes.

“Parece que você está entrando no parque de diversões. Ele te coloca no mundo. Diz assim: ‘Daniele, não trabalhe muito com a palavra’ e cria situações de treinamento, de jogo. Pasca é superalquimista. Às vezes, as coisas estão meio mortas e ele coloca um elemento que vira ouro”, revela a atriz.

A imersão do grupo e do diretor na obra de Salvador Dalí envolveu pesquisa, mas também apropriações pessoais daquele universo. “Ele cria momentos de beleza e gosta de romper, como no caso dos palhaços. Gosta de trabalhar no limite do riso e da lágrima. O grotesco e o lírico convivem na cena”, conclui Beatriz Sayad.

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